Cidades

Brasilienses buscam saídas para não ficar sem água durante racionamento

Moradores das cidades que ficarão sem abastecimento hoje, primeiro dia do racionamento no DF, passaram o fim de semana armazenando o líquido. Riacho Fundo II, Ceilândia Oeste e Recanto das Emas são as três primeiras selecionadas para o rodízio

postado em 16/01/2017 06:00

No Recanto, Terezinha reutiliza o líquido destinado à lavagem de roupas para a limpeza da casa


Em poucos minutos de caminhada pelo Recanto das Emas, Riacho Fundo II e Ceilândia Oeste, é possível ver dezenas de famílias se preparando para o primeiro dia de racionamento de água da história do Distrito Federal. Baldes, panelas e caixas d;água recém-compradas armazenam o líquido. Hoje começa o regime de rodízio no fornecimento do recurso, que afetará cerca de 1,8 milhão de habitantes e não tem data para terminar. A situação é fruto dos baixos níveis da Barragem do Descoberto ; ontem, a medição atingiu 19,3%. Em janeiro de 2016, o reservatório acumulava 45,77% de água.

O planejamento funciona em um ciclo de seis dias. Assim, cada localidade sofrerá a restrição de água uma vez por semana. Após as primeiras 24h de racionamento, o morador passará por 48h com o sistema instável e mais três dias com o serviço normalizado (veja o quadro abaixo). Ao todo, a medida destina-se a 15 regiões administrativas, equivalente a 65% do DF, abastecidas pelo rio Descoberto. As demais cidades, como o Plano Piloto, Lagos Norte e Sul, Itapoã e Varjão, não participarão do rodízio porque são atendidas pelo sistema Santa Maria/Torto.


O anúncio do racionamento atingiu em cheio as casas e os estabelecimentos que não contam com o fornecimento via caixas d;água na metragem da propriedade. É o caso da família de Elenci Soares, que mora no Recanto das Emas. Junto ao filho, cunhado e irmãos, às 15h40 deste domingo, a moça de 32 anos já limpava recipientes para acumular a água necessária ao dia de restrição ; ao todo, quatro baldes e uma caixa d;água desativada de 500 litros, utilizada, usualmente, para o lazer, eram abastecidos com o líquido. ;As crianças precisam muito dessa reserva, porque gostam de brincar na rua e chegam sujas. Também estamos estocando a água em vasilhas, na geladeira, para bebermos e fazermos a comida. Oito pessoas ficam em casa durante o dia, é impossível permanecer sem água;, afirma.

Moradores das cidades que ficarão sem abastecimento hoje, primeiro dia do racionamento no DF, passaram o fim de semana armazenando o líquido. Riacho Fundo II, Ceilândia Oeste e Recanto das Emas são as três primeiras selecionadas para o rodízio


A poucos metros da residência dela, a dona de casa Terezinha Silva, 65, que costuma economizar água de diversas maneiras ; como a reutilização do líquido destinado à lavagem de roupas para a limpeza da casa ;, reservava alguns litros em duas panelas para cozinhar, no dia seguinte, o alimento dos quatro familiares com os quais mora. ;Vamos tomar banho com o que está nos baldes. Para lavar as louças, utilizarei a água que juntei nos últimos dias. Não precisamos nos desesperar, o racionamento é só uma vez por semana;, acrescenta.

No Riacho Fundo II, funcionários lavavam bares e restaurantes para o período noturno. Hoje, a maioria dos estabelecimentos não abre. Portanto, o prejuízo será menor no primeiro dia de racionamento, avaliam comerciantes e proprietários. A vigência do rodízio a longo prazo, porém, causa preocupação. Dona do Vira Copos, Cleide Chagas optou por instalar, imediatamente, a caixa d;água no local para evitar futuras perdas. A obra na estrutura do bar começa amanhã e custará cerca de R$ 4 mil. ;Não tenho como trabalhar neste segmento sem água: lavamos recipientes, cozinhamos petiscos e caldos, os clientes dão descargas em dois banheiros;, pontua.

A proprietária queixa-se do racionamento, que classifica como ;inesperado;. ;Informaram sobre o rodízio nesta semana. Deram um prazo de menos de sete dias para nos prepararmos. A medida nos pegou no supetão. Então, provocarei mudanças instantâneas, senão terei que fechar as portas. Além disso, o aviso ocorreu no início do ano, quando os valores arrecadados com o comércio local caem. A situação será complicada;, ressalta.

