Jornal Correio Braziliense

Cidades

Exposição reúne fotos tiradas por catadores do Lixão da Estrutural

Imagens registram o cotidiano desses trabalhadores; eles querem mostrar às próximas gerações o orgulho por terem participado da construção do local


Talvez Baiana seja uma das catadoras mais antigas do Lixão. Segundo ela, ;eu que fiz aquilo tudo há muito tempo;. Começou a fotografar para guardar registros para os meninos passarem de geração em geração. O objetivo era revelar aos netos e bisnetos que a avó trabalhava no lixo e que foi dali que ela conquistou tudo o que tem. Mas a fala também guarda uma indignação. ;Tenho raiva desse povo de fora. É bom para mostrar que não somos coitados e temos um trabalho digno;, declara. De acordo com a trabalhadora, quando vai ao hospital, tem sempre que enfrentar os olhares indiferentes. ;Falam da gente como se fôssemos muito sujos;, lembra.

Simpática e alegre, Baiana não se deixa levar pela frieza. Esbanja um sorriso sincero que cativa a todos. Dos anos de trabalho no Lixão, ela guarda como principais conquistas as amizades, o respeito e a confiança. ;Ali, a gente se ajuda;, conta. Num barraco simples da Estrutural, ela mora com os dois filhos, já criados e crescidos. ;Prefiro tirar dinheiro do lixo do que pedir para eles. O dinheiro deles é para a faculdade;, assegura.

História
Francisco também integra a geração mais antiga do aterro. Vai fazer 25 anos que trabalha como catador. Ele chegou na Estrutural quando ali era só Cerrado. Antes, foi jardineiro durante nove meses. Mesmo assim, já criava uma relação com o futuro local de trabalho. ;Ia lá andar e ficar observando. Parecia que estava desenhando meu caminho;, relembra. Francisco foi mandado embora da empresa de jardinagem e nunca mais saiu da Estrutural. ;Eu era muito humilhado nas empresas. Lá (no Lixão) a gente faz a nossa tarefa. Tomamos conta de tudo;, conta. Na Igreja que frequenta, chegou a enfrentar preconceitos. ;As pessoas falavam que ali não era lugar de trabalhar, que tinha gente ruim. Mas gente boa e ruim tem em todo lugar. Só vai depender de você;, conclui.

O amor pelo trabalho está no olhar e na fala de Francisco. ;Vou ficar até o fim e ver no que vai dar;, diz. Na exposição, ele mostra cada foto que fez com apreço e conta as histórias por trás dos registros. ;Quando olho essas fotos, vejo as pessoas trabalhando para sobreviver, os amigos e as recordações que tenho de lá;, destaca. O clique preferido é a sequência que mostra uma carreta quebrada. ;Fico igual a menino ao lado das máquinas;, comenta, aos risos.

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