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Julgamento da Operação Drácon mostra provas e indícios de corrupção

No julgamento da denúncia, os 17 desembargadores do TJDFT citaram elementos levados pela acusação para justificar a decisão de transformar cinco distritais em réus por corrupção. Gravações e planilhas estão entre as mais mencionadas

Durante esse encontro com Valério, o percentual de 10%, supostamente a propina exigida de empresários do setor de hospitais, foi mencionado. Muitos desembargadores usaram esse diálogo para justificar o recebimento da denúncia. O ex-secretário-geral da Câmara disse a Liliane que Cristiano Araújo (PSD) conseguiu o ;negócio; das UTIs. Segundo Valério, o acerto poderia render ;no mínimo 5% e no máximo 10%, em torno de 7%;. ;Quem sabe disso são só os cinco membros da Mesa e o Cristiano;, acrescentou. Apesar das divergências, esse trecho foi uma das principais justificativas para o recebimento da denúncia contra Raimundo Ribeiro (PPS).

[SAIBAMAIS]Na conversa de Celina com Liliane, a então presidente da Casa explicou por que os recursos da emenda deixaram de ir para a reforma de escolas para serem destinados ao pagamento de UTIs. ;Se vai ajudar, tem que ajudar todo mundo;, disse Celina nessa conversa. Para o desembargador Roberval Belinati, em seu voto, essa frase ;externou, de forma clara, o propósito de Celina Leão também ser beneficiada pela negociata;. ;O contexto da conversa não deixa quaisquer dúvidas de que a denunciada Celina Leão era beneficiária do ajuste ilegal;, acrescentou.

O relator da Drácon, desembargador José Divino, elencou uma série de provas relevantes para o processo. No julgamento, o magistrado citou as conversas registradas secretamente por Liliane Roriz, mas disse que essas não são as únicas evidências da acusação. ;A denúncia não está lastreada apenas em diálogos entre Liliane e Valério, mas em outros sérios indícios, como declarações de testemunhas e documentos apreendidos em diligências das medidas cautelares;, explicou. Ele deu destaque a dois outros elementos da acusação. Um deles foi a mudança de regras que os distritais promoveram para alterar a forma de pagamento das dívidas do governo, o que beneficiou as UTIs. ;Isso, a meu ver, é muito sintomático;, destacou Divino.

Encontros

Os encontros dos deputados Bispo Renato (PR) e Júlio César (PRB) com o empresário Luiz Afonso Assad, durante os quais teria havido o pedido de propina, também foram amplamente citados. Os dois parlamentares negam ter se encontrado com o empreiteiro para pedir vantagens indevidas. Durante a instrução da ação penal, esclarecer as circunstâncias desses encontros será um desafio tanto para as defesas quanto para a acusação.

O suposto rateio da propina, descoberto no telefone de Cristiano Araújo, é outro elemento citado. ;No celular de Cristiano, consta um arquivo, redigido no dia 14, portanto logo após a aprovação da emenda;, explicou José Divino. Os investigadores da Operação Drácon afirmam que a tabela detalhou a distribuição de parte da contabilidade da propina cobrada para a aprovação da emenda que destinou R$ 30 milhões a prestadoras de serviço de UTIs. O arquivo traz iniciais associadas a valores. Segundo o MP, a divisão previa pelo menos R$ 50 mil para a deputada Celina Leão (CL), R$ 50 mil para Bispo Renato (BR), R$ 50 mil para Júlio César (JC), R$ 20 mil para Valério Neves (V) e outros R$ 25 mil para Ricardo dos Santos (RS). Os R$ 80 mil restantes seriam destinados aos demais integrantes do grupo. A planilha localizada no aparelho traz ainda as iniciais SJ e FT. Os investigadores ainda apuram a quem se referem essas siglas.