Cidades

Vem, Liz

Ana Dubeux
postado em 11/09/2016 21:46
Fui avó muito jovem. Uma criança, para ser mais exata. Interpretei uma senhorinha apaixonada pela neta numa peça infantil lá no subúrbio de Recife. A esse respeito, me postando de novo naquele palco iluminado e mágico, diria que o futuro foi generoso comigo. Já não preciso ter saudade de uma lembrança gostosa. Serei em breve, no mundo real, aquela que a ilusão me permitiu ser no passado. E essa é a prova de que o mundo pode ser tão maravilhoso quanto árido. Não obstante todas as agruras por quais passamos, há infinitas possibilidades de satisfação pessoal.

No teatro, fui avó antes de ser mãe. Agora, aguardo a chegada de Liz com a experiência da maternidade ainda pulsante, mas já sabendo que tudo será diferente. Já estou emocionada. Não me desapego um segundo de minhas expectativas, todas elas embaladas por relatos dos meus amigos. Todos, sem exceção, garantem que ser avó ; ou avô ; torna-nos afortunados, serenos, brincalhões, joviais e felizes. Algo assim como uma poção capaz de rejuvenescer, trazer alegria. De quebra, damos aos netos aquilo que os pais jamais serão capazes de dar: um amor sem cobrança, sem querer troco, menos terreno e mais divino. Porque, como pais, estamos sempre com aquela preocupação extrema de acertar.

Esse sentimento amoroso que nos inunda, sobretudo quando temos filhos, virá renovado e forte. É o que me dizem e no que eu acredito. Também fui espectadora disso. Presenciei a relação entre minha mãe e os netos. Enxergava nos olhos deles e nos dela uma troca generosa, cheia de respeito e carinho. Nasci na data em que se celebra o dia dos avós, 26 de julho. Creio que foi uma graça alcançada, um recado despretensioso do divino.

Sempre tive uma relação muito próxima com os mais velhos. Gosto de ouvir o que têm a dizer; extraio sempre os ensinamentos mais profundos das conversas. Quase música para os meus ouvidos, carcomidos pelos ruídos da vida ; sim, não posso negar que determinados diálogos não passam de poluição sonora. Vou escutar aquele chorinho de bebê e depois suas risadas gostosas como quem escuta um chamado, um convite para a brincadeira mais leve que o destino me reservou: ser avó.

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