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Só faltam alguns detalhes de acabamento para que a nova biblioteca do Riacho Fundo II seja inaugurada. Nos próximos dias, a comunidade receberá um espaço novo, com quatro computadores, ar-condicionado e lugar para estudo. Um bicicletário também deve ser instalado no local. Não se trata de um prédio novo. A estrutura foi toda reaproveitada. Era um dos postos comunitários de segurança da Polícia Militar desativados ; de 131 unidades que custaram até R$ 150 mil cada, 60 foram fechadas devido à falta de efetivo para manter nas cabines. Antes alvo de pichação, incêndio e outros atos de vandalismo, o postinho do Riacho Fundo servirá à população de uma outra forma.
;A gente precisava de um espaço e o governo não tinha dinheiro, então, nós achamos uma forma de devolver uma estrutura melhor para a comunidade. Uma biblioteca é, de forma indireta, também uma maneira de combate ao crime, não com policiais, mas com educação, levando conhecimento para as pessoas;, pondera o administrador do Riacho Fundo, Daniel Figueiredo. A antiga biblioteca funcionava em um canteiro de obras, e além do ambiente insalubre, com exposição à poeira, os frequentadores também tinham dificuldades para ir ao local, já que poucas linhas de ônibus circulavam nas proximidades.
Outros 16 postos estão em processo de transferência para as secretarias de Mobilidade Urbana do DF (Semob) e de Segurança Pública (SSP-DF). Em nota