Geison Guedes - Especial para o Correio
postado em 28/08/2016 11:47
A casa onde Milena Barbosa Gama, 33 anos, depositou sonhos e criou as duas filhas era a mais segura da rua, com muros altos e cerca ao redor. Mesmo assim, não impediu a ação covarde de um criminoso. A coordenadora pedagógica estava em casa, na Quadra 56 do Jardim Pérola 2, em Águas Lindas (GO), com um amigo de trabalho quando foram surpreendidos e assassinados. Eles tiveram os corpos arrastados para dentro de um carro estacionado na garagem da casa ; identificado como sendo do irmão do amigo de Milena ;, e queimados. O crime aconteceu entre 2h e 4h da manhã e ainda não há suspeitos.
A Polícia Civil de Goiás (PCGO) investiga o duplo assassinato. De acordo com informações preliminares da PCGO, pelo estado em que os corpos foram encontrados, sequer é possível afirmar as causas da morte. O Instituto de Medicina Legal (IML) de Luziânia fará a perícia para identificar se as vítimas foram, por exemplo, atingidas com golpes de faca ou disparos de arma de fogo antes de serem queimadas. Na casa de Milena, a cena deixada é de horror, relatou ao Correio um dos irmãos dela, o assistente de auditoria Leandro Barbosa Gama, 32. Segundo o rapaz, havia muito sangue. ;Ele matou e ainda escreveu a palavra ;traição; na parede da cozinha. Que mundo cruel;, lamentou.
Leandro desconfia que o ex-cunhado possa estar envolvido com o crime. Segundo os familiares, Milena não tinha inimigos e era uma pessoa muito alegre. Contaram, no entanto, que ela estava separada desde março do marido, um policial militar do DF reformado, em razão de agressões sofridas durante o relacionamento. O irmão conta que ela fez ocorrência na polícia depois de sofrer diversos ataques e ameaças e que estava, desde maio deste ano, atendida por uma medida protetiva. ;Ele sempre foi violento, muito ciumento. Nos últimos anos, tentaram se afastar, mas voltaram. Em março, ela não deixou mais ele entrar em casa;, contou. Depois disso, as ameaças teriam piorado. ;Ameaçou meu outro irmão, minha mãe, as próprias filhas. E ela estava começando um relacionamento. Iam se encontrar mesmo ontem (sábado). E o que vimos foi um horror;, relatou.
Em 19 de maio, o Tribunal de Justiça de Goiás acatou denúncia movida pelo Ministério Público do estado que pedia a prisão preventiva do ex-marido da vítima. O processo traz a informação de que ele havia sido preso em flagrante, em 8 de março, por violência doméstica, mas foi solto após pagamento de fiança. No texto, consta ainda que, no dia em que foi solto, o ex-companheiro ameaçou novamente Milena. ;Após ter saído de casa, o denunciado continua importunando a vítima e ameaçando-a de morte;, diz trecho do processo do TJGO.
De acordo com a 1; Delegacia de Polícia de Águas Lindas, agentes estão na rua em busca de informações que possam levar ao autor do crime. ;Estamos atrás do suspeito, mas ainda não podemos confirmar que o culpado seja o ex-marido. Os corpos foram carbonizados, precisamos saber, inclusive, como foram mortos;, afirmou o delegado Renato Sampaio Cavalheiro.
Luto
A escola municipal Emília Ferreira de Souza, onde as duas vítimas trabalhavam, fica a menos de 1 km da casa onde ocorreu o crime. Milena era coordenadora pedagógica e o colega, professor na unidade de ensino. Familiares dele foram até o local e reconheceram o carro como sendo do irmão. Uma calça jeans também foi encontrada e seria a mesma usada pelo docente. A reportagem não conseguiu contato com a família do docente. Uma faixa preta em luto foi colada no portão principal da escola.
;Ela era uma pessoa muito alegre, mesmo diante do que sofria em casa. Foi uma covardia. Não deu nenhuma chance de defesa. A nossa família vivia com medo de ele (o ex-marido) fazer algo com ela;, declarou a tia de Milena, a servidora pública Gisa Maria Gama, 48 anos. ;As brigas sempre aconteciam. Foram várias separações e essa foi a última. Eu espero que ele seja preso, porque ele não só matou a Milena, ele destruiu a vida das próprias filhas. Elas vão precisar de acompanhamento, porque ficaram sem mãe;, completou. Milena deixa duas filhas, de 15 e de 12 anos. As meninas não estavam em casa na hora do crime.