Ano a ano, Brasília se consolida também como a capital do carnaval. E com tanta gente tomando as ruas, avenidas e quadras da cidade, o número de blocos estreantes cresce na mesma proporção da animação. Das mais de 100 agremiações que desfilarão este ano, muitas são novatas, com ritmos e públicos variados. Hoje, por exemplo, o frevo dará lugar à música latina e o samba se transformará em salsa e merengue. A inspiração deixará de ser o Rio de Janeiro e Pernambuco no bloco Bora pra Cuba. Pela primeira vez na festa de Momo, os organizadores mostram a diversidade que só a época de carnaval pode proporcionar.
Uma das fundadoras do bloco, Juliana de Andrade, 36 anos, acredita que o carnaval é a melhor época para se divertir e viver a tradição do povo. Para ela, o assunto é questão de vida. ;Eu me assumi carnavalesca. O carnaval, para mim, é Deus, é tempo, uma forma de a gente estar neste mundo e pertencer a ele;, diverte-se.
O nome do bloco também faz uma manifestação sobre a política e as questões ideológicas que marcaram o ano de 2016. Do impeachment de Dilma Rousseff à morte de Fidel, a solidariedade para Cuba foi o principal ponto a ser trabalhado durante o festejo. Para a organizadora, não é possível fazer uma reverência à cultura cubana, que ainda é um marco anticapitalista, sem falar de política. ;O Brasil precisa dialogar com isso, e não tem forma melhor do que por meio das nossas vidas criativas, desse intercâmbio cultural;, explicou Juliana.
Uma das atrações musicais é a banda Sabor de Cuba, que reúne nove músicos oriundos de Cuba, da Colômbia e do Brasil. O músico Ricardo Vieira, 34 anos, acredita que a ideia do festejo deles é justamente convidar os foliões a escutar outro estilo de música, que fuja do samba e das marchinhas de samba. ;Nossa ideia é difundir a cultura latina em geral. Aqui em Brasília, está começando a pegar. Já tem aulas, festas de música latina. Eu acho que vai ser bem animado e divertido;, conta. Para o colombiano Manuel Urbano, 36, a aceitação que tanto a banda quanto o bloco estão recebendo por causa da ideia diferente é muito grande. ;Tem muita gente com interesse de música latina. Eu fico muito feliz e empolgado quando vejo gente curtindo nossa música.;
Mas não é apenas Cuba que está na lista de lugares homenageados pelos blocos estreantes. A própria capital federal também entra na folia. O Bloco do Quadrado faz uma brincadeira entre o nome e o contorno do Distrito Federal desenhado no mapa brasileiro. Também localizado na Praça dos Prazeres, o festejo pretende divulgar muito trabalho autoral das bandas convidadas, em sintonia com axé dos anos 1990, samba, frevo e marchas de carnaval.
O bloco foi fundado pelo Coletivo do Quadrado, um grupo de artistas ; de teatro, música e poesia ; que trabalha há um ano e meio na produção e divulgação de projetos brasilienses. A musicista Litieh Martins, 28, acredita que o grupo e o bloco não somente falam sobre o carnaval, mas também lutam pela pluralidade de pessoas, combate ao preconceito e igualdade de gênero. Além disso, ao promover o trabalho autoral, a expectativa é de que a cultura no DF cresça. ;A gente quer sempre mostrar nossa arte, trazendo música, fazendo o que a gente faz com alegria e mostrando para as pessoas.
A gente rala pra caramba, então vamos até onde a cultura está sendo consumida. Ninguém vive sem cultura;, afirma.
Outro estreante na folia brasiliense tem como ideologia o rock nacional. Inspirado na música de mesmo nome da banda Legião Urbana, o bloco Eduardo e Mônica surgiu por parte de um grupo de 12 amigos músicos, que já tocavam e apresentavam as próprias bandas de pop e rock pela cidade. Para agradar a todos, os ritmos das músicas serão variados e o objetivo é que o folião possa cantar e se divertir com as melodias que animam as festas de diferentes gerações.
Exemplo
E quem já teve a missão de colocar um bloco na rua pela primeira vez sabe como o processo pode ser difícil. O Vai com as Profanas fez sua estreia na festa de Momo no último sábado. Para uma das organizadoras do bloco, Carol Ferrare, a parte mais difícil foi a ansiedade para saber se tudo ia dar certo, principalmente, por causa de patrocínio privado. ;O bloco não se paga, a gente investe tempo, dinheiro e não tem lucro, então a Secretaria criou uma lei para o carnaval para buscarmos patrocínio. A gente só soube que ia sair com certeza 10 dias antes;, explicou.Mas isso não quer dizer que o trabalho duro não compensou o resultado. Ferrare conta que o evento foi todo tranquilo, sem assédio ou outras ocorrências graves. ;Foi tudo maravilhoso. E, mesmo com pouco tempo de divulgação, as pessoas compraram a nossa ideia. Deu tudo certo;, afirmou. Ao todo, a estimativa é de que de 4 mil a 5 mil foliões tenham aparecido para colorir as ruas junto com o Vai com as Profanas. No ano passado, o grupo realizou um festejo fora de época, em agosto, e, por causa do sucesso, retornou à folia. Na música, a ideia foi uma mistura entre a cultura tropicalista e a ideologia feminina.
Mudanças
Quem quiser criar um bloco de rua deverá ficar atento para algumas exigências a partir de 2018. Tanto o cadastro, quanto a emissão de alvarás e licenças devem ser emitidas por meio do Centro Integrado de Atendimento ao Carnavalesco. Mas, para isso, os interessados devem solicitar os serviços públicos com, no mínimo, 30 dias de antecedência. A licença é obrigatória para que o governo possa avaliar como distribuir os serviços públicos de segurança, estrutura e mobilidade para os dias de folia. Também estão prevista a combinação entre o financiamento estatal e a criação de editais de patrocínio direto.Agende-se
Confira a programação de alguns blocos estreantes na folia de carnaval
Bora pra Cuba
Hoje, às 15h
Praça dos Prazeres ; 201 Norte
Bloco Bora Coisar
Hoje, às 16h
Praça dos Prazeres ; 201 Norte
Festa Carnaviola
Sexta, às 19h
Casa do Cantador ; QNN 32,
Ceilândia Sul
Bloquinho Multiplicidade
Sábado, às 10h
702/703 Norte
Bem Meb Bloco
Sábado, às 16h
Setor Comercial Sul, Quadra 2
Eduardo & Mônica
Domingo, às 13h
Setor de Indústrias Gráficas
(SIG), Quadra 8
Bloco do Quadrado
Segunda, às 16h
Praça dos Prazeres,
201 Norte