Otávio Augusto, Pedro Grigori - Especial para o Correio
postado em 05/12/2016 06:00
Aos 21 anos, Sandra (nome fictício) mantinha relações sexuais com o primeiro namorado sem preservativo. Logo, a mistura de fatores perigosos colocou a moradora do Recanto das Emas na lista de soropositivos da capital federal. A Secretaria de Saúde estima que são, ao todo, 11 mil pessoas na mesma condição da moça. E, somente nos últimos seis anos, somaram-se 3,1 mil novos casos.
O diagnóstico, o tratamento e a sobrevida com a Aids ainda são temas mergulhados em preconceito e desinformação. Apesar de não avaliarem o aumento de casos da doença como preocupante, as autoridades sanitárias alertam para a mudança de perfil: jovens entre 20 e 34 anos são responsáveis pela maioria das infecções recentes.
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O impacto do diagnóstico e a vergonha levaram a estudante de direito a refazer o exame para HIV duas vezes. ;Era algo inacreditável para a minha realidade. Até aquele momento, nunca havia pensado na possibilidade de ser soropositiva. E a pior parte foi a reação dos meus pais, eles ficaram arrasados;, conta. À época, a única preocupação de Sandra era ficar grávida. Hoje, com 23 anos, remédios e acompanhamento médico fazem parte da rotina dela.
No começo da semana passada, o Correio adiantou, com exclusividade, os números do Boletim Epidemiológico Anual de Doenças Sexualmente Transmissíveis. As informações do documento revelam um cenário sombrio. Nos últimos seis anos, 77% dos diagnosticados foram de homens, 47% tinham entre 20 e 34 anos e 18%, com ensino superior completo. E, mesmo com o avanço do tratamento da doença, no mesmo período, 710 pessoas morreram no Distrito Federal por consequência da Aids. Entre 2009 e 2015, o número de jovens de até 19 anos diagnosticados com HIV subiu de seis para 89.
Cuidados
Na quinta-feira, durante o Dia Mundial de Luta Contra a Aids, especialistas e ativistas debateram sobre novos métodos de tratamento ; um laço vermelho foi colocado na Torre de TV para simbolizar a campanha. Há muitos avanços, mas, até o momento, a doença permanece sem cura. Uma das novidades é a Profilaxia Pré-exposição (PrEp). Ao contrário da Profilaxia Pós-Exposição ao HIV (PEP), tratamento atual, a medicação é ingerida antes do contato com um soropositivo e diminui em até 80% as chances de contaminação. Desde maio de 2014, o modelo é comercializado nos Estados Unidos pelo nome de Truvada. No Brasil, ainda não foi liberado pelo Ministério da Saúde, mas, atualmente, cerca de 100 pessoas fazem tratamentos experimentais com o remédio.
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Desafio do uso da camisinha
João Geraldo Netto, consultor do Departamento de DST/Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, é otimista, mas destaca que a produção de informação não significa aumento de educação. ;Temos um bom tratamento, que é universal e gratuito. O grande problema é que muita gente tem HIV, não sabe e continua transmitindo;, explica. ;Com o crescimento do conservadorismo na sociedade, a Aids vai ser mais uma vez estigmatizada como doença de pobre, negro e gay. Temos que combater o preconceito para continuarmos o trabalho de prevenção;, avalia.
Menos da metade das regiões administrativas contam com serviço especializado para o diagnóstico e o tratamento de DSTs. Em apenas 14 das 31 cidades do DF, equipes estão aptas a receber pacientes com Aids, por exemplo. A Gerência de Doenças Sexualmente Transmissíveis admite falhas, como desabastecimento de insumos ; na sexta-feira, não havia, por exemplo, fórmula alimentícia para bebês que não podem ser amamentados por mães soropositivas ; e de reagentes para testes. A falta de pagamento do fornecedor piorou a situação.
O grande desafio para as autoridades de saúde pública, segundo o gerente de DSTs da Secretaria de Saúde, Sérgio D;Ávila, é restabelecer o protagonismo do uso do preservativo, sobretudo na população jovem. ;Temos que nos comunicar melhor com toda a diversidade da sociedade. Precisamos retomar as campanhas nas escolas;, adverte. Sérgio avalia que as estratégias governamentais não acompanharam o avanço das contaminações. ;A busca por direitos básicos colocou muitas questões explícitas que antes eram jogadas para debaixo do tapete;, critica. Ele concorda que o conservadorismo pode prejudicar o controle da doença.
O infectologista e professor do UniCeub Tarquino Sánchez conta que a atitude do jovem não é exceção. ;Nós, mais velhos, que vivemos os anos 1980 e 1990, presenciamos o pandemônio causado pelo HIV. Mas esta nova geração, não. Se antes a expectativa de vida de soropositivos era de dois ou três anos, hoje, com um tratamento regular, passa dos 30 anos. Assim, os jovens não enxergam a doença como as antigas gerações viam;, explica.
O grande desafio para as autoridades de saúde pública, segundo o gerente de DSTs da Secretaria de Saúde, Sérgio D;Ávila, é restabelecer o protagonismo do uso do preservativo, sobretudo na população jovem. ;Temos que nos comunicar melhor com toda a diversidade da sociedade. Precisamos retomar as campanhas nas escolas;, adverte. Sérgio avalia que as estratégias governamentais não acompanharam o avanço das contaminações. ;A busca por direitos básicos colocou muitas questões explícitas que antes eram jogadas para debaixo do tapete;, critica. Ele concorda que o conservadorismo pode prejudicar o controle da doença.
O infectologista e professor do UniCeub Tarquino Sánchez conta que a atitude do jovem não é exceção. ;Nós, mais velhos, que vivemos os anos 1980 e 1990, presenciamos o pandemônio causado pelo HIV. Mas esta nova geração, não. Se antes a expectativa de vida de soropositivos era de dois ou três anos, hoje, com um tratamento regular, passa dos 30 anos. Assim, os jovens não enxergam a doença como as antigas gerações viam;, explica.
Medicação
Após o diagnóstico positivo, o paciente inicia a ingestão de medicamento antirretrovirais, fornecidos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Os remédios não eliminam o vírus, mas o combatem e fortalecem o sistema imunológico. Outro avanço foi o Profilaxia Pós-Exposição ao HIV (PEP), método utilizado após contato com o vírus da Aids, em que o usuário consome medicação por 28 dias para impedir a sobrevivência e a multiplicação do HIV no organismo.
*Estagiário sob supervisão de Sibele Negromonte