Cidades

Pequenos produtores amargam prejuízos da crise hídrica no DF

Com os níveis de volume de água abaixo do esperado, produtores rurais estão sendo diretamente afetados

Carolina Gama - Especial para o Correio
postado em 09/03/2017 06:15
Claudionor teve uma queda de 30% na produção: falta fiscalização
Diante da grave situação hídrica no Distrito Federal, desde ontem, as captações de água superficiais e subterrâneas outorgadas para fins de irrigação e piscicultura dos rios que abastecem a Barragem do Descoberto foram reduzidas em no mínimo 50%. A determinação da Agência Nacional de Águas (ANA), em conjunto com a Agência Reguladora de Águas (Adasa), atende a resolução publicada no Diário Oficial do DF (DOOF) que estipulou um prazo de 48 horas para que o volume de água alcançasse 45,8% no reservatório ; ontem, o nível estava em 43,48%. Com isso, produtores rurais temem prejuízo no plantio e o repasse para o consumidor final.
A medida também prevê a suspensão da emissão de outorgas prévias, preventivas e de direito de uso dos recursos hídricos na área anterior ao reservatório, exceto para fins de consumo humano e animal. A justificativa é a garantia de segurança hídrica da população que depende do Descoberto para abastecimento. A Adasa trabalha com a perspectiva de que as medidas para restrição de uso surtirão o efeito desejado. A instituição informou que cobrará o cumprimento da lei e, no caso de desrespeito, a primeira providência será a lacração do ponto de captação e a notificação do responsável pela irregularidade.

[SAIBAMAIS]A região do Rodeador, localizada em Brazlândia, é uma das áreas abastecidas pelo reservatório do Descoberto. Com os níveis de volume de água abaixo do esperado, produtores rurais estão sendo diretamente afetados. No caso de Claudionor de Jesus Reis, 37 anos, antes mesmo de receber a notificação da ANA, diminuiu, por conta própria, a quantidade usada no plantio do recurso natural. ;De dois meses para cá, eu tinha uma vazão de 20 mil litros por dia. Hoje, tenho apenas 6 mil. Com essa decisão, minha produção caiu mais de 30% e, de 20 funcionários, precisei mandar embora 14.;

Apesar de puxar a água de uma cisterna que mantém no terreno, Claudionor se mostra aflito com o período da seca. ;Eu nunca vi um sol desses em Brasília. Concordo com a medida da Adasa, mas acho que precisa reforçar a fiscalização. Se todo mundo diminuir a irrigação em 50%, o produto automaticamente aumenta de preço e não teríamos um prejuízo tão grande. O problema é que nem todo mundo tem essa consciência e acaba arranjando outros meios de conseguir água;, comenta. Trabalhando na terra há oito anos, o pequeno produtor também teve que vender um dos dois caminhões que usava para fazer entregas. ;Parei até de atender alguns clientes, pois não tinha mercadoria suficiente.;

Prevenção

O presidente do Sindicato de Floricultores, Fruticultores e Horticultores (Sindifhort-DF), Everaldo Firmino, ressalta que, desde meados do ano passado, os produtores ao redor dos afluentes da Bacia do Descoberto vêm tomando medidas para economia de água, como rodízio. Com a redução da captação em 50%, ele estima um prejuízo para a produção, uma vez que apenas a região é responsável por 40% da produção da capital do país. ;O produtor perde a capacidade de investimento, uma vez que ele não sabe se, no futuro, pode haver uma medida mais drástica. É um risco investir. A agricultura requer planejamento. Ainda não sabemos calcular o prejuízo, mas, com certeza, deve ocorrer uma redução de 50% do plantio;, destacou. Firmino também aponta que o consumidor desembolsará mais pelos produtos no futuro.


Audiência pública

A Adasa realiza hoje, às 9h, uma audiência pública para definir medidas contra o desperdício de água, no auditório da agência. Qualquer cidadão tem o direito de participar e opinar, tanto presencialmente, quanto por meio do endereço eletrônico AP_002_2017@adasa.df.gov.br. A colaboração virtual, porém, só pode ser feita até meio-dia. A consulta pública é resultado de uma decisão da agência, que determinará multa de R$ 250 para quem desperdiçar água potável para atividades consideradas ;não prioritárias;.

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