Cidades

"Rollemberg disputa no submundo", diz Celina Leão em entrevista ao Correio

Deputada diz que diretor-geral da Polícia Civil, Eric Seba, sabia que agentes acompanhariam depoimento contra governador do DF

Ana Maria Campos, Ana Dubeux
postado em 08/03/2017 06:00
Escuta ambiental que gravou durante 240 horas os bastidores do gabinete da deputada Celina Leão (PPS) revelou a estratégia montada depois da busca e apreensão da Operação Drácon. Nos dias que se seguiram ao escândalo, Celina reuniu e ouviu testemunhas com denúncias contra adversários da distrital, que estava no olho do furacão da denúncia de venda de uma emenda parlamentar. Nessa estratégia, Celina contou com a ajuda do delegado Flamarion Vidal e dos agentes Marcello Oliveira Lopes e Welber Lins de Albuquerque, integrantes da Polícia Civil do DF.

Em entrevista ao Correio, Celina sai em defesa dos policiais civis. Diz que eles apenas a orientaram no momento em que colhia o depoimento do hacker Jefferson Rodrigues Filho, que clonou o telefone do governador Rodrigo Rollemberg. E garante que um deles, Marcello Oliveira, comunicou ao diretor-geral da Polícia Civil, Eric Seba, que se reuniria com Celina. A deputada acabara de ser afastada da Presidência da Câmara, por decisão judicial, na Drácon. Na ocasião, fim de agosto de 2016, Marcello e Welber estavam cedidos para cargos de confiança no Ministério da Defesa, onde ainda estão lotados. ;O Eric tinha pleno conhecimento de que a gente atenderia o Jefferson. Nada foi escondido;, afirma Celina.

A deputada atribui ao governador Rollemberg toda a trama que a levou a responder uma ação judicial por corrupção passiva, proposta pelo Ministério Público do DF e Territórios, com base em gravações realizadas pela deputada Liliane Roriz. O motivo seria a oposição ao governo do DF. Em uma das conversas gravadas, Celina ataca Rollemberg. Diz que o atual governo é pior do que o anterior. Na entrevista ao Correio, ela explica o que pensa: ;Agnelo disputava comigo na política. Rollemberg quer disputar no submundo;.

Deputada diz que diretor-geral da Polícia Civil, Eric Seba, sabia que agentes acompanhariam depoimento contra governador do DF
As escutas da Drácon indicam que você se reuniu com pessoas que tinham munição contra seus adversários O que houve?
Sou adversária e não inimiga do deputado Chico Vigilante desde meu primeiro mandato. E quem foi muito oportunista com a questão da Drácon foi o Chico Vigilante. No auge da Drácon, ele faz uma acusação, que já está nos autos como mentirosa, sobre uma possível obstrução da Justiça de um assessor meu. Sou uma deputada de oposição e recebo denúncias diariamente.

A ex-assessora do deputado Chico Vigilante procurou você?
Ela procurou a minha assessora de imprensa e disse que teria fatos relevantes para relatar. Eu a recebi e até pedi que a Daise (assessora) fizesse um registro no cartório das mensagens de WhatsApp que ela enviou. Ela faz acusações gravíssimas contra Vigilante e, realmente, passou do nível da política. Por isso, fiz questão de registrar uma ocorrência na Polícia Legislativa da Câmara. Também pedi que fosse comunicado ao deputado Chico Vigilante. Isso quebra a versão dele de que fiz um dossiê contra ele.

Como foi a abordagem ao Jefferson Rodrigues Filho, que clonou o celular do governador Rodrigo Rollemberg? Segundo as gravações, ele esteve em seu gabinete.
Ele me procurou para fazer denúncias contra o governador. É absolutamente normal. Faz parte do meu mandato como deputada. Essas duas pessoas que recebi mostram que tanto o deputado Chico Vigilante quanto o governador Rodrigo Rollemberg têm muito a explicar. Essa história do Jefferson não se encaixa. Como o governador manteve no governo alguém que fez o que fez? Ele (Jefferson) ficou no governo um tempo, mesmo depois de a clonagem ser descoberta. Nós achamos até que era uma trama do governo. Por isso, pedi orientação. Se ele me achacasse, a polícia daria voz de prisão.

Em uma das conversas, você diz ao Jefferson que sairia uma bomba contra o governo. Que havia uma bomba, e isso seria apenas o recheio. O que quis dizer?
Há muitas bombas. Você imagina: um governo que não teve coragem de estancar um processo de corrupção como existe na Secretaria de Transportes. Acha que isso não vai estourar na cabeça do Rollemberg?

Poderia explicar como foi essa conversa com o delegado Flamarion Vidal, que levou à indicação de um agente da Polícia Civil para acompanhar o depoimento do hacker do celular de Rollemberg em seu gabinete?
Isso é muito importante esclarecer. Partiu uma má-fé da polícia porque o Eric Sebba foi avisado pelo Marcello (Marcello de Oliveira Lopes). O Marcello é uma pessoa que conheço da minha igreja. É um agente da Polícia Civil. Conversei com ele sobre a história que tinha sido procurada pelo Jefferson, mas disse que tinha medo de ser uma armação política. Ele me disse: ;Se você quiser, a gente faz um acompanhamento e dá voz de prisão se for preciso;. Só que o Marcello foi supercorreto e comunicou ao Eric. O Eric tinha pleno conhecimento de que a gente atenderia o Jefferson. Nada foi escondido.

Como Marcello Lopes comunicou o diretor-geral da PCDF?
Por WhatsApp. Ele tem as mensagens. Eles se relacionam bem. Foi até engraçado. O governo quis vitimizar uma situação que não era para isso, porque, querendo ou não, eu poderia ter comunicado em plenário que recebi o Jefferson. Mas essa não foi a minha postura. Eu encaminhei à Polícia Federal e ao Ministério Público.

Eric Seba autorizou?
Não sei se autorizou, mas ele tinha pleno conhecimento. E trocou várias mensagens com o Marcello. Se a Corregedoria vai investigar os policiais, tem de investigar o diretor-geral também. O governo está se vitimizando para não dar explicações sobre essa situação. Ele deixa o governo muito constrangido.

Quem estava no seu gabinete? Os agentes Marcello e o Welber (Lins de Albuquerque)?
Sim. Os dois. A nossa preocupação é que houvesse um pedido de extorsão que daríamos voz de prisão. Eles estavam lá para isso, porque sou uma deputada e não uma delegada. No dia seguinte ou no mesmo dia, o Marcello chegou a colocar que o Eric queria me encontrar, sabia que eu estava limpa.

Limpa de quê? Da Drácon?
Sim, da Drácon. Eu disse que não tinha interesse nenhum de encontrar com o Eric. Achava até feio. Ele é o diretor-geral. Eu me lembro como se fosse hoje. Se não foram editadas as gravações, isso está lá.

Por que pediram ajuda especificamente ao Flamarion, delegado da 4; DP, do Guará?
Porque é muito complicado um delegado ter a coragem de fazer o que é certo.

Você já conhecia o Flamarion?
Não. Quem o conhece é o Marcello.

Mas temos uma ocorrência que você registrou em Santa Maria, quando Flamarion era delegado-chefe, com denúncia contra um jornalista. Por que em Santa Maria?
Essa denúncia ocorreu porque eu estava numa associação que faz trabalhos sociais em Santa Maria e, como é uma denúncia de internet, eu poderia fazer em qualquer lugar. E essa eu registrei em Santa Maria porque eu estava lá. Absolutamente normal. Mas a minha relação com o Flamarion se deu por causa do Marcello. Porque são amigos.

O fato de Marcello Oliveira ter sido nomeado para um cargo no Ministério da Defesa, comandado por Raul Jungmann, do seu partido, tem algo a ver com você?
É a maior injustiça ter saído esse tipo de matéria. Quando eles estiveram no meu gabinete, eles já estavam no Ministério da Defesa. A escolha do Marcello e do Welber se deu porque são superpreparados, com vários elogios na folha funcional. Não foi indicação minha, até porque nunca estive com o ministro Jungmann.

Sobre a frase do distrital Cristiano Araújo: ;Vamos ser sinceros. Aqui não tem nenhum virgem;, pegou mal?
Acho que essa foi uma declaração que a pessoa faz na intimidade, que tinha algo a ser emendado. Mas é muito ruim para o parlamento como um todo, porque vivemos um momento muito ruim na classe política. Ainda assim, não vejo como uma afirmação para tentar colocar como se fossem todos os deputados imorais. Foi mais um desabafo no sentido da política mesmo.

Receber informações com temas pessoais não é uma atitude fora dos padrões?
Concordo com você. Acho que é totalmente fora dos padrões. Tanto que não fiz o registro da Gisele (assessora de Vigilante) na Polícia Civil. Havia o medo de um vazamento sobre as informações que ela trouxe.

Nas gravações ambientais, você diz que Rollemberg é pior do que Agnelo, de quem você foi adversária. Pensa mesmo isso?
Quando falo que o governador é pior que o Agnelo, é porque o Agnelo, que tinha muita história de corrupção no governo, que tinha muita coisa errada, disputava comigo na política. O Rodrigo quer disputar comigo no submundo. Entendeu?! Ele é quem monta dossiê, usa as instituições...

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação