Nas últimas décadas, os moradores das grandes cidade têm sido surpreendidos com a incidência de doenças transmitidas por mosquitos, sejam urbanos, sejam os que migram de áreas silvestres. São as chamadas arboviroses. O Aedes aegypti é o maior exemplo, sendo a dengue a mais devastadora de todas as enfermidades. A partir de 2015, a chicungunha e a zika também ganharam destaque ; a última sequelou uma geração de crianças, vítimas de microcefalia. Agora, o surto de febre amarela silvestre, que atinge mais de 80 cidades brasileiras, expõe ainda mais a fragilidade nos grandes centros urbanos.
Na capital federal, apesar dos bons índices de cobertura vacinal, especialistas se preocupam com a falta de investimentos em mecanismos de controle dos insetos e destacam a faixa de risco do Entorno. Lá, dois casos de febre amarela colocaram em alerta a Secretaria Estadual de Saúde de Goiás. Pelo menos seis doenças apresentam transmissões contínuas nos últimos 10 anos (veja arte). Atualmente, a taxa de infestação do Aedes, o principal vetor, é de 0,95%, segundo a Secretaria de Saúde ; número considerado satisfatório. Algumas regiões administrativas, como Lago Norte, Asa Norte e parte de Recanto das Emas, apresentam estatística superior. Para se ter uma ideia, índices de infestação predial inferiores a 1% são considerados satisfatórios. De 1% a 3,9%, estão em situação de alerta. Em casos acima de 4%, há risco de surto de doenças.
[SAIBAMAIS]Para tentar frear os casos de enfermidade, a Vigilância Ambiental mantém 14 pontos de monitoramento em áreas silvestres e 2 mil armadilhas na zona urbana. A medida é para se evitar cenas como as dos surto de febre amarela em 2008, quando macacos morreram com a doença na Parque Nacional da Água Mineral e mosquitos contaminados foram capturados no Parque da Cidade. A dengue, que em 2016 bateu todos os recordes e adoeceu quase 20 mil pessoas, reforçou a precaução.
O alerta agora envolve a crise hídrica e o armazenamento de água em tambores e baldes, estratégia para driblar o racionamento. Em todas as 15 cidades afetadas pelo corte de água, já foram notificados criadouros de mosquitos nas reservas improvisadas. ;O cerrado é o habitat desses mosquitos e qualquer brecha é perigosa. A população deve estar vigilante. A prática expõe a cidade a mais um risco;, destacou o gerente de Vigilância Ambiental, Petrônio Lopes. Mais de 1,8 milhão de pessoas são afetadas pela interrupção de água.
O médico infectologista Antônio Bandeira, do Comitê de Arboviroses da Sociedade Brasileira de Infectologia, alerta que, em Brasília, as distâncias entre áreas silvestres e rurais são pequenas, quando comparadas às de grande contingente populacional. A regra, segundo o especialista, é matemática: ;menor a distância, maior o risco;. ;As autoridades sanitárias têm que repensar a estratégia de combate. A nossa realidade de convivência com arboviroses está crescendo. Somente fumacê não resolve o problema. E não vejo investimento em outras técnicas;, criticou. E completa: ;Erradicar mosquitos não é possível, mas controlar é necessário;.
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