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Governo assina hoje acordo para liberação de recursos para captação de água

Verba do governo federal para obra no Lago Paranoá será de R$ 55 milhões. Especialistas apresentaram, em audiência pública, um cenário preocupante para o abastecimento da capital

Pedro Grigori - Especial para o Correio
postado em 15/03/2017 06:00
Após um mês da entrega do plano emergencial para captação de água do Lago Paranoá, o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) vai, hoje à tarde, ao Palácio do Planalto, assinar com o presidente da República, Michel Temer, um acordo para a liberação de R$ 55 milhões do Ministério da Integração Nacional. O recurso será usado na execução da obra. A boa notícia foi recebida no mesmo dia em que o Ministério Público do DF e dos Territórios (MPDFT) promoveu uma audiência pública para que especialistas e representantes do governo debatessem com a população a situação hídrica na capital. Ainda em clima de alerta, a Agência Reguladora de Águas (Adasa) disse que vai recorrer da decisão do Tribunal de Justiça do DF (TJDFT), que deu um ultimato de 60 dias para que o órgão desenvolva um Plano de Gestão Hídrica e Metas de Eficiência Hídrica e estabeleça prazo para o fim do racionamento de água.

Há um ano, os reservatórios de Santa Maria e do Descoberto estavam com o volume máximo. Hoje, apresentam níveis de 47,56% e 43,71 %, respectivamente ; índices que preocupam o professor Henrique Marinho Leite, do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade de Brasília. ;Caso se mantenha a climatologia e o consumo apresentado em 2016, em janeiro de 2018, o volume do Descoberto chegará a 0%, e o de Santa Maria estará inferior a 5%;, projeta. O professor destaca que os limites do racionamento devem ser revistos. ;O nível de chuva no DF vem caindo ano após ano. Hoje, o governo deve ter em mente que a variabilidade climática esperada para Brasília não deve passar de 1.000 milímetros.;
Após o veranico, entre fevereiro e março, a expectativa da Adasa para um cenário sustentável é a pior possível. ;Se conseguirmos chegar ao nível de 80%, ou até 70%, até abril, conseguiremos passar pelo período de seca com abastecimento de água;, afirma Paulo Salles, presidente da Adasa. Sobre o ultimato da Justiça para o estabelecimento de um prazo para o fim do racionamento, Paulo Salles é incisivo: é inviável. ;Não tem como darmos um prazo com data. A situação hídrica do DF voltou a apresentar agravantes após a interrupção das chuvas nas últimas semanas;, informou.

O governador Rodrigo Rollemberg (PSB) participou da abertura da mesa de debate e pediu para os brasilienses mudarem a cultura de gasto desenfreado de água. Rollemberg também voltou a declarar que a ocupação desordenada do solo e a grilagem de terras públicas são as principais responsáveis pela situação hídrica da cidade e garantiu que está buscando soluções para o problema. ;Estamos discutindo no âmbito do governo um decreto que permita à Caesb instalar redes de água e hidrômetros em áreas não regularizadas. Hoje, 35% da captação feita no DF é perdida. Não por ineficiência da Caesb, mas por furto de água.;

A liberação da verba para a captação de água do Paranoá ajudará no abastecimento feito hoje pelos reservatórios do Descoberto e de Santa Maria/Torto. A obra deve começar imediatamente, com conclusão prevista para até setembro. O projeto emergencial prevê a captação de 700 litros de água por segundo do lago.

Alerta

Mesmo com a nova captação, Sérgio José Bezerra, subsecretário de Proteção e Defesa Civil do DF, não descarta uma piora na situação. Ele informou que, no próximo mês, serão feitos planos de ação para minimizar um possível colapso no abastecimento. ;Trabalhamos sempre com o pior cenário possível. Neste caso, seria para gerar um fornecimento rápido de água por meio de caminhões-pipa.; Sérgio alertou também para perigo no consumo de água não tratada. ;Em situações de colapso, teremos que nos precaver para que os cidadãos não consumam líquidos de córregos ou rios, para evitar situações semelhantes às de outras cidades que enfrentaram o desabastecimento e tiveram epidemias de doenças, como a leptospirose e salmonela.;
* Estagiário sob supervisão de Sibele Negromonte

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