Cidades

Conheça Maria Régia, apresentadora de programa que ajuda a causa feminista

Há 35 anos, ela é a voz de centenas de mulheres. Precursora da causa feminista, Mara Régia mantém programa de rádio que ajuda no empoderamento de brasilienses em busca de seus direitos

postado em 31/08/2016 06:03

Quando criança, Mara Régia foi vítima de abuso doméstico. Há mais de três décadas, ela influencia mulheres, como Janaína Michalski


Hide Park, Londres, 1976. Cinco anos antes de se tornar a voz que representa milhares de Marias por todo o Brasil, a apresentadora Mara Régia tinha seu primeiro contato direto com o movimento feminista. Em uma passeata na cidade inglesa, centenas de mulheres gritavam em uníssono: ;Não à Igreja. Não ao Estado. As mulheres devem decidir o seu destino;. A brasileira, vivendo uma liberdade que, à época, muitos conterrâneos não tinham acesso no próprio país, finalmente pôde entender sua história sob um viés que ia além da experiência pessoal. ;Eu havia introjetado essas questões de cidadania e direito da mulher por ter vivido violência doméstica em casa. Mas nunca havia pensado nisso, até ali, em uma dimensão cidadã, enquanto movimento social;, lembra.

Entretanto, a gênese do Viva Maria, programa de rádio comandado por ela e que completa 35 anos em 14 de setembro, surgiu ainda na infância da jornalista. Mara é uma carioca de ;suburbano coração;. Nascida em 1951, foi criada em uma comunidade que viu nascer blocos, como o Cacique de Ramos, e a celebrada escola de samba Imperatriz Leopoldinense. ;Minha mãe foi uma mulher à frente do seu tempo. Fez concurso público, formou-se em professora, deu aula ; única na família que conseguiu essa proeza. Esse protagonismo causou muitos dilemas familiares. Entre eles, o mais grave foi a violência doméstica. Mara foi criada por um pai misógino, e o desprezo dele pelo sexo feminino não só a afetou ; ;Ele sempre dizia que havia me achado em uma lata de lixo; ;, como também violou a mãe, Yollanda.

;Meu pai tinha uma formação machista, como todos os homens de sua época. Eu tinha uns 8 anos e jurei que, quando crescesse, faria algo para que as mulheres não apanhassem como a minha mãe apanhava;, lembra. A separação dos pais, quando tinha 15 anos, foi outro momento decisivo para que Mara construísse sua personalidade feminista. A radialista se viu livre da opressão que vivia no próprio lar, começou a reconstruir a autoestima e pôde olhar com mais atenção as mulheres que a rodeavam. ;O que nos salva é a resiliência. Como tinha alguns talentos, inclusive para a alegria, usei minha vocação teatral, encarnando o protagonista em várias peças, fazendo minhas fantasias e me transportando para uma outra dimensão, na qual não tinha um pai que queria me matar;, recorda, sem dramas.

A descoberta do lado artístico foi decisiva para os caminhos que a levaram até o Viva Maria. A experiência britânica foi possível quando acompanhou o ex-marido à Europa. Trabalhando na embaixada brasileira na Inglaterra, ela teve contato com a arte em várias formas: no surrealismo de Salvador Dalí, no expressionismo cinematográfico alemão, na psicodelia musical do Pink Floyd e na presença de palco de Freddie Mercury. ;Na volta ao Brasil, paramos em Brasília porque ele havia recebido uma proposta de emprego. Eu vim a reboque e, depois de um tempo em São Paulo, comecei a estudar jornalismo aqui.;

Sua experiência no rádio começou ao assumir um cargo na Rádio Nacional da Amazônia: ali, ela teve contato com o Brasil profundo e foi quando, finalmente, pôde conciliar todo o seu conhecimento acadêmico sobre as questões femininas com aquelas mulheres mais prejudicadas pelo machismo, por viveram em regiões onde quase nada chegava. ;Os milicos estavam apavorados com a possibilidade de não se falar o português naquela região, por conta de rádios cubanas que chegavam com tudo. Entrei como produtora-executiva e sofri com o poder vigente. Mas descobri a Amazônia pelo mundo das cartas: até pepitas de ouro eram enviadas para os locutores mais famosos;, conta.

Referência

De lá, o Viva Maria finalmente tomou forma. De volta a Brasília, recebeu a proposta de um programa vespertino e fez a jogada: ele teria de ser direcionado às mulheres. ;Na época, eu tinha a leitura de que a locução brasiliense era povoada pelas vozes masculinas. Então, o programa tinha que ser Maria Maria, tinha que ser uma força que nos alerta. E foi quando se tornou Viva Maria.; A partir daí, sua voz tornou-se guia. Marias de todas as idades e de todos os nomes começaram a ter, naquelas horas em que Mara Régia falava, um porto diante das inseguranças que as afligiam. ;A profecia que fiz quando era criança se cumpriu. O programa se tornou uma referência.;

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