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Conheça detalhes sobre o depoimento de Liliane Roriz na CPI da Saúde

Correio tem acesso à íntegra da conversa da deputada distrital com o Ministério Público, na qual ela nega qualquer envolvimento com a UTIgate e atribui ao parlamentar Júlio César o comando do remanejamento de emendas

Helena Mader
postado em 02/09/2016 06:05 / atualizado em 19/10/2020 18:09
Uma vez que sua família foi (...) acusada de participar de esquemas de corrupção, quer atuar no sentido de limpar o nome de sua família%u201D Liliane Roriz, em depoimento ao Ministério Público 
 
Em depoimentos ao Ministério Público do Distrito Federal, a deputada Liliane Roriz (PTB) e o ex-secretário-executivo da vice-presidência da Câmara Legislativa José Adenauer, ligado à parlamentar, atribuíram ao distrital Júlio César (PRB) a responsabilidade pelo remanejamento dos restos orçamentários da Casa, que culminaram com a Operação Drácon. O Correio teve acesso à íntegra do inquérito que investiga a atuação dos deputados na suposta cobrança de propina para a liberação de recursos para UTIs. No documento, há cópias dos depoimentos prestados por outras pessoas, como o empresário Afonso Assad e o ex-diretor do Fundo de Saúde do DF Ricardo Cardoso. Júlio César nega a responsabilidade pela emenda. “Tal informação não corresponde à verdade. Trata-se de um jogo político que será desmascarado nos autos da investigação”, declarou.

Em 22 de julho, cerca de um mês antes de o escândalo vir à tona, a deputada Liliane Roriz prestou depoimento no Ministério Público sobre o caso das UTIs. Ela declarou na ocasião que nunca fez parte “de qualquer esquema” e garantiu que, por esse motivo, sempre ficou isolada na Câmara Legislativa. Liliane declarou aos promotores, procuradores e defensores que participaram do depoimento que está “indignada com as coisas que presencia na política”. Segundo ela, como a família Roriz “foi muito perseguida pelo Ministério Público e acusada de participar de esquemas de corrupção, quer atuar no sentido de limpar o nome da família”. Liliane afirmou ainda que, se abandonar a vida política, “quer sair com a cabeça erguida”.

No relato, a parlamentar relembrou que, em março de 2015, o governador Rodrigo Rollemberg procurou a Câmara Legislativa para sugerir que os deputados distritais destinassem as emendas individuais para áreas carentes de recursos. Na ocasião, a Casa repassou R$ 350 milhões em emendas para a saúde. Segundo Liliane, o bloco do qual fazia parte participou do acerto com a destinação de R$ 27 milhões para a compra de aparelhos de imagem digital para a rede pública. A deputada reclamou no MP pelo fato de o GDF não ter destinado esse montante à finalidade pretendida pelos colegas. Disse ainda “que mais tarde ficou sabendo que os equipamentos de imagem da rede não são digitais e que sua utilização envolve gastos com a revelação, cujos filmes têm valor cotado em dólar, e que possivelmente isso explicaria o interesse de não se renovar os equipamentos para a tecnologia digital”. Liliane justificou que, por conta desse episódio, decidiu não repassar mais recursos para a saúde, se não tivesse certeza de que a destinação original seria seguida.

Mesinha
Na sequência, Liliane Roriz passou a relatar o episódio que terminou com o escândalo do UTIgate. Ela explicou como funciona a chamada Mesinha, que é composta pelos secretários executivos, indicados pelos deputados que integram a Mesa Diretora. Liliane afirmou que seu indicado na Mesinha, José Adenauer, foi procurado pelo assessor do deputado Júlio César no início de dezembro de 2015. O servidor ligado ao parlamentar do PRB teria questionado Adenauer sobre a destinação das sobras orçamentárias daquele ano. O funcionário de Liliane enviou, então, uma mensagem ao servidor de Júlio César explicando o processo. Esse texto foi entregue ao Ministério Público.

Na mensagem, Adenauer explicou que, todos os anos, a Câmara faz um levantamento das eventuais sobras orçamentárias para repassá-las ao GDF. Essa verificação é feita pela Diretoria de Administração e Finanças, vinculada à 2ª Secretaria, então sob o comando de Júlio César. “Eles tinham levantado, inicialmente, uma sobra de R$ 24 milhões, que seria alocada ao GDF na área de pessoal. Aí, o Júlio César, com o Afonso da Abrasco, definiu que esses recursos seriam destinados para a manutenção de escolas. E assim, a emenda foi feita e assinada pelos membros da mesa”, disse Adenauer na mensagem de texto. “Depois, o Valério e o camundongo definiram, sem a participação da vice, que não seriam mais R$ 24 milhões, mas R$ 31 milhões, e seriam alocados para as dívidas de 2014 da UTI”, diz outro trecho da mensagem.

Indignação
No depoimento, Liliane disse que soube da mudança no dia da votação e que ficou indignada com a alteração, o que a fez gravar a conversa que teria na sequência com Celina Leão. No bate-papo registrado em áudio por Liliane, a então presidente da Câmara disse à colega que “avisou aos meninos” que a parlamentar do PTB “estava no projeto”. Ao mencionar “os meninos”, Celina fazia referência aos integrantes da Mesa Diretora e a Cristiano Araújo. Liliane afirmou aos representantes do MP que, durante a conversa com Valério Neves, então secretário-geral da Câmara, “resolveu motivar o senhor Valério a acreditar que estava fazendo parte do esquema”.

Mudanças de emendas
Em 18 de agosto, Liliane prestou um novo depoimento ao Ministério Público. Ela voltou a afirmar que a polêmica emenda seria de autoria da 2ª Secretaria, comandada por Júlio César. Nessa oitiva, Liliane declarou ao MP “que não sabe qual a participação de Valério (Neves) nas negociações, mas pode dizer que ele é ligado à deputada Celina Leão”. A deputada disse ainda não ter conhecimento sobre como foi feita a suposta distribuição de propina entre os deputados e garantiu não ter recebido nada. Liliane explicou ao MP que não tem e-mails, mensagens de SMS ou de WhatsApp sobre o caso.

José Adenauer também prestou depoimento no Ministério Público. Ele contou que trabalha na Câmara Legislativa desde a criação da instituição e que atuou com parlamentares como Aroldo Satake, Carlos Xavier e Eliana Pedrosa, antes de chegar ao gabinete de Liliane Roriz. Segundo ele, entre novembro e dezembro de 2015, o diretor de Administração e Finanças da Câmara, Genésio Vicente, fez um levantamento das sobras orçamentárias. Adenauer relatou ao MP que, entre 7 e 9 de dezembro, foi chamado por Genésio. 

Pedido 
O diretor disse, na ocasião, que havia determinado que o chefe de Elaboração Orçamentária, Glauco Azevedo, fizesse a emenda, destinando R$ 24 milhões para a manutenção de escolas e “que isso se deu, segundo Genésio, a pedido do deputado Júlio César, ao qual Genésio é vinculado”. Adenauer relatou ao MP que, pouco depois, teria recebido um telefonema de Valério Neves, afirmando que havia um novo acordo aumentando o valor de R$ 24 milhões para R$ 31 milhões e mudando a destinação para as UTIs.

Adenauer contou ao MP que era grande o interesse do deputado Cristiano Araújo nas alterações. “Pelo que o depoente pôde perceber, o deputado que demonstrou maior interesse para essa nova composição de alocação de recursos de sobra orçamentária para o pagamento de UTI foi o deputado Cristiano Araújo”. José Adenauer relatou ainda estranhamento sobre o fato de, na primeira nota de empenho publicada no Diário Oficial do DF, não ter sido incluído o nome da empresa Intesicare. Posteriormente, houve uma retificação para a inclusão da firma.

Entenda o caso
 
Intimidades reveladas
As denúncias sobre um suposto esquema de cobrança de propina para a liberação de dinheiro para empresas de UTIs surgiram há cerca de um mês. A deputada distrital Liliane Roriz (PTB) gravou conversas com a presidente da Câmara Legislativa, Celina Leão (PPS), nas quais a chefe do Legislativo teria tratado sobre os recursos para a saúde. Celina e um grupo de distritais da Mesa Diretora teriam exigido dinheiro de empresários para liberar R$ 30 milhões para o pagamento de dívidas de hospitais.
 
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