Cidades

Justiça ouve duas funcionárias de empresa investigada na Mister Hyde

Depoimento de uma das funcionárias já dura oito horas. Em esquema conhecido como Máfia das Próteses médicos usavam materiais inferiores aos informados aos planos de saúde em cirurgias ortopédicas

Alessandra Modzeleski - Especial para o Correio, Adriana Bernardes
postado em 14/03/2017 17:59
A operação foi deflagrada em setembro de 2016, pela Polícia Civil e pelo MPDFT
Duas funcionárias da TM Medical, principal empresa envolvida no esquema criminoso desmontado pela Operação Mister Hyde, estão sendo ouvidas nesta terça-feira (14/3), no auditório Sepúlveda Pertence, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT). Sammer de Oliveira Santos e Danielle Bezerra de Oliveira são rés na denúncia oferecida pelo Ministério Público e tiveram a deleção premiada homologada pela Justiça no fim de janeiro deste ano.


O depoimento de Danielle durou mais de oito horas. De acordo com o processo, ela é vendedora da TM e teria sido flagrada em uma conversa em que afirma para Micael Bezerra Alves, um dos sócios da empresa, que será difícil apresentar lacres de equipamentos exigidos pela auditoria do plano de saúde, pois os médicos usaram, em uma cirurgia, material diferente do informado. Já Sammer de Oliveira é apontada como uma das vendedoras mais atuantes da TM e participava da articulação do esquema.

Sammer de Oliveira começou a depor. Ela disse que Micael pedia que os pedidos de materiais para as cirurgias fossem "recheados", para que o procedimento ficasse mais caro. Ele orientava que as vendedoras conversassem com os médicos para que eles aumentassem a quantidade de pedidos de material, segundo a funcionária.

"Pedido do século"

A ré lembrou que, em um caso de cirurgia de crânio, que seria realizada em um hospital particular, Micael pediu que fosse o "pedido do século", exigindo que a lista de materiais fosse enorme.
Segundo Sammer, os materiais eram, na maioria, reutilizados e contados como novos para o plano de saúde. Ela alegou que todos os médicos cirurgiões sabiam que os materiais eram reutilizados e que era possível, pela embalagem, perceber isso. Além disso, os profissionais cotavam com a empresa materiais importados e cobravam por eles, mas compravam produtos nacionais, mais baratos.
A audiência deve continuar na quarta-feira (15/3), com a oitiva de Rosângela Silva de Sousa e Naura Rejane Pinheiro da Silva. A primeira, é vendedora da TM e a segunda, foi monitorada em diálogos com funcionários da TM e pacientes.

Histórico

A Mister Hyde foi deflagrada em 1; de setembro de 2016, pela Polícia Civil do DF e pelo MPDFT. Na ocasião, promotores e agentes cumpriram 21 mandados de busca e apreensão e 12 mandados de prisão contra a organização criminosa, que contava com o apoio de sete médicos. A suspeita é de que os médicos envolvidos identificavam pacientes, cujos históricos viabilizavam a sugestão de cirurgias com órteses e próteses.

[SAIBAMAIS]Eles, então, alinhavam contratos com empresas que vendiam esses insumos. Durante a negociação, era estabelecida a recompensa financeira para os profissionais, devido à indicação dos materiais ; o valor do retorno financeiro era proporcional à quantidade de instrumentos solicitados. A firma até sugeria a inclusão de novos aparatos no procedimento cirúrgico. Os materiais eram encaminhados ao hospital.
Lá, criavam-se condições para facilitar a vitória da empresa envolvida em uma espécie de ;licitação; ; o plano de saúde exige a definição de três firmas no pedido de aprovação de processos cirúrgicos. Como os contratos continham superfaturamentos, elaboravam-se relatórios para justificar a escolha das órteses e próteses já alinhadas. Assim, forçava-se a aprovação.

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