Jornal Correio Braziliense

Cidades

Com racionamento, Plano deve ficar até dois dias sem água por semana

Adasa determina que Caesb reduza a captação de água da Barragem de Santa Maria, que abastece regiões como asas Sul e Norte, lagos Sul e Norte, Sudoeste e Noroeste

O racionamento de água vai chegar a praticamente todas as residências do Distrito Federal. Também não está descartada a hipótese de o corte ser ampliado e ocorrer dois dias por semana. As medidas ainda mais drásticas para contenção de consumo são reflexo de duas resoluções publicadas ontem pela Agência Reguladora de Águas (Adasa) que preveem redução da vazão a ser captada pela Companhia de Saneamento do DF (Caesb), tanto nos sistemas da Barragem do Descoberto, quanto de Santa Maria. Dessa forma, a Caesb terá menos água para oferecer à mesma base de clientes. A empresa tem até o próximo dia 6 de março para começar a operação com menos líquido.


Leia mais notícias em Cidades

Pela primeira vez na história, a Adasa reviu a autorização de retirada de água pela Caesb e determinou que as revisões do valor da captação podem ser mensais. Atualmente, a Caesb pode retirar 6 mil litros por segundo. Entretanto, desde o início da crise hídrica, a companhia conseguiu diminuir a retirada para 3,8 mil litros/s. Agora, ela será obrigada a captar apenas 3,5 mil litros/s. Dessa forma, a redução chega a 41,6%. No Santa Maria, o decréscimo foi mais crítico ; 66% ; e a vazão passará a ser de 500 litros/s. Hoje, a autorização é de 1,4 mil litros/s e, desde o início da escassez, 800 litros/s estão sendo retirados.

[SAIBAMAIS]A redução brusca na vazão média está forçando a Caesb a preparar o rodízio em áreas antes não afetadas, como Plano Piloto, lagos Norte e Sul, Sudoeste, Noroeste, Itapoã e Varjão. A companhia informou, via nota, que os técnicos estão analisando como serão feitos os cortes e que o anúncio de contenção ocorrerá com até três dias de antecedência. Embora impopular, a medida prevê a manutenção de quantidade de água suficiente para o período da seca. Além disso, pode sensibilizar o governo federal a liberar os R$ 50 milhões necessários para a construção do sistema de captação de água do Lago Paranoá. O Ministério da Integração Nacional deve dar a resposta do repasse até o início de março.

Simulações da Adasa mostram que, mesmo com a redução da captação e com o regime normal de chuvas, o Descoberto deve chegar até o fim de maio com valores de 50% a 70% da capacidade, quando o normal é 100%. Em Santa Maria, a previsão para o mesmo período é de 50%, uma vez que esse reservatório tem mais dificuldades para se recompor. ;Ficar sem água é uma medida extrema. Vamos poupar agora, enquanto está chovendo;, disse Paulo Salles, diretor-presidente da Adasa.

Segundo a agência, não choveu como o esperado, assim como as precipitações ocorreram mais na parte norte do DF, longe dos reservatórios. Salles informou que as resoluções fixaram o prazo de 6 de março porque a situação hídrica é crítica. ;Publicamos a resolução de escassez hídrica em novembro e somente em janeiro a Caesb começou com o rodízio. Agora não dá para esperar.;

Pesquisador em hidrologia, Marcelo Resende, coordenador do curso de engenharia ambiental da Universidade Católica de Brasília, diz que o racionamento deveria ter atingido as cidades abastecidas por Santa Maria na mesma época que as do Descoberto. O professor acrescenta que, para o DF passar pela época da seca sem desabastecimento, serão necessárias medidas mais extremas no rodízio. ;O corte no abastecimento terá de ser de mais de 24 horas nas cidades abastecidas pelo Descoberto.;

Presidente do Comitê da Bacia do Lago Paranoá e pesquisador da Embrapa Cerrados, Jorge Werneck acredita que o momento é de redução de demanda até que as obras necessárias sejam feitas e que haja redução da perda de água. ;Todo mundo sabia que seria um período difícil. Ninguém esperava que fosse tão ruim. Agora é monitorar os vários cenários e diminuir as perdas.;