Precaução

Mesmo quem tem caixa d;água em casa busca soluções para enfrentar o racionamento. Morador do Riacho Fundo II, o motorista Cristiano Rodrigues, 36 anos, por exemplo, já tem um recipiente em casa. Ainda assim, decidiu comprar outro, com capacidade para 220 litros, por R$ 100 ; em locais sem interrupção do fornecimento, uma caixa d;água de 310 litros pode ser encontrada por R$ 94,90. ;Comprei na ;promoção;. Hoje, o enchemos com água da torneira. Porém, mais à frente, pretendemos utilizar água da chuva para o abastecimento necessário aos dias de rodízio. Caso contrário, a medida adotada pela Caesb não surtirá efeitos;, alega.

A Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb) confirma a suposição de Cristiano. O órgão solicita que a população não estoque água. Essa medida pode aumentar o desperdício e agravar a crise hídrica. A quantidade guardada nas caixas d;água das casas já é suficiente, segundo a companhia, para o uso durante as 24h sem abastecimento ; 100 litros por pessoa são o bastante.

No entanto, quem ainda assim optar por estocar água deve tomar algumas precauções, como manter o reservatório tampado e não usar esse líquido para o consumo humano, apenas em limpezas e descargas, por exemplo. A Caesb ressalta, ainda, a necessidade de higienizar os recipientes. ;Se a caixa estiver quase vazia, quando a água retornar, pode remover a sujeira do fundo e levar líquido sujo para as torneiras;, frisa, em nota. O órgão espera economizar 10% de água com o racionamento. Somando todas as medidas em vigor ; que incluem ainda taxa extra e menor da pressão de água ;, a empresa prevê 25% de redução de consumo.

Confira onde e quando faltará água:


16 de janeiro (segunda-feira)
Interrupção:
Ceilândia Oeste, Recanto das Emas e Riacho Fundo II

17 de janeiro (terça-feira)
Interrupção:
Vicente Pires, Colônia Agrícola Samambaia, Vila São José, Jóquei, Santa Maria, DVO, Sítio do Gama, Polo JK e Residencial Santa Maria
Religação e estabilização: Ceilândia Oeste, Recanto das Emas e Riacho Fundo II

18 de janeiro (quarta-feira)
Interrupção:
Gama
Religação e estabilização: Vicente Pires, Colônia Agrícola Samambaia, Vila São José, Jóquei, Santa Maria, DVO, Sítio do Gama, Polo JK, Residencial Santa Maria, Ceilândia Oeste, Recanto das Emas e Riacho Fundo II

19 de janeiro (quinta-feira)
Interrupção:
Águas Claras (zona baixa), Park Way, Núcleo Bandeirante, C.A. IAPI, Candangolândia, Setor de Postos e Motéis e Metropolitana, Vila Cauhy, Vargem Bonita, Ceilândia Leste e Samambaia
Religação e estabilização: Gama, Vicente Pires, Colônia Agrícola Samambaia, Vila São José, Jóquei, Santa Maria, DVO, Sítio do Gama, Polo JK e Residencial Santa Maria

20 de janeiro (sexta-feira)
Interrupção:
Guará I e II, Polo de Modas, CABS, Lúcio Costa, SQB, CAAC, Taguatinga Sul, Arniqueiras, Areal e Riacho Fundo I
Religação e estabilização: Águas Claras (zona baixa), Park Way, Núcleo Bandeirante, C.A. IAPI, Candangolândia, Setor de Postos e Motéis e Metropolitana, Vila Cauhy, Vargem Bonita, Ceilândia Leste, Samambaia e Gama

21 de janeiro (sábado)
Interrupção:
Águas Claras (zona alta), Concessionárias e Taguatinga Norte
Religação e estabilização: Guará I e II, Polo de Modas, CABS, Lúcio Costa, SQB, CAAC, Taguatinga Sul, Arniqueiras, Areal, Riacho Fundo I, Águas Claras (zona baixa), Park Way, Núcleo Bandeirante, C.A. IAPI, Candangolândia, Setor de Postos e Motéis e Metropolitana, Vila Cauhy, Vargem Bonita, Ceilândia Leste e Samambaia

22 de janeiro (domingo)
Interrupção:
Ceilândia Oeste, Recanto das Emas e Riacho Fundo II
Religação e estabilização: Águas Claras (zona alta), Concessionárias, Taguatinga Norte, Guará I e II, Polo de Modas, CABS, Lúcio Costa, SQB, CAAC, Taguatinga Sul, Arniqueiras, Areal e Riacho Fundo I

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