postado em 05/09/2016 06:00
Até 1; de setembro de 2016, Edilson Lopes Galvão nunca havia ficado sem emprego. Aos 55 anos de idade, o barman passou quase quatro décadas como funcionário do célebre Piantella, um dos mais icônicos pontos gastronômicos que Brasília já teve. Ao fechar as portas no último dia 31 de agosto, o restaurante não deixou apenas os comensais desolados. Para empregados como Maninho, como era chamado por quem estava à frente do balcão, esse ocaso traz uma exigência: é preciso iniciar uma nova fase. ;É uma pena. A gente já ouvia histórias, mas nunca pensei que seria algo tão rápido. Chegamos normalmente para trabalhar e recebemos o aviso de que ele fecharia.;
Ainda se recuperando do choque, ele começa a recordar os bons momentos em que passou servindo, principalmente, os mais famosos nomes da política brasileira. ;Todos os presidentes passaram por aqui. Servi a Dilma, quando ela ainda era ministra, e o Temer pelo menos umas 10 vezes;, recorda-se, citando os dois nomes mais falados do Brasil nos últimos meses. Contudo, a relação de Maninho com as mesas daquele salão na 202 Sul vai bem além das tramas governamentais. ;São 38 anos. Isso é mais tempo que você tem de vida. Cheguei aqui em Brasília com 17 anos e, no meu primeiro dia, comecei trabalhando lá.;
Maninho participou até mesmo das reformas que o restaurante fez para ampliar o tamanho. ;Fui arquiteto, engenheiro, decorador. Fui tudo lá dentro;, brinca. Começou como copeiro ; ;Era a única coisa que conseguia fazer, porque não sabia quase nada; ;, passou para cumim (ajudante de garçom), tornou-se garçom e, quando perceberam que ele entendia de todas as bebidas que eram servidas no bar, foi alçado ao cargo de barman, de onde saiu agora. ;Fiz vários cursos para aprender a montar os drinques. O trabalho até inspirou meu filho. Hoje, ele é sommelier;, fala, orgulhoso.
O fechamento definitivo do Piantella deixou a gastronomia brasiliense em polvorosa. À boca pequena, as dívidas milionárias do estabelecimento já eram conhecidas, mas nenhum dos funcionários esperava que a decisão ocorresse de forma tão repentina. Em entrevista ao Correio no último dia de funcionamento, o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, dono do local, explicou o fechamento afirmando que só queria se lembrar das coisas boas. ;Optamos por fechar. O Piantella tem uma longa história. Bonita. De encontros políticos, familiares, de amores e namoros. Uma lembrança é a época do Diretas Já. O Piantella era o centro de tudo em Brasília, com almoços e jantares que não acabavam nunca. Ao piano, diversas composições políticas foram feitas por lá;, disse à reportagem.
E, mesmo que esse também seja o objetivo de Maninho, fica nele uma indefinição de como será daqui para frente. ;Ainda nem faço ideia do que vai ser de minha vida. Agora estou na rua pela primeira vez, sem saber o que fazer, tendo que começar de novo aos 55 anos.;. O barman sabe, inclusive, que jamais haverá em Brasília um ponto de encontro que reúna um público tão diversificado como o Piantella. No auge do restaurante, era normal que a casa ficasse aberta além das 6h, servindo sopas aos jovens baladeiros, que teimavam em desbravar a insípida noite brasiliense.
;Eles chegavam aqui e ficavam no bar, querendo beber mais e comer. A gente não podia expulsar, né? Antes, servíamos mais uísque. Mas, recentemente, o pessoal começou a gostar mesmo é de beber vinho.; Entre toda a nata política que se refastelava nas mesas sempre repletas de iguarias, Maninho guarda uma admiração especial pelo mais famoso político do PMDB, Ulysses Guimarães, que tinha até mesa cativa. ;Foi ele quem tornou o Piantella um local para os políticos. Sempre gostou de vir aqui e me tratou muito bem em todas as ocasiões. É dele que tenho as melhores lembranças;, garante. Outro peemedebista que impressionava Edilson é José Sarney. ;Quando estava no restaurante, era sempre elegante.;
Perguntando sobre os nomes que não seguem qualquer regra de etiqueta, Maninho mostra que é mais educado que a maioria dos políticos brasileiros: ;É melhor não comentar sobre isso.; Outro ponto que ele garante ser verdadeiro é em relação aos gastos: deputados e senadores não eram de esbanjar muito por lá. ;Quem pagava mais eram os empresários que vinham de outros estados. Só em dia de festa que os políticos se animavam mais;, entrega. A experiência de estar tanto tempo rodeado de politicagem talvez tenha despertado no barman uma veia para a administração pública. Apesar de ainda não ter decidido o que vai ser seu novo trabalho, ele começou a ajudar um cunhado que está em campanha num município próximo à Cidade Ocidental, onde mora. ;Vou ajudar, né? Não sei se vai dar certo, mas é o que tem para fazer agora.;
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