Tainan Pimentel*
postado em 16/02/2017 11:30
O desaparecimento de uma família inteira tem intrigado moradores de Planaltina de Goiás, no Entorno do Distrito Federal. Pai, mãe e os dois filhos do casal sumiram da chácara onde moravam, na zona rural do município, a 43km de distância de Brasília. Parentes e amigos estão sem notícias há cinco meses e a polícia diz que as investigações ainda estão em fase preliminar.
O sumiço teria ocorrido no fim de setembro do ano passado, segundo o depoimento prestado à polícia por um irmão de Gilvano Aparecido, 33 anos, uma das pessoas procuradas. Também fazem parte do mistério, a esposa de Gilvano, Magda Vieira, 26, e os filhos do casal, Michael e Alerrandro Rocha, de 5 e 2 anos, respectivamente. Gilvano era caseiro do sítio onde morava com a família havia três.
No depoimento prestado à Polícia Civil de Goiás, o irmão, identificado como Antônio Aparecido, afirmou que um primo deles, João, disse que havia encontrado um bilhete na porta da chácara vizinha quando passava em frente ao local. O papel, deixado por outro caseiro de uma residência vizinha, estava endereçado ao dono da chácara onde Gilvano trabalhava.
[SAIBAMAIS] No bilhete, este caseiro teria escrito que a família de Gilvano havia mudado de estado e que ele estava com as chaves da residência. No texto, o homem ainda disse que Magda o havia procurado antes de viajar, para que ele entregasse outros dois bilhetes, um para parentes e outro para um amigo pessoal da família.
"No bilhete destinado a essa família, Magda avisa que eles estavam se mudando para o Mato Grosso e que tentou entrar em contato com eles para avisar, mas que não conseguiu. Também dizia que entraria em contato depois", relata Cristiomário Medeiros, delegado da unidade policial de Planaltina de Goiás, responsável pelas investigações. "O segundo bilhete, deixado para um homem identificado como Domingos, nós ainda não tivemos acesso. O Domingos já foi localizado e vai ser ouvido nos próximos dias", acrescenta.
Não levaram pertences
Um dos pontos que chama atenção no caso é que, apesar de expressar que estariam se mudando, os pertences da família foram encontrados na chácara onde a família morava. "Existe essa menção no depoimento de um dos parentes. Eles encontraram alguns pertencentes da família no local", declara Cristiomário. Outro fato que coloca em dúvida a carta é a falta de contato da família desde o desaparecimento.
O caseiro que afirmou ter recebido de Magda os bilhetes, ainda não foi localizado para depoimento. Segundo Cristiomário, a alta rotatividade de funcionários rurais da região é um fator que dificulta a investigação. "Algumas pessoas que trabalhavam e moravam lá naquela época se mudaram e os patrões geralmente perdem o contato. Isso requer um esforço da polícia no sentido de localizar essas pessoas", explica.
Até agora, a polícia já ouviu cinco pessoas, entre parentes, amigos e o dono da chácara onde a família morava. O proprietário da residência relatou que tinha pouco contato com a família. "Ele afirmou que o Gilvano, que trabalhava como caseiro na propriedade dele, foi indicado por um outro funcionário. Ele disse, ainda, que ia pouco ao local", declara Cristiomário. "Os outros depoimentos, por enquanto, não contribuíram muito para ajudar a entender o que aconteceu", completa.
O delegado diz que a polícia esteve no local, conversou com famílias da região, e que o caso é cercado de muitos boatos, os quais disse preferir não revelar devido a fragilidade das informações e para não expor os envolvidos.
Sobre o comportamento da família, o delegado encarregado do caso disse que os vizinhos consideravam a família tranquila. "Os vizinhos daquela região são bem isolados. Eles não têm muito contato entre si. Mas os que os conheciam disseram que pareciam ser pessoas boas, que não tinham atritos com ninguém", salienta. "Também disseram que em nenhum momento foram procurados por eles com pedido de ajuda", acrescenta.
Uma das primeiras preocupações da investigação, segundo o delegado, foi ouvir vizinhos que possuem automóvel para saber se alguém transportou a família para algum lugar. "Queríamos saber se alguém deu carona para a família numa data próxima ao desaparecimento. Todos disseram que não", completou Cristiomário.
Amiga desconfia de viagem
Daniele Freitas, 26 anos, é amiga de Magda desde a infância, quando as duas ainda moravam em Pintópolis, no noroeste de Minas Gerais. Segundo a técnica agrícola, a família das duas são próximas. ;Ela conheceu o Gilvano em Minas e foram morar juntos. Os dois mudavam muito de cidade. Não tinham lugar fixo;, detalha.
Daniele diz que passou a ter pouco contato com Magda depois que se mudou para Brasília. Basicamente, falavam-se via internet e costumam se ver somente em festas de final de ano, na cidade natal das duas. ;A gente se falava, às vezes, pelo chat do Facebook. Ela dizia que estava bem. Disse a ela que podia contar comigo para o que precisasse. Mas ela sempre dizia que estava bem;, conta.
Daniele diz não acreditar que a família da amiga tenha mudado de estado. ;As roupas, a fralda do bebê, os pertences. Tudo ficou lá;, justifica. "A família está desolada. Os pais de Magda são idosos, humildes e têm poucos recursos. Não conseguem fazer muita coisa", acrescenta.
Segundo o delegado que cuida das investigações, ainda é cedo para dizer o que aconteceu. "A investigação ainda é preliminar. Vamos pegar dois novos depoimentos nos próximos dias, um em Rio Verde, e outro, em Alto Paraíso", finaliza Cristiomário.
* Estagiário sob supervisão de Anderson Costolli