Por mais de três décadas, a dona de casa Maria Silva (nome fictício), 51 anos, precisou lidar sozinha com a depressão. Moradora de Samambaia, ela faz parte de um grupo numeroso, que cresce assustadoramente e trava uma batalha desigual com os sofrimentos psíquicos. Por vezes incapacitantes, doenças como a depressão afetam mais de 400 milhões de pessoas no mundo, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Quantas delas têm acesso a tratamento adequado? Poucas. A estimativa é que entre 75% e 85% dos pacientes enfrentem sozinhos o problema. Em silêncio, convivem com a dor e a incompreensão. ;Tive que esperar anos para poder ser ouvida;, admite Maria. Sem condições de pagar por consultas, ela driblou as condições adversas como pôde, mas só deixou de ter a tristeza como companheira inseparável há pouco tempo, quando obteve ajuda psicológica numa universidade.
Pelo menos quatro instituições de ensino de Brasília atendem a população de baixa renda do Distrito Federal, ajudando a democratizar o acesso a tratamentos. Na rede privada, segundo tabela divulgada pelo Conselho Federal de Psicologia, uma sessão individual de psicoterapia custa, em média, R$ 118,18. Com quatro sessões por mês, seria necessário desembolsar R$ 472,72, valor que consumiria 53% da renda de quem recebe um salário mínimo por mês. Por essa razão, os centros de atendimento psicológico comunitários do Centro Universitário IESB, da Universidade de Brasília (UnB), do UniCeub e da Universidade Católica de Brasília vêm aumentando anualmente o número de atendimentos realizados. Só em 2015, os quatro centros atenderam juntos cerca de 3 mil pessoas. As consultas são realizadas, sob orientação e supervisão de docentes, por alunos de psicologia, que têm, dentro do curso, a oportunidade de colocar em prática o conteúdo aprendido em sala de aula. Eles aprendem e ajudam pessoas que não teriam a oportunidade de realizar psicoterapia.
Maria Silva é uma das pessoas atendidas na Católica. ;Arrumei emprego, tentei viver, mas, sempre que retornava para casa, a tristeza voltava. No começo do ano, comecei o tratamento na Católica. Não é rápido e não estou curada. Mas aprendi que tinha uma doença e que tinha que lutar contra ela. A cada dia, me sinto melhor, mas sei que nunca teria começado a progredir se não tivesse ajuda;, desabafa. Daiane Aureliano, 25 anos, se formou em psicologia pelo IESB no semestre passado. Durante os dois últimos períodos do curso, participou da Clínica de Psicologia do IESB da Ceilândia, onde atendeu cinco pacientes. ;Foi a minha primeira experiência profissional em atendimento direto. Trabalhei apenas com crianças, e foi uma experiência tão rica que agora, após formada, pretendo continuar trabalhando na clínica como voluntária;, conta.
A coordenadora-chefe da Clínica de Psicologia do IESB, Ana Rita Naves, explica que a participação funciona como uma disciplina do curso, mas, para os alunos, é uma experiência tão construtiva que deixa de parecer uma obrigação. ;Muitos estudantes têm sua primeira oportunidade profissional nas clínicas e aproveitam essa experiência para entender como funciona o mercado na prática. Os atendimentos são feitos sob supervisão dos professores. No fim do semestre, os alunos fazem um laudo sobre o andamento da terapia;, relata.
Mais informações sobre inscrições a atendimentos
IESB Sul
34454502
Atendimento gratuito
IESB Ceilândia
3962-4748
Atendimento gratuito
Universidade de Brasília
3107-9102
Atendimento gratuito
Universidade Católica de Brasília
3356-9328
Atendimento gratuito
UniCeub
3966-1626
R$ 20 por mês, caso o paciente tenha condições de pagar
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