Otávio Augusto
postado em 18/02/2017 07:05
Na rotina dos hospitais públicos da capital federal sobram reclamações para um dos setores mais castigados da administração pública. As falhas levaram 13.739 pessoas a registrarem queixas contra a Secretaria de Saúde na Ouvidoria do órgão no ano passado. Desse total, 60% se referem a críticas a consultas, exames e cirurgias. Para se ter ideia do volume, no ano passado, é como se a pasta tivesse recebido, em média, 3,5 advertências por dia devido à falta de medicamentos ; 1.278 pacientes registraram oficialmente o problema. Há, ainda, a solicitação de 8.727 serviços.
Mais do que revelar a insatisfação do brasiliense com a área, a estatística passa a ser parâmetro para a implantação de medidas que corrijam os erros. O perfil das denúncias, segundo a Ouvidoria, ilustra um cenário que os gestores públicos talvez não conheçam. Nos últimos dois anos, o serviço atendeu 9,4% mais pessoas e chegou à marca de 27.527 reclamações no ano passado. O Hospital de Base do DF ; referência em cirurgias de cabeça e pescoço ; é a que mais recebe reclamações. São seis registros diários de reclamações, denúncias, solicitações de serviços e informações. No ranking, aparecem, ainda, os hospitais de Ceilândia, do Gama, de Taguatinga e de Sobradinho.
[SAIBAMAIS]Contudo, o Executivo local enfrenta dificuldades para solucionar os questionamentos. A Secretaria de Saúde não sabe quantos são respondidos fora do prazo de 20 dias estabelecido pela Lei n; 4.990/2012 e qual o acúmulo de trabalho. Como tentativa de melhorar a interação com o usuário da rede pública, a Secretaria de Saúde estabeleceu como meta responder às demandas em tempo médio de cinco dias. Para atingir o cálculo, a pasta reformulou o processo de apuração. Os atrasos fizeram com que nove hospitais ficassem impedidos de resolver novas questões enquanto aquelas que estouraram o prazo não fossem solucionadas.
Credibilidade
Apesar da demanda, a população não reconhece a Ouvidoria como um mecanismo de resolução de problemas. A análise é feita até pela Secretaria de Saúde. ;A demora é um dos fatores. A nossa intenção é nos aproximarmos mais das pessoas para que, em vez de elas reclamarem, buscarem informações. Isso é inverter o fluxo atual;, diz a chefe da Ouvidoria-Geral, Meire Machado. A apuração era feita por médicos e enfermeiros, mas ganhou no mês passado uma gerência específica para o atendimento.
O Correio questionou oito pacientes da rede pública para medir a impressão sobre o serviço. Quatro disseram que nunca usaram e que não acreditam na solução do problema. Três disseram que acionaram o canal, mas não tiveram retorno. Um informou que gostou dos resultados. ;A descrença é porque as incertezas são maiores do que as respostas. São muitas negativas, como ;não tem previsão; ou ;o paciente já está regulado;, que afastam o cidadão da ferramenta;, critica a técnica em radiologia Suelen Diogo, 30 anos.