Cidades

DF é a quarta unidade da Federação com mais registros do câncer de mama

A estimativa para 2016 é de 67,74 casos a cada 100 mil mulheres. Especialistas defendem melhorias na prevenção e no combate a esse tipo de tumor

Otávio Augusto
postado em 23/10/2016 08:00
Cláudia de Moraes, 54 anos, enfrentou a doença e hoje ajuda mulheres que lutam para superar o mesmo problema
As mulheres da capital federal são as mais expostas ao câncer de mama no Centro-Oeste. O Instituto Nacional de Câncer José Alencar (Inca) estima que são 67,74 casos a cada 100 mil mulheres. O panorama nacional também é pessimista: o DF é a quarta unidade da Federação com mais casos da doença, atrás do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Sul e de São Paulo. As possibilidades de tratamento não acompanham a demanda. Dos 12 mamógrafos da Secretaria de Saúde, apenas um está funcionando. Há 8,5 mil pessoas na fila de espera pelo exame. Em 2015, apenas 6% das mulheres na faixa de risco ; entre 50 e 69 anos ; passaram pelo teste. Do total de 124 mil diagnósticos necessários, somente 7,5 mil se concretizaram.

Os índices alarmantes da doença impõem dois desafios: o primeiro, ao Executivo local, que não consegue manter uma estrutura suficiente para receber as pacientes. A outra, de foro íntimo, está ligada à reconstrução da autoestima e da identidade feminina. Na última quarta-feira, o Dia Internacional do Câncer de Mama relembrou a importância de prevenir e tratar a doença. No DF, o câncer de mama dispara como o mais frequente nas mulheres, deixando para trás até mesmo o de colo do útero. Em 66% dos casos, o problema é descoberto pelas próprias pacientes. Alguns fatores de risco, como sobrepeso e excesso de gordura abdominal, aumentam em 74% as chances de câncer de mama.

Diagnóstico

A doença não apresenta sintomas em sua fase inicial, por isso é tão difícil detectá-la precocemente. Quanto antes o câncer é identificado, mais altas são as taxas de sucesso no tratamento. O diagnóstico no primeiro estágio tem 88,3% de sobrevida, em média. Para a prevenção, é necessário que as mulheres entre 50 e 69 anos façam a mamografia a cada dois anos, segundo a recomendação do Ministério da Saúde. A proporção de mulheres nessa faixa etária que nunca realizaram o exame é a menor do Centro-Oeste, de acordo com estatísticas do Ministério da Saúde. O DF registra um índice de 12,3%. A falha é maior é em Mato Grosso, onde a taxa alcança 25,1%.

A estimativa para 2016 é de 67,74 casos a cada 100 mil mulheres. Especialistas defendem melhorias na prevenção e no combate a esse tipo de tumor

Os números preocupam autoridades de saúde, que não têm uma explicação simples para a estatística da capital federal. Os médicos ouvidos pelo Correio apostam em um conjunto de fatores, alguns ainda desconhecidos pela medicina, para justificar o panorama. Por exemplo, 50,3% da população do DF está acima do peso e 15,8% está obesa, de acordo com o Relatório de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), da Secretaria de Saúde. O câncer, em suas mais variadas formas, é a segunda principal causa de morte na cidade. Em 2015, 2,3 mil pessoas ; 19,1% do total de mortes ; se tornaram vítimas do mal. As doenças cardiovasculares mataram 3,2 mil (27,1%).



Apesar de não ter mamógrafos, até outubro, o Hospital de Base (HBDF) recebeu 2,9 mil pacientes. Em todo o ano passado, os casos chegaram a 1,9 mil doentes. Ao todo, 193 mulheres passaram pelo procedimento de mastectomia e 60% das pacientes fizeram reconstrução mamária logo após a cirurgia. ;A ideia é ampliar isso para outros hospitais. A medida ajuda na recuperação das mulheres, sobretudo as mais jovens;, argumenta a coordenadora de Mastologia da Secretaria de Saúde, Fernanda Salum.

Apoio

Na última quarta-feira, a Associação de Mulheres Mastectomizadas de Brasília (Recomeçar) vistoriou o Hospital de Base. A ONG acompanha o tratamento de câncer de mama oferecido em Brasília desde 2011 e notificou falhas no serviço. ;As mulheres se queixam da dificuldade. Não está se conseguindo detectar a doença precocemente. O primeiro passo é corrigir as deficiências para realização de mamografia. Isso atrapalha todo o diagnóstico;, critica a presidente e fundadora da entidade, Joana Jeker dos Anjos. Atualmente, o grupo pleiteia um psicólogo para dar apoio no processo de reconstrução mamária tardia do Hospital Regional da Asa Norte (Hran).

Em 2017, completa uma década que a comerciante aposentada Cláudia de Moraes, 54 anos, recebeu o diagnóstico de câncer de mama. ;Começou com dores mamárias. Quando o médico disse que faria uma biópsia, fiquei nervosa, preocupada. Entrei em desespero quando recebi o resultado. Chorei três semanas seguidas;, lembra a moradora da Asa Sul. Ela enfrentou oito sessões de quimioterapia, oito de radioterapia e retirou totalmente o seio direito. ;Conheci mulheres que me deram força. Isso me fortaleceu para continuar;, detalha. Desde então, ela convive com mulheres que passam pela mesma situação. ;Na minha época, foi mais fácil. Hoje, eu percebo dificuldades maiores. Há mulheres que fazem a cirurgia e, três meses depois, não conseguem fazer a radioterapia;, destaca.

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