Cidades

Esquerda segue cambaleante na corrida para o Buriti e futuro é incerto

Ao contrário de partidos de direita, que amadurecem candidaturas ao GDF, siglas progressistas patinam para definir se lançarão nomes próprios ou se disputarão o próximo pleito em uma frente única

Helena Mader
postado em 10/02/2017 06:00

Ao contrário de partidos de direita, que amadurecem candidaturas ao GDF, siglas progressistas patinam para definir se lançarão nomes próprios ou se disputarão o próximo pleito em uma frente única

Enquanto grupos de direita ou conservadores se organizam para disputar a sucessão do Palácio do Buriti, o futuro da esquerda no Distrito Federal ainda é uma incógnita. A condenação do ex-governador petista Agnelo Queiroz enterrou os planos do partido de ter um candidato próprio nas eleições para o GDF. Legendas como PSol, Rede e PDT discutem a viabilidade e a conveniência de entrar na corrida eleitoral ou de apoiar um nome de outra sigla, mas com diretrizes de campanha que agradem às forças progressistas. Entre os políticos de direita, há pelo menos duas candidaturas em avançada articulação: a do ex-vice-governador Tadeu Filippelli (PMDB) e a do deputado federal Izalci Lucas (PSDB). Além disso, Rogério Rosso, presidente regional do PSD, tem tempo de televisão para negociar na campanha e planeja ser candidato ao Senado, mas, a depender do cenário político, também pode concorrer ao Buriti.

O PT começou um debate interno sobre a disputa de 2018. Com a manutenção da condenação de Agnelo por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação na campanha de 2014, o petista permanece inelegível por oito anos. Uma possível candidatura do ex-governador havia sido praticamente descartada dentro do PT, mas o posicionamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) representa um forte desgaste para a legenda.


A ex-vice-governadora Arlete Sampaio, um dos principais nomes do PT no DF, se queixou do entendimento da Corte eleitoral, que ela classifica como ;equivocado e politizado;. Para ela, a sigla deve buscar aliança com outros partidos alinhados ideologicamente com suas lideranças. ;Começamos uma discussão interna. Na última reunião do diretório, ficou definido que o PT deverá constituir uma frente de esquerda, não necessariamente ter candidatura própria;, explica a também ex-distrital.

Arlete critica, ainda, a decisão do senador Cristovam Buarque (PPS-DF) de romper oficialmente com o governador Rodrigo Rollemberg. Na última quarta-feira, o parlamentar e outros integrantes do PPS, como a distrital Celina Leão, anunciaram oposição ao Palácio do Buriti e divulgaram que a legenda deve ter um candidato ao governo. ;Não discuto mais os rumos do Cristovam. A cada dia, ele me surpreende mais com suas posições equivocadas;, comentou Arlete. A petista reclamou da atual gestão. ;O Rollemberg, na sua vaidade, se exime de enxergar coisas que estão na frente de seu nariz. Com isso, está perdendo, um a um, os partidos que apoiaram a sua eleição. Ele não percebe que seu governo é um fracasso e não se dispõe a mudar. E eu já disse isso a ele;, justificou a petista.

Um partido que ganha projeção no cenário político e deve disputar algum cargo majoritário no próximo ano é a Rede. A legenda conta com dois deputados distritais: Chico Leite e Cláudio Abrantes. Na última segunda-feira, o bloco formado pela sigla e pelo PDT resolveu não se juntar ao grupo liderado por Celina Leão e pelo PMDB para a disputa pela Presidência das comissões no Legislativo local. Esse posicionamento serviu para deixar claro que a união entre esses parlamentares só valeu para eleger Joe Valle presidente da Câmara. Também foi uma sinalização de que a Rede não pretende se vincular a grupos conservadores e de direita.

Em dezembro, o partido divulgou um manifesto lançando o nome de Chico Leite para a disputa majoritária. O distrital prefere concorrer ao Senado, mas não está descartada uma candidatura ao Buriti, que tem potencial de se tornar competitiva ; sobretudo diante das incertezas do cenário político. No texto, a legenda evita falar em união das esquerdas e defende a construção de ;políticas públicas sustentáveis e progressistas;. No manifesto, a Rede antecipa a construção de uma chapa. ;Em diálogo com outras forças políticas e sociais, dispomo-nos a participar com maior protagonismo na próxima eleição do GDF. Estamos organizando uma chapa forte e representativa para melhorar a qualidade da representação;, argumentou o partido na nota.

Novidade

Mais uma vez, o PSol deve ter candidato próprio para o governo. Mas, ao contrário das últimas disputas, o representante da sigla não será Antônio Carlos de Andrade, o Toninho do PSol. A tendência mais forte é que ele lance sua candidatura a deputado distrital e que Maninha concorra a deputada federal. O advogado e professor Melillo Dinis é cotado para representar o partido na disputa pelo Palácio do Buriti.

Apesar das indefinições, Toninho garante que a sigla estará representada na eleição majoritária. ;Certamente, o PSol terá candidato ao GDF. O partido tem 13 anos de existência, sempre procurando um espaço à esquerda;, explicou. Ex-aliado de Cristovam Buarque, Toninho também criticou a aliança do senador do PPS com os distritais Celina Leão e Raimundo Ribeiro, ambos investigados na Operação Drácon. ;Ultimamente, o Cristovam tem sido surpreendente em suas iniciativas, seja em votações no Congresso, seja quando faz suas articulações na política local. Não é o velho Cristovam de esquerda, socialista, com quem a gente conviveu. É uma caixinha de surpresa;, comentou Toninho.

O futuro do presidente da Câmara Legislativa, Joe Valle (PDT), é uma incógnita, mas ele é apontado como um possível candidato capaz de unir forças progressistas e de esquerda. Alguns aliados, entretanto, criticaram a presença de Joe ao lado de Cristovam e de Celina Leão quando eles anunciaram o rompimento com o governo e dispararam críticas contra Rollemberg.

Joe explicou que se encontrou com Cristovam em uma visita de cortesia e que o fato de ter recebido o senador na Casa não tem nenhuma relação com o pronunciamento dos integrantes do PPS. ;O Cristovam veio nos fazer uma visita de cortesia. Ele tem ideias maravilhosas, e a gente quer chamar essas figuras importantes para somar;, disse.


Sobre uma possível candidatura ao Palácio do Buriti, o pedetista diz que prefere concorrer a deputado federal, mas explica que a decisão depende de outros fatores. ;Se dependesse só de mim, seria candidato a deputado federal. Mas faço parte de um grupo em formação. A cidade não pode viver a lógica de candidato de si mesmo. A candidatura tem de ser pela cidade, construída em grupo;, justificou Joe Valle. ;Política tem fila e, hoje, há um monte de gente na minha frente;, desconversou o distrital.

Reação
Em nota divulgada ontem, o PSB no DF criticou a decisão do senador Cristovam Buarque. No texto, o partido de Rollemberg diz que a atuação do PPS no Distrito Federal ;envergonha a tradição do partido construído na luta política fundamentada na discussão de ideias e não em xingamentos;. A cúpula do PSB argumentou, ainda, que é ;estranha; a postura de Cristovam ;a favor de políticos investigados e que tradicionalmente se colocaram contra as lutas sociais em Brasília;.


UTIgate
A investigação sobre suposta cobrança de propina em emendas na Câmara Legislativa começou no fim de 2015. A sobra de uma alteração do orçamento, no valor de R$ 31 milhões, seria destinada a reformas de escolas públicas, mas R$ 30 milhões acabaram liberados para dívidas do GDF com empresas de UTIs em gestões passadas. Um dos parlamentares, que não fazia parte da Mesa Diretora, ajudaria a conseguir retorno de parte da verba como pagamento de propina para quitar despesas de campanha.


Cotados na disputa

; O PDT de Joe Valle, presidente da Câmara, não descarta lançá-lo ao Buriti


; Apesar de Chico Leite preferir o Senado, a Rede defende a candidatura dele ao GDF


; O advogado e professor Melillo Dinis é cotado pelo PSol para disputar o governo


Decisão adiada

O Tribunal Regional Eleitoral do DF (TRE-DF) adiou, para a próxima quinta-feira, o julgamento da deputada distrital Liliane Roriz (PTB) por compra de votos e falsidade ideológica. Os crimes teriam ocorrido durante a campanha eleitoral de 2010. Segundo o TRE, a mudança de data ocorreu por problemas técnicos. Caso condenada, a caçula de Roriz pegará 3 anos, 9 meses e 1 dia de prisão, em regime semiaberto, e multa de R$ 44,9 mil. Já há cinco votos pela condenação da caçula de Joaquim Roriz.

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