Cidades

População e governo adotam estratégias para enfrentar a falta d'água

GDF deverá receber sinal verde da União para começar a captar água do Paranoá na próxima semana; enquanto isso, população busca meios para lidar com o racionamento

Gabriella Bertoni - Especial para o Correio
Pedro Grigori - Especial para o Correio
Carolina Gama - Especial para o Correio
postado em 11/03/2017 08:00 / atualizado em 19/10/2020 17:29
Na tentativa de amenizar os impactos da crise hídrica, o Governo do Distrito Federal busca adiantar as obras para captação de água do Lago Paranoá. O projeto, que era previsto para 2019, precisou ser antecipado de forma emergencial para reforçar as áreas abastecidas pelo Reservatório de Santa Maria/Torto. A expectativa é que na próxima semana o Ministério da Integração Nacional libere R$ 55 milhões. Enquanto isso, brasilienses continuam a enfrentar o racionamento. Em algumas localidades, o impacto é percebido de forma mais severa, com a ausência de fornecimento por mais de dois dias. Já em outros, a população não se sente tão atingida. A Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb) justifica que o antigo sistema que abastece o Plano Piloto e cidades vizinhas deixou a operação do rodízio mais complicada do que nas cidades abastecidas pelo Descoberto. Ontem, o Governo do Distrito Federal apresentou um Plano de Enfrentamento à Crise com 44 ações (veja quadro).

 
O diretor-presidente da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do DF (Adasa), Paulo Sérgio Bretas, garante que o uso do Lago Paranoá não prejudicará o lazer dos frequentadores do local nem o nível da água. “A redução do nível da água do Paranoá será insignificante. Vamos retirar o recurso hídrico de um ponto específico, no Lago Norte, tratar essa água e ela chegará às casas totalmente potável”, garantiu. Ele explicou, ainda, que são áreas abastecidas pelo Santa Maria/Torto que receberão esse reforço. O plano é que cerca de 700 litros de água sejam captados por segundo e distribuídos para Lago Norte, Varjão, Setor de Mansões do Lago Norte, Taquari, Paranoá e Itapoã.
 
 
 
No conjunto 6 da QI 15 do Lago Sul, a dona de casa Joaquina de Castro, 75 anos, não sentiu tanto os impactos do rodízio na região. Antes mesmo do racionamento, ela adotava medidas para evitar o consumo excessivo. Com isso, não chegou a ficar sem abastecimento. Com alguns baldes, a família passou a captar água da chuva, assim conta com um reservatório de 5 mil litros. “Depois de cheios, eu coloco cloro e tampo os baldes. Toda a água é usada em atividades domésticas na casa, seja para lavar os pisos e a área, seja para dar descarga e encher a piscina”, disse.
 
 
 
Se por um lado Joaquina não sente tanto a crise, na área rural de Brazlândia, os produtores Lucas Silva, 23, e Auri França, 26, temem ter que interromper a produção. “Estou com medo da época da seca. Estamos trabalhando ao contrário de formigas. Na época de chuvas, estamos dando o nosso máximo para, quando chegar a seca, termos alguma renda”, disse Lucas. Criados na roça, os irmãos afirmam que nunca viram a situação da água tão complicada. “Nós plantamos folhagens de todos os tipos e, como medida imediata, colocamos um plástico embaixo do nosso poço para que a água não seque tão rápido e consigamos irrigar. Mesmo assim, ainda não é o suficiente.”

Enfrentamento

Para enfrentar situações como a de Lucas, o GDF apresentou as 44 ações do Plano de Enfrentamento à Crise. O documento é resultado do trabalho de 17 órgãos e prevê ações emergenciais para 180 dias, contados desde 25 de janeiro, data em que o governo decretou situação de emergência. O governador Rodrigo Rollemberg frisou que, nos últimos dois anos, o volume de chuva foi muito abaixo do esperado. “Este ano, o nível de água da Barragem do Descoberto está com 30% a menos em relação ao mesmo período do ano passado”, exemplificou.

O plano foi dividido nas áreas de fiscalização, infraestrutura, educação e regulação. Uma das ações propostas é a implementação de projetos educativos sobre o uso da água no ensino básico, além de incentivo aos diretores que economizarem o recurso e também energia. Os dirigentes das escolas que não conseguirem diminuir o consumo terão o valor sobressalente descontado no repasse feito pela Secretaria de Educação para manutenção da unidade.

Reabastecimento

Desde que o racionamento começou a atingir o Lago Norte, na semana passada, o aposentado Francisco Monteiro, 64 anos, tem tido problemas com a qualidade da água que chega na casa onde mora, na QL 10. Quando a água volta à residência do aposentado, ela apresenta uma coloração marrom e bastante barro. “Meu reservatório fica cheio de terra. Entrei em contato com a Caesb duas vezes e com a Adasa uma vez, mas eles dizem que não podem me ajudar porque o problema é na minha residência. Mas não faz sentido, já limpamos tudo e a água que chega aqui é suja”, declara. Com isso, o racionamento, que deveria diminuir o consumo de água na residência, está tendo um resultado inverso. Além disso, no último mês, ele pagou R$ 1.080 de conta por causa da tarifa de contingência. “O problema é que, quando o serviço é restabelecido, tenho que lavar o reservatório que ficou sujo e acabo desperdiçando muita água”, relata.

A Caesb informou que episódios com água anormal são pontuais e localizados. Quando isso acontece, a empresa realiza um procedimento de descarga de limpeza nas redes para melhorar a coloração da água. No Plano Piloto, a situação é bem específica. Os antigos sistemas da região deixaram a operação de racionamento mais complicada do que a ação nas cidades abastecidas pelo reservatório do Descoberto. Segundo o presidente da Caesb, Maurício Luduvice, a dificuldade da operação era esperada. “Como as redes têm 50 anos ou mais e os registros são antigos, estamos abrindo com mais cuidado para expulsar o ar e a água amarelada que pode ficar depositada”, explica. “Estamos com algumas obras para modernizar a rede, entretanto, a execução é mais difícil porque são áreas urbanas consolidadas.”

* Estagiário sob supervisão de Sibele Negromonte

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