Cidades

Perícia vê exclusão de 54 mil arquivos de computadores da CLDF

Relatório da Coordenadoria de Modernização e Informática (CMI) da Câmara Legislativa identificou que os registros de computadores foram deletados no login de três funcionários da Vice-Presidência, um deles já exonerado

Isa Stacciarini
postado em 03/09/2016 08:03
Indícios de sumiço de provas do esquema de propina envolvendo deputados distritais motivaram promotores e policiais a desencadearem a segunda fase da Operação Drácon. Agora, o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) e a Delegacia Especial de Repressão aos Crimes contra a Administração Pública (Decap) querem saber quem apagou os arquivos da Câmara Legislativa e por qual motivo. Desta vez, os investigadores cumpriram mandados de busca e apreensão na Vice-Presidência da Casa, antes ocupada por Liliane Roriz (PTB), responsável pelas denúncias.

Perícia da Coordenadoria de Modernização e Informática (CMI) do Legislativo local revela a exclusão de pelo menos 54,2 mil arquivos de computadores do gabinete da distrital entre 17 e 22 de agosto. A data inicial corresponde à entrega dos áudios gravados pela caçula do ex-governador Joaquim Roriz, e a final, a momentos prévios à deflagração da primeira etapa da Operação Drácon.

O relatório da CMI destaca três funcionários suspeitos. Um deles é a ex-servidora da Vice-Presidência Lucia Maria di Lorenzo, exonerada em 22 de agosto. No login dela, há 47.436 registros apagados. Os outros dois são do mesmo gabinete: Leonardo de Castro Vieira, com 6.497 arquivos deletados, e Angelica Veras dos Anjos, com 175. O ex-secretário executivo da Vice-Presidência José Adenauer também fez exclusões, segundo o documento.

Após pedido de restauração, recuperaram-se arquivos destruídos entre 13 e 18 de agosto. Novos ou alterados em 19 de agosto não foram salvos, porque, nessa data, a exclusão mostrou-se massiva. Em nota, a assessoria de Comunicação de Liliane informou que o próprio ex-chefe de gabinete solicitou a instauração da auditoria e disse que ela só se manifestará após a conclusão das investigações.

Na manhã de ontem, promotores e policiais civis fizeram diligências nos gabinetes dos ex-integrantes da Mesa Diretora ; Celina Leão (PPS), Raimundo Ribeiro (PSDB), Julio César (PRB) e Bispo Renato Andrade (PR) ;, além do local de trabalho de Cristiano Araújo (PSD). Os mandados cumpridos revelam que, na prática, Celina não deixou o gabinete da Presidência. Uma foto a qual o Correio teve acesso mostra roupas, maquiagem e até a escova de dente da deputada no local. Foi alvo também o computador do servidor responsável pela digitação da Emenda 8 ao PL 811/2015, que transferiu R$ 30 milhões para o pagamento de débitos passados de UTIs (leia Entenda o caso).

Os investigadores apreenderam, ainda, computadores e documentos. Aproximadamente três terabytes de imagens estão sendo analisadas. Participaram da medida de busca e apreensão seis promotores de Justiça e 38 policiais. O promotor Clayton Germano confirmou que os responsáveis por deletar os arquivos podem ser detidos. ;Qualquer elemento de prova que alguém se sinta na audácia de subtrair está sujeito a ser preso. Mas acreditamos que a prisão é um momento traumático. A medida de busca e apreensão é razoável e proporcional. Falar em prisão é muito precoce;, ponderou.

Clayton explicou que, na primeira fase, equipes fizeram buscas e apreensões a partir das informações de Liliane. ;Agora (na Vice-Presidência), como se tem a notícia do apagamento (de arquivos), a gente precisa constatar. Por isso, a necessidade de fazer a investigação in loco;, esclareceu. O promotor destacou que a análise do material apreendido na segunda etapa revelará se o afastamento dos parlamentares da Mesa Diretora se mostrou suficiente.

O titular da Decap, delegado Alexandre Linhares, alertou que a investigação requer sensibilidade. ;Existe uma linha tênue entre a legalidade e o que aparenta ser legal. As pessoas que estão sendo investigadas têm peculiaridades de distinguir bem isso;, explicou.

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