Nathália Cardim
postado em 02/09/2016 06:00
;Prometo que, ao exercer a arte de curar, mostrar-me-ei sempre fiel aos preceitos da honestidade, da caridade e da ciência;, diz o início do Juramento de Hipócrates, usado pelos médicos formados no Distrito Federal. Preceito supostamente desrespeitado por sete profissionais presos durante a primeira etapa da Operação Mister Hyde. Contrariando o princípio da confiança vital por parte dos pacientes, eles, empresários e funcionários de hospitais são investigados de enriquecer por meio de cirurgias desnecessárias, superfaturamento de equipamentos, troca fraudulenta de próteses e uso de material vencido em pacientes ; e até a tentativa de homicídio.
A Polícia Civil e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) organizaram a ação para desarticular a quadrilha formada pelos profissionais e por fornecedores de órteses, próteses e materiais especiais. Durante a operação comandada pela Delegacia de Combate ao Crime Organizado (Deco), 12 pessoas acabaram presas e cerca de R$ 500 mil em dinheiro foram apreendidos. Entre os investigados, estão o coordenador de cirurgia de cabeça e pescoço da Secretaria de Saúde, Rondinelly Rosa Ribeiro, e o legista Marco de Agassiz Almeida Vasques.
Os outros acusados são funcionários do hospital Home, de outras três clínicas e da empresa que é apontada pela polícia e pelo Ministério Público por administrar o esquema, a TM Medical. Além disso, foram cumpridos 22 mandados de busca e apreensão e quatro conduções coercitivas em diferentes regiões do DF. De acordo com o titular da Deco, Luiz Henrique Dourado Sampaio, estima-se que cerca de 60 pacientes se tornaram vítimas somente em 2016. O esquema movimentou milhões de reais em cirurgias, equipamentos e propinas. As recompensas eram pagas em dinheiro e ;mimos;, como viagens.
;Tudo começa com a identificação de um paciente pelo grupo criminoso. A vítima é vista como um ;projeto econômico;, ou seja, uma forma de ganhar dinheiro. Essa pessoa é direcionada ao hospital. É feito o contato com a empresa que vende as próteses e órteses. O médico alinha com essa empresa o material que deve ser incluído naquela cirurgia;, explicou Sampaio.
Participantes do esquema teriam até tentado um homicídio. A apuração começou no início no ano passado, quando um instrumentador cirúrgico contou o procedimento na internet. Em março deste ano, segundo a polícia, o grupo tentou matar um paciente que ameaçava denunciar a quadrilha, deixando um arame de 50cm na jugular dele. A investigação aponta que os crimes ocorriam em hospitais privados, mas a possibilidade de fraudes na rede pública não está descartada.
Alvos
A operação mobilizou 240 policiais civis, entre delegados e agentes. Houve também o acompanhamento de membros do Ministério Público, 21 promotores e 21 agentes de segurança do MP. Foram cumpridos mandados de prisão temporária contra os médicos Marco de Agassiz Almeida Vasques, Henry Greidinger Campos, Rogério Gomes Damasceno (dono de uma clínica no Setor Hospitalar Sul e apontado como um dos líderes), Juliano Almeida e Silva Wenner Costa Catanhêde e Leandro Pretto Flores.
Outros alvos da operação foram o médico Antônio Márcio Catingueiro Cruz e o médico-cirurgião John Wesley, da TM Medical. A empresa fornece equipamentos hospitalares. O sócio dele, o empresário Micael Bezerra, também acabou preso.
Em nota, o Hospital Home informou que os médicos-cirurgiões citados na operação não fazem parte do corpo clínico da unidade. ;Apenas operam, eventualmente, nas dependências, já que são habilitados pelo CRM (Conselho Regional de Medicina) e obtiveram autorizações dos planos de saúde (para fazer os procedimentos);. A instituição afirmou que o diretor-técnico do hospital prestará esclarecimentos e colaborará com as investigações.
Os envolvidos responderão na Justiça pelos crimes de organização criminosa, crimes contra a saúde pública e estelionato. As investigações prosseguem para apurar crimes de lavagem de dinheiro. ;Esperamos, em poucos dias, ofertar a denúncia e tomar outras providências, como comunicar ao Conselho Regional de Medicina para que faça o acompanhamento e, até mesmo, os afaste do quadro de profissionais;, concluiu o promotor Maurício Miranda.
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