Isa Stacciarini
postado em 30/12/2016 06:10
Maria Santina Chaves Pereira e Regiane Vanessa Torres nunca se viram, mas compartilham história com um elemento em comum: a Polícia Militar do DF. Maria perdeu o filho de 27 anos assassinado, por engano, por um sargento da corporação. Ele voltava da faculdade para casa. Regiane, 35 anos, enterrou o companheiro, de 38, um cabo reconhecido por um criminoso em assalto. Relatos que se cruzam e estampam as sequelas marcadas pelo ofício, seja de um agente de segurança pública que mata, seja de um que morre ao ser reconhecido pelo serviço que escolheu cumprir.Embora o DF esteja no fim da fila desse ranking nacional, para familiares das vítimas, as perdas fazem parte de uma sofrida realidade: a vida interrompida no lugar de onde estaria a garantia de segurança. ;Ele (policial) me matou também. Não confio mais na polícia;, lamenta a cuidadora de idosos que há quase quatro anos chora a ausência de José Chaves Alves Pereira. Essa lacuna Regiane também conhece. ;Policial é 24 horas. Para um criminoso, é fácil identificá-los e, de serviço ou não, eles estão suscetíveis. A estrutura da família acaba;, desabafa.
[SAIBAMAIS]A Corregedoria da PM informou que, neste ano, 13 pessoas morreram vítimas de ações policiais. É o mesmo dado repassado pela Seção de Estatística Criminal da Polícia Civil de assassinados por todos os policiais (civis, militares e federais) em serviço e fora dele no DF. Em 2015, nove morreram vítimas de ações de militares: cinco deles durante o trabalho dos policiais e quatro afastados do expediente. Em 2014, o número se repete. Em relação aos agentes, uma pessoa morreu por reação de um servidor durante operação no ano passado, a mesma quantidade de 2014. Os dados são do 10; Anuário Brasileiro de Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
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José Chaves fez parte dessa estatística em 2013. Em 4 de abril, ele voltava de carona da faculdade com os amigos Karla Pamplona Gonçalves, 22, e Michael de Oliveira Leal, 21, quando policiais do 16; BPM (Brazlândia) confundiram o carro em que o trio estava, um Fiat Uno vermelho, com outro roubado em um sequestro relâmpago em Taguatinga. O sargento Eliano Fernando do Prado atirou em direção ao veículo na BR-070, próximo ao Condomínio Privê, em Ceilândia. Os disparos mataram José Chaves, que estava no banco do passageiro, e feriram o olho de Karla.
O drama de dona Mara, como é conhecida a mãe do jovem, potencializou-se. Ela perdeu o marido em 31 de março de 2012. Um ano e quatro dias depois, precisou encontrar forças para sepultar o filho. A notícia veio, primeiro, como um acidente de trânsito. Ela seguiu para o Hospital de Base do DF com alguns conhecidos do rapaz. ;No caminho, ouvi os amigos dele conversando ao telefone e falando de perda de massa encefálica. Quando vi o meu filho entubado, tinha certeza que ele não estava mais ali;, relembra.
Chaves morava com a mãe, a mulher e uma das filhas. A companheira estava grávida de 8 meses. Hoje, a menina mais velha, do primeiro relacionamento, tem 10 anos. A do meio, fruto do casamento com a viúva, tem 5. E o mais novo, 3. ;O policial não atirou no pneu, como falaram. Ele não queria nem saber quem estava naquele carro. Por mais que fosse um bandido, não poderiam ter feito isso. Mataram uma pessoa inocente. Eu perdi tudo;, lamenta dona Mara.
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