Renato Alves
postado em 01/09/2016 16:17
Dilma Rousseff começou o discurso pós-impeachment atacando os ;corruptos do novo governo;. Ela falou com razão. Só não lembrou que parte deles é egressa de seu governo e dos governos de Luiz Inácio Lula da Silva. A agora ex-presidente e seus defensores falam de Michel Temer e de outros peemedebistas como se nunca os tivessem como aliados, como se não os levassem ao comando do país em uma aliança que visava à manutenção do poder, do projeto Lulopetista.Dilma também tem razão ao afirmar que seu governo foi ;interrompido por uma poderosa força conservadora e reacionária;. No entanto, mais uma vez, omitiu que muitos conservadores e reacionários lhe deram votos, o poder da caneta e até a amizade. Gente como a ruralista Kátia Abreu, que se tornou sua amiga íntima, confidente, e a defendeu até o último segundo do seu governo, após passar 8 anos atacando Lula, petistas, comunistas e os movimentos sociais.
A ex-presidente, como desde o início do processo do impeachment, evocou o golpe, em sua despedida. Realmente, o governo dela foi golpeado. E ninguém o fez mais do que o seu partido. O PT nunca poupou críticas públicas às políticas de Dilma. Agiu para emplacar Lula como candidato à Presidência, em 2014. Sem sucesso, agiu nos bastidores para desqualificar e derrubar ministros dilmistas.
Os mesmos petistas que hoje idolatram José Eduardo Cardozo são aqueles que o massacraram por deixar a Polícia Federal trabalhar à vontade. Petistas que inúmeras vezes pediram a cabeça do então ministro da Justiça, até ele ser substituído por Lula em uma vergonhosa manobra, em mais um triste capítulo daquele que pode ser considerado uma das últimas lideranças políticas da América Latina.
Os petistas que saem em defesa da democracia também são aqueles que pediram o impeachment de todos os presidentes não petistas pós-ditadura, com base nos mais estapafúrdios argumentos. Os mesmos que derrubaram Collor, o demonizaram e, até o impeachment de Dilma, o tinham como aliado.
Os que agora bradam por justiça, contra os corruptos do novo governo, são os mesmos que se calaram diante da aliança com figuras como Paulo Maluf e dos crimes cometidos por companheiros no mensalão, na Petrobras e em outras estatais. Aliás, negaram tais crimes até se depararem com as provas inequívocas e caírem no ridículo.
E, no último capítulo dessa história, da qual alguns ainda tentam posar como vítimas, apostando em uma saída honrosa, sem querer enxergar seus erros, sem fazer uma mea-culpa, uma autocrítica, lideranças petistas recorreram a peemedebistas para criar uma situação bizarra na política brasileira e beneficiar Dilma Rousseff.
Por meio de uma manobra de Renan Calheiros, ícone da velha política, o Senado, sob o comando do presidente do STF, inventou o impeachment com jeitinho ao manter os direitos políticos da ex-presidente. Abriu caminho para salvar Eduardo Cunha e os demais parlamentares investigados pela Polícia Federal. Deu condições para a impunidade, o fim da Lava-Jato.