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Rock, celta, ska, eletrônico: em Brasília tem carnaval para todos os gostos

Para quem não é fã de frevo, samba, axé ou marchinha, não precisa se preocupar. Em Brasília, há bloco para todos os gostos e sons. De música celta a ska, de rock pesado a eletrônico, encontre o que faz parte da sua tribo

Luiz Calcagno
postado em 22/02/2017 06:00
Raphael (e) é instrutor de ioga; Caetano, tocador de gaita: unidos para criar o Espírito Celta

O músico Caetano Rojas, 34 anos, manda avisar que o bloco de carnaval Espírito Celta contará com gaita de fole, instrumento tradicional escocês, para animar os foliões. ;Vou levar minha gaita e serei o fole;, sorri. A piada traduz o momento bem-humorado de efervescência que o carnaval na capital federal vive. Longe de se limitar às populares marchinhas, as festividades de Momo contam, cada vez mais, com ritmos variados. Guitarras distorcidas, metais caribenhos, sons jamaicanos e, até, conforme explica Rojas, músicas mais populares do período medieval se revezarão nas ruas para fazer o gosto do mais variado leque de brasilienses (veja Agende-se). Os grupos mais jovens firmam, ano a ano, a presença nas avenidas e quadras do DF.

O Espírito Celta nasceu no aniversário de uma amiga de Caetano Rojas, que é gaitista, e do instrutor de ioga Raphael Barros Dorneles, em 2015. ;Nós nos encontramos na festa dessa amiga em comum. Ele (Raphael) virou para mim despretensiosamente e disse: ;cara, vamos fazer um bloco de carnaval de música celta?; Eu disse: ;vamos;. E estamos na terceira edição;, relata o músico. ;Naquele momento, a capital estava fortalecendo a cultura do carnaval de rua. Já tinha o Populares em Pânico. Eu gostava bastante da banda do Rojas, os Kiaulles, e achava que música celta e carnaval tinham tudo a ver. São canções para deixar as pessoas felizes, para elas pularem, dançarem e se expressarem;, destaca o instrutor de ioga.

Raphael vai discotecar o evento. Eles tentam, agora, angariar fundos com uma campanha na página de Facebook do grupo para cobrir parte das despesas. ;A presença de novos blocos inclui as pessoas que não gostam de carnaval. O tabu de que carnaval é só baixaria está morrendo. As festividades estão cada vez mais democráticas. Quem não gosta de um determinado ritmo popular e vai ficar em Brasília tem uma nova oportunidade;, declara o instrutor. ;As pessoas vão alimentar o espírito com a música e sairão de lá melhores que chegaram. Nosso lema é inspire a chama da música em você;, completa Rojas.

Niemeyer jamaicano

O músico Vinícius Corbucci e os amigos lançaram mão de um trocadilho para batizar o bloco de carnaval de ritmos jamaicanos: Ska Niemeyer. O grupo já tinha se reunido em 2016, com o Carnamaica, mas decidiu usar um nome que não limitasse os músicos ao período. ;O amigo de um amigo sugeriu o nome. Eu tive a ideia do bloco quando tocava em uma banda autoral de ska. Chamei alguns amigos, escrevi algumas marchinhas no ritmo e, graças à boa vontade e à intenção dessa galera de fazer um negócio novo para a cidade, conseguimos nos apresentar em 21 de fevereiro do ano passado, na Vila Planalto. A repercussão foi ótima e eu quis dar continuidade ao trabalho;, conta.

O público terá música instrumental, canções autorais e até marchinhas de carnaval tocadas com arranjo novo, na batuta dos sons jamaicanos. ;Pensamos em algo inusitado. Tocar marchinhas de frevo nesses ritmos é uma coisa que nunca foi feita em Brasília. Uma das coisas que me inspirou e me deu forças para esse trabalho foi o fechamento do Balaio Café. O estabelecimento foi uma vítima de um movimento de silenciamento cultural. O bloco é a nossa reação a esse esvaziamento, e o surgimento de grupos tão variados é um acontecimento maravilhoso. Eu gosto muito da musicalidade das marchinhas, mas estamos em um trânsito entre a tradição e a inovação. Estamos criando uma nova tradição;, conclui.

Metal pesado

Na linha de frente da trincheira dos blocos de carnaval alternativos está o Populares em Pânico. Inspirado por bandas como Black Sabbath e AC/DC e com a proposta de tocar rock pesado e garantir o espaço da rebeldia dos coturnos e das camisas pretas na festa de Momo, eles saem há oito anos. A história da origem é semelhante à de tantos outros blocos. Um grupo de amigos, em uma festa, decidiu que faria algo diferente para aproveitar o feriado com estilo próprio. Compraram camisas, montaram um som improvisado, saíram com caixas de cerveja e viram que a ideia funcionava. Um dos idealizadores, Leonardo Krieger destaca que os fundadores dos grupos, em geral, se conhecem. ;O pessoal do Espírito Celta é nosso amigo e estaremos também no Eduardo e Mônica, distribuindo alguns kits. Combinamos os dias para a programação não bater;, conta.

O roqueiro elogia a efervescência de blocos alternativos no carnaval da capital federal. ;É muito positiva. As pessoas estão ocupando o espaço público, tomando as ruas. E carnaval é isso. É pra ser democrático e na rua. É uma característica que Brasília está recuperando com os novos blocos. O Populares em Pânico mostrou que isso é possível. As pessoas viram que era só sair e fazer. Éramos apenas um grupo de amigos e, agora, temos uma estrutura razoável. Cada um procura e participa daquilo que mais se identifica;, constata Leo.

Para todos

A lista é longa. Quer ouvir rock brasiliense transformados em marchinha? Tem o Eduardo e Mônica. Prefere ritmos caribenhos? Tem o Bora pra Cuba. Música eletrônica? Tem o Bem Meb, o Bloco do Bem. E dá para misturar e aproveitar também os dinossauros do carnaval brasiliense, que não deixam de inovar, mesmo mantendo a tradição. José Antônio Filho, jornalista aposentado e cartunista, mais conhecido como Joca Pavarotti, está entre os ;desorganizadores; do Pacotão, que tem 39 anos de história e já cativou pais, filhos e netos. ;Há mais de 20 anos, apadrinhamos novos blocos. Já batizamos mais de 15. Briguei com amigos que diziam que isso acabaria com o carnaval de Brasília;, garante. ;Música é bom para a saúde do corpo e do espírito.;

O presidente da Liga dos Blocos Tradicionais de Brasília, Jorge Cimas Santos, também elogia. Para ele, os fundadores dos blocos alternativos deviam trabalhar para manter a organização viva durante todo o ano, com outras atividades. ;A cidade acordou. Há mais de 20 anos que trabalhamos para isso. Isso mostra o potencial de Brasília, e a economia do carnaval pode e deve ser muito bem aproveitada. A diversidade e o respeito de manifestação das pessoas são fundamentais. Não podemos escolher ritmos e formas de manifestação. As pessoas têm que pensar em um carnaval seguro, legítimo, limpo e sem violência.

Os melhores de Brasília

O brasiliense entrou no clima de carnaval e começa a tomar as ruas. Senhor dos festejos, nada mais justo que o folião vista a fantasia de juiz e eleja o melhor bloco de 2017. O Correio Braziliense, com patrocínio do Big Box, formará uma comissão julgadora e contará também com uma enquete popular para entregar um troféu aos quatro escolhidos.
Para votar, entre no site http://www.correiobraziliense.com.br/carnaval2017/ e participe.

Agende-se

Confira a programação dos blocos alternativos e aproveite a folia no seu estilo

Bora pra Cuba
Na quinta-feira, na Praça dos Prazeres, na 201 Norte, das 17h às 21h. O evento continua após as 21h, com a banda Bora Coisar, com ritmos do Norte do Brasil, até a 0h de sexta.

Bem Meb Bloco do Bem
No sábado, no Setor Comercial Sul, Quadra 2, no Beco, a partir das 17h.

Eduardo e Mônica
No domingo, com concentração no Setor de Indústrias Gráficas (SIG), Quadra 8, a partir das 13h.
Populares em Pânico
Populares em Pânico
Na segunda feira, na 310/311 Norte, no gramado da entrequadra, a partir das 12h.

Espírito Celta
Na terça-feira, às 16h, na Praça dos Prazeres, na 201 Norte.

Ska Niemeyer
Na terça-feira, na Praça dos Prazeres, na 201 Norte, após a apresentação do Espírito Celta, com convocação para o evento em 5 de março, na Vila Planalto, das 15h às 22h, na Praça da Igreja.

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