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Avanço da dengue no Distrito Federal preocupa o governo

Número crescente de casos de doenças transmitidas pelo Aedes leva o GDF a antecipar as ações para 2017, incluindo mais verba. Confira o programa de prevenção que vai ser anunciado hoje



A celeuma provocada pelas doenças transmitidas pelo Aedes aegypti obrigou o Executivo local a antecipar as ações de controle do mosquito e a planejar melhor os gastos com a prevenção. Entre fevereiro e março ; período com maior número de infectados ; a Secretaria de Saúde enfrentou dificuldades para manter estoques de inseticidas e materiais básicos de trabalho dos agentes epidemiológicos. A pasta gastou, até outubro, R$ 4 milhões com o serviço. Para o ano que vem, a receita será de R$ 5,4 milhões, adiantou a Subsecretaria de Vigilância à Saúde ao Correio. Hoje, a pasta anuncia o cronograma de atividades. Elas começam na primeira semana de novembro. Cerca de 3 mil pessoas estarão envolvidas. Até a última segunda-feira, Brasília registrou 82 infecções de dengue por dia. Ao longo do ano, 23.228 pessoas contraíram a doença, sendo que 38 tiveram dengue hemorrágica e 20 morreram. Comparados ao mesmo período de 2015, os casos aumentaram 104%.

[SAIBAMAIS]Desde 2015, o DF enfrenta dificuldades financeiras no combate ao Aedes. Naquele ano, por exemplo, o GDF teve que remanejar orçamento para a compra de medicamentos de combate. A Secretaria de Saúde se tornou alvo de críticas por executar menos recursos que o previsto para o setor (leia Memória). Agora, garante o subsecretário de Vigilância à Saúde, Tiago Coelho, a pasta está com estoques de inseticidas e de outros insumos, o suficiente para até julho de 2017. ;Essa diferença (entre o dinheiro previsto e o realmente executado) acontece porque existe um atraso entre o planejamento e a compra. As questões assistenciais (remédios, leitos) acabam se sobrepondo às medidas de prevenção;, argumenta.

Os recursos aplicados na campanha de controle do Aedes vêm em grande parte do Ministério da Saúde, com destinação restrita ao serviço. Na sexta-feira, Tiago Coelho detalhou como será feita a divisão para o próximo ano. A ideia é que R$ 19,2 milhões sejam repartidos entre cinco áreas, entre elas as vigilâncias Sanitária, Epidemiológica, Ambiental, além do Laboratório Central (Lacen). Dessa receita, 28,32% são para a vigilância ambiental, que planeja e realiza o combate ao mosquito. ;Não vamos correr o risco de ter um desabastecimento e de enfrentar problemas como esse ano;, afirma Tiago.

Alerta
O que vai nortear o calendário das ações de combate ao Aedes é o Levantamento Rápido do Índice de Infestação por Aedes aegypti (LIRAa), realizado na última semana de setembro. Três regiões administrativas estão em estado de alerta: Lago Norte, no Lago Sul e na Asa Norte. Nessas regiões, o índice de 1,3% de infestação está acima do nível considerado seguro pelo Ministério da Saúde. ;A gente antecipou em um mês as ações. A grande diferença é o monitoramento de três variáveis: as doenças (casos nas cidades), o número de mosquitos (infestação) e os tipos de foco em cada cidade;, explica Tiago.

A expectativa da Secretaria de Saúde é que no próximo ano a chicungunha e o zika deixem um grande número de pessoas doentes. O mosquito elevou os índices dessas infecções em 2016: a zika, que acometeu 194 pessoas ; das quais 38 gestantes ; e a chicungunha, com outros 162 casos. ;A expectativa é que não tenhamos a mesma quantidade de casos no DF. Os casos de dengue vão ser menores. Estamos em alerta para a chicungunha e a zika o número de novos infectados a trilhar;, avalia Tiago.

Inovação
Na sexta-feira, o subsecretário de Vigilância à Saúde contabilizava o arsenal de combate ao Aedes. Serão utilizados na campanha 41 carros fumacê, 27 bombas manuais de veneno. Além disso, há no estoque 300 litros de biolarvicida e 3 mil cápsulas de veneno. Seis equipes especiais ; em média, 6 pessoas ; farão o controle nas áreas mais preocupantes. ;Nosso planejamento será atualizado de acordo com as necessidades do DF.;

O presidente do Comitê Arboviroses da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Antônio Bandeira, cobra inovação nos métodos de combate. ;É preciso implementar novas tecnologias de controle vetorial. Jogar fumacê em todo o DF não adianta. O governo insiste nas mesmas técnicas esperando resultados diferentes;, critica.

Contingente
A cada semana, oito cidades passarão pelo combate. O cronograma da Secretaria de Saúde conta com 2 mil agentes comunitários de Saúde, 546 agentes de Vigilância Ambiental em Saúde, 220 homens das Forças Armadas, 40 bombeiros, além do reforço de servidores do SLU, da Novacap e das administrações.

Monitoramento
As taxas inferiores a 1% são satisfatórias; de 1% a 3,9% estão em situação de alerta; e superior a 4% há risco de surto de doenças transmitidas pelo Aedes, segundo parâmetros do Ministério da Saúde.

Memória
Pouco investimento
Em meio a um surto de dengue, a Secretaria de Saúde gastou, no ano passado, só 44% do orçamento previsto para ações de vigilância em saúde, que incluem o combate ao mosquito Aedes aegypti. Dos R$ 15,79 milhões destinados no orçamento para ações contra o mosquito, foram usados R$ 6,98 milhões ; 44% do total. Do valor no orçamento, a secretaria empenhou R$ 15,01 milhões. Na prática, significa que a pasta reservou em 2015 esse valor exclusivamente para ações de luta ao mosquito que transmite a dengue, a chikungunya e o vírus da zika ; ligado à microcefalia ; mas os gastos efetivos não chegaram a R$ 7 milhões. Entre janeiro de 2015 e o fim de fevereiro, a pasta gastou somente 5,2% dos quase R$ 2,9 milhões repassados pela União especificamente para ações de combate à dengue, segundo relatório do Ministério da Transparência. Para cobrar condições de trabalho, em maio passado, agentes epidemiológicos fizeram greve de 15 dias.