Cidades

Ossos de vítimas de acidente na BR-020 continuam no veículo, diz mãe

Filhos, neto e nora de Denise Mathias Carvalho, moradora de Sobradinho, morreram carbonizados em acidente em Goiás na última sexta-feira (24/2)

Mariana Fernandes
Mariana Fernandes
postado em 27/02/2017 17:17
Jaqueline Nayara Macedo e Bruno Mathias morreram em acidente
Denise Mathias Carvalho perdeu, na sexta-feira (24/2), os dois filhos, o neto e a nora em um acidente de carro na BR-020, em Goiás. Além deles, cinco pessoas, que estavam no outro veículo envolvido, morreram. A morte de familiares, porém, não foi o único drama que ela diz enfrentar. Segundo relata a moradora de Sobradinho, de 58 anos, além de não ter podido retirar os corpos para realizar o velório, viu um cena da qual dificilmente se esquecerá. Partes do que ela acredita ser ossos de seus parentes, que morreram carbonizados, ainda estavam no local do acidente quando ela foi até lá retirar o veículo.
"Foi uma verdadeira cena de horror. Pedaços de ossos dos meus filhos ainda estão lá, dentro do carro e espalhados pelo local", conta ao Correio. "O IML não recolheu tudo que devia. Isso é um desrespeito que eu não consigo nem descrever. Para uma mãe, isso é muito forte", completa.
Imagem mostra o que Denise Mathias diz ser pedaços de ossos de seus parentesDenise diz que, ao se deparar com a cena, decidiu não remover o veículo e acionar a Justiça por danos morais. "Alguém tem que se responsabilizar por isso. Já não basta tudo que estou passando? Eu vou procurar a lei e colocar o caso na Justiça, com certeza." Ela informou que, ainda nesta segunda-feira (27), iria a Formosa (GO) registrar a ocorrência na delegacia local.

Estavam no veículo os filhos de Denise, Júlia Mathias, 16 anos, e Bruno Mathias, 23; a companheira de Bruno, Jaqueline Nayara Macedo, 31; e o filho de Jaqueline, Gabriel Macedo, 4. Todos eram brasilienses e morreram carbonizados na hora. Os corpos foram levados para o Instituto Médico Legal (IML) de Formosa e ainda aguardam liberação. Segundo Denise, o procedimento depende de exames de identificação dos corpos e o processo está sendo prejudicado devido ao feriado de carnaval. "Fiz o exame de DNA na sexta-feira mesmo, porém o resultado deve demorar a sair, por conta do carnaval." Segundo ela, a previsão é que isso ocorra apenas a partir da próxima segunda-feira (6/3). "Um transtorno sem tamanho. Uma desconsideração absurda", lamentou.
O Correio entrou em contato com o IML de Formosa e foi atendido por um funcionário que não quis se identificar. Segundo ele, que ressaltou não ser o responsável pelo caso, uma situação como a descrita por Denise não é normal. ;Isso jamais, jamais acontece mesmo. Fazemos todo o nosso trabalho sempre com competência. Tudo é feito com absoluta responsabilidade e jamais sobram restos mortais no local;, garantiu.
Ao ser indagado se poderia colocar a reportagem em contato com um responsável, o funcionário sugeriu que se tentasse contato com a Polícia Civil de Formosa. O delegado responsável pelo caso não estava na delegacia e a funcionária que atendeu a ligação orientou a retornar o contato após o carnaval.
Leila Lopes Mathias, madrinha de Bruno, conta que, desde a notícia do acidente, os dias têm sido "perturbadores". "Diante de tanto sofrimento, gostaríamos apenas de poder enterrar os meninos esta semana. Isso aliviaria profundamente a nossa dor. Quando você perde alguém dessa forma, para que se tenha realmente a certeza do que aconteceu, é preciso enterrar. O que a nossa família mais deseja neste momento é poder sepultar os nossos mortos", relata.

O acidente

A colisão entre dois carros na BR-020 deixou nove pessoas mortas, entre elas, duas crianças. Com o impacto, o veículo do DF pegou fogo e, segundo informações do Corpo de Bombeiros de Posse (GO), os quatro ocupantes morreram carbonizados. Os corpos de todas as vítimas foram levados para o Instituto Médico Legal de Formosa (GO), distante 80km de Brasília.
O acidente aconteceu perto de Alvorada do Norte (GO), a 280km do DF, na tarde de sexta-feira (24/2). O outro carro envolvido, tem placa da Bahia e era ocupado por cinco pessoas. Quatro morreram no local e uma pessoa chegou a ser socorrida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para o Hospital de Alvorada, mas não resistiu.
De acordo com o Corpo de Bombeiros de Posse, o Renault Logan com placa do DF era conduzido por Bruno Mathias Machado Carvalho. Além dele, estavam no carro Júlia Mathias, Jaqueline Nayara Macedo da Silva e uma criança, Gabriel Macedo Galvão.
O segundo carro envolvido era um Renault Fluence, da Bahia. Segundo os bombeiros, o condutor era Heron Flores da Costa. Ele estava acompanhado de Eduardo Simão Bernardes, Eduardo Luiz Civilli Bernardes - uma criança -, Priscila Civilli Bernardes e Patrícia Civilli, que chegou a ser levada para o Hospital Municipal de Alvorada do Norte, mas não resistiu e morreu.

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