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Diante da seca, GDF não descarta aumentar dias de racionamento de água

Considerados estratégicos para recompor o nível dos reservatórios, os meses que antecedem o período de estiagem têm tido precipitações bem abaixo da média histórica

Deborah Fortuna
postado em 14/03/2017 06:00

O cabeleireiro Oliver Garcia garante que o salão não suportará ficar mais um dia sem água: prejuízo certo


A falta de chuvas no Distrito Federal tem agravado a crise hídrica que castiga a capital. Isso porque os meses considerados chuvosos e essenciais para manter os níveis dos reservatórios seguros para o abastecimento da população não têm registrado as médias históricas de precipitações. Nos primeiros 13 dias de março, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), havia chovido apenas 23,3 mm, na capital do país ; 87% abaixo da média histórica para o mês, que é de 180,6mm. O índice é menor, inclusive, que a média de maio ; 30,6mm;, mês que marca o início da seca em Brasília. Diante dessa possibilidade de estiagem antecipada, o Governo do Distrito Federal (GDF) não descarta a possibilidade de aumentar o rodízio no abastecimento.

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[SAIBAMAIS]Os meses de novembro a abril são considerados estratégicos para o abastecimento da capital ; período em que o nível dos reservatórios é recomposto para enfrentar a longa estiagem. Para se ter uma ideia, segundo a Assessoria de Imprensa da Agência Reguladora de Águas do DF (Adasa), em março do ano passado, o índice das barragens do Descoberto e de Santa Maria/Torto estava em 100% ; ontem, elas registravam 43,60% e 47,56%, respectivamente. De acordo com o Inmet, a pouca presença de chuva está ligada ao fenômeno meteorológico vórtice ciclônico, concentrado entre Goiás, DF e parte de Tocantins. Ele faz com que ocorra poucas formações de nuvens em toda a região. O fato se junta a um comportamento que tem se repetido ao longo de três anos, quando ocorreu a redução de chuvas em Brasília. De novembro do ano passado até ontem, apenas em fevereiro a média de precipitações foi ultrapassada (veja quadro).

O chefe da Casa Civil, Sérgio Sampaio, explicou que o Executivo local tem monitorado a situação das barragens e estuda a possibilidade de aumento nos dias de rodízio. ;A curto prazo, acho que conseguiremos nos manter dentro do nível, com a redução do consumo. Mas, durante o período seco, não podemos assegurar nada;, afirmou. A aposta do governo, segundo Sampaio é em outras ações. ;Estamos trabalhando o aumento da captação de água por meios de obras no Córrego Bananal, e a emergencial do Lago Paranoá, mas, anteriormente a isso, não descartamos aumentar o esquema de rodízio.;

Com um estúdio de beleza em Taguatinga, o empresário Oliver Garcia, 33 anos, não consegue contabilizar qual seria o tamanho do prejuízo com a implantação de mais um dia de racionamento na região. Atualmente, o estabelecimento chega a ficar mais de 48 horas sem água. ;É muito transtorno. Tenho que pedir aos clientes para virem com cabelos lavados ou suspender atendimentos, pelo fato de ser impossível realizar alguns serviços sem água;, detalhou. A caixa-d;água na casa onde funciona o negócio não é suficiente para o abastecimento. ;Eu teria que mudar o encanamento do local, e isso é inviável. Mudar também de local é complicado, devido ao contrato de aluguel. Enquanto isso, estou acumulando prejuízos. Infelizmente, tenho que fechar em alguns dias de racionamento. Aumentar um dia complica ainda mais a situação;, reclama.


Possibilidades


Segundo o presidente da Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb), Maurício Luduvice, os estudos para a implantação de um segundo dia de rodízio envolvem o monitoramento constante das condições dos reservatórios. ;As chuvas estão aquém do esperado, por isso, não retiramos a possibilidade de um novo esquema de rodízio. Contamos com a consciência dos consumidores para evitar essa nova situação. O que precisamos é garantir recurso hídrico para o período de seca. Estamos estudando todas as ações minuciosamente;, explicou.

O professor de hidrologia aplicada do curso de engenharia civil do Centro Universitário Iesb Dennyson Lima do Vale observa um cenário gravíssimo de problema ambiental para o DF. Segundo ele, o período chuvoso é considerado como chave para manter os reservatórios cheios. ;Tradicionalmente, chove-se até abril. Depois disso, a região entra numa fase de seca, com precipitações novamente apenas em novembro. A ausência de chuvas atualmente é preocupante. Em fevereiro, houve algumas incidências, mas não caiu na área desejada, que são nas bacias que abastecem esses reservatórios;, detalhou. Segundo o especialista, a falta de chuvas também atrapalha a formação de lençóis freáticos. ;Se não chove, não há água para infiltrar no solo e abastecer os rios no período de seca. A situação é bem preocupante.;

Hoje, o Ministério Público do DF e dos Territórios promove uma audiência pública para discutir a crise hídrica no DF. O evento, que ocorre das 9h às 18h45, no auditório da sede do MPDFT, contará com exibição de vídeos, painéis, avaliações de especialistas e debates. No painel Boas Práticas e Mobilização Social, que contará com a participação de promotores de Justiça do Meio Ambiente (Prodema) e do Direitos do Consumidor (Prodecon), serão apresentadas ações que a comunidade realiza em prol da preservação da água. No período da tarde, pesquisadores e integrantes do governo tratarão de causas e desafios da crise hídrica. A compilação dos trabalhos fornecerá elementos para possíveis encaminhamentos de ações.

Justiça prevê multa

A Justiça estabeleceu um prazo de 60 dias para que a Adasa defina uma data para o fim do racionamento de água e desenvolva um Plano de Gestão Hídrica e Metas de Eficiência Hídrica. Autora da ação, a OAB-DF solicitou uma série de metas à agência e alegou que a Adasa tem arrecadado ;receita tarifária extraordinária ineficaz e sem contrapartidas; durante a crise hídrica. O TJDFT acatou a medida liminar, estabelecendo multa diária de R$ 10 mil, caso a decisão não seja cumprida.

Gráfico com dados meteorológicos

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