Isa Stacciarini
postado em 12/10/2016 09:28
O aprofundamento das investigações da Operação Mister Hyde revela um esquema maior do que o previsto. O promotor de Justiça Criminal de Defesa dos Usuários dos Serviços de Saúde (Pró-Vida), Maurício Miranda, afirmou que ;quase todos os hospitais particulares de Brasília; podem estar envolvidos de alguma forma no escândalo da máfia de próteses e órteses. ;Poucos, se for um ou outro só, que não estariam envolvidos;, afirmou (leia Entrevista). Investigadores apuram, ainda, a suposta participação de gestores de hospitais da rede pública na compra de equipamentos superfaturados. Segundo a Polícia Civil, o médico Antônio Márcio Catingueiro Cruz, preso na primeira fase da ação, conectava as duas redes.O titular da Delegacia de Combate ao Crime Organizado (Deco), Luiz Henrique Sampaio, confirmou que as evidências indicam o pagamento de propina como prática difundida na maioria das unidades privadas de Brasília. Há provas testemunhais fundamentadas que levantam essa suspeita. Apesar da investigação, o Sindicato Brasiliense de Hospitais, Casas de Saúde e Clínicas (SBH) considerou a informação do promotor e do delegado ;generalista;. De acordo com a entidade representativa, há em torno de 40 hospitais particulares no DF e, segundo a superintendente Danielle Feitosa, nem todos fazem cirurgia com próteses e órteses.
Ela garantiu que cada unidade tem a própria prática comercial interna, e o SBH não interfere em relações comerciais em razão da proibição de alguns órgãos, como o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). ;O sindicato não tem conhecimento, não coaduna e não interfere em questões comerciais. As coisas devem ser apuradas e comprovadas. A sociedade, em uma situação como essa, fica muito fragilizada. Colocar todo mundo na mesma condição, considerando hospitais que nem cirurgia fazem, é muito abrangente e triste;, destacou.
O promotor Maurício Miranda destacou que a máfia das próteses é nacional, e Brasília está no topo. Uma das justificativas é a condição econômica na unidade da Federação. O delegado Luiz Henrique explicou que um levantamento mais abrangente no DF nos últimos cinco anos mostrou que o esquema movimentou cerca de R$ 40 milhões ; R$ 10 milhões a mais do que o previsto inicialmente. ;É um cálculo bastante conservador e se refere ao que foi repassado para médicos e clínicas criadas por eles. O aporte entra para as empresas fornecedoras de órteses e próteses pelos hospitais e planos de saúde, que compram os materiais. E saem para os fabricantes, no caso fornecedores, e empregados, para pagamento de impostos e participação em lucros. Mas um grande volume é receita para médicos e clínicas;, esclareceu o titular da Deco.
Provas
Só a TM Medical, de propriedade do médico Jhonny Wesley, movimentou cerca de R$ 2 milhões com a fraude nos últimos dois anos, segundo a apuração. ;A nossa expectativa é que essa postura e comportamento venham a ser alterados e que os médicos se tornem mais cautelosos;, destacou o delegado. No entanto, ele confirmou que alguns alvos destruíram provas, e um inquérito está instaurado para investigar esse caso.
O advogado do médico Antônio Márcio, Getúlio Humberto Barbosa de Sá, alegou que a suspeita de o cliente dele ser o elo entre os hospitais públicos e particulares é ;absurda;. ;Ele nunca trabalhou com a rede pública. Sempre atuou na rede privada. Não é verdadeira essa informação. O Márcio não fazia intermediação. Ele chefiava um setor que era burocrático no contato com paciente, médico e planos de saúde;, argumentou.
A Secretaria de Saúde informou que, até o momento, não houve na investigação nada que atingisse a pasta, mas, caso apareça, o órgão está à disposição para apoiar no que for possível a investigação e, no âmbito interno, tomar as providências necessárias.
Entenda o caso
Cirurgias e propina
A investigação da Polícia Civil e do Ministério Público apura irregularidades em cirurgias com órteses e próteses em hospitais particulares do Distrito Federal. Há suspeita de mais de 100 pacientes submetidos a procedimentos operatórios desnecessários ou com material vencido e de baixa qualidade.
Até agora, estão identificados quatro grupos, todos eles com a participação clara de empresas e médicos. No primeiro, havia profissionais que encaminhavam pacientes para cirurgias sem necessidade. Em outro, especialistas e empresas trocavam os equipamentos. No terceiro, aqueles que acrescentavam equipamentos desnecessários para que a operação rendesse mais. E, no último, ficavam os que agiam no pagamento de propina aos envolvidos.
A Operação Mister Hyde já teve duas fases. Em 1; de setembro, promotores e agentes cumpriram 21 mandados de busca e apreensão e 12 mandados de prisão. Médicos e empresários do ramo de órtese e prótese foram alvo da ação e atuavam no Hospital Home (613 Sul). Entre os fornecedores, estava o dono da empresa fornecedora dos materiais, a TM Medical, além de funcionários. Em 6 de outubro, promotores e investigadores da Delegacia de Combate ao Crime Organizado (Deco) cumpriram a segunda etapa da ação no Hospital Daher, no Lago Sul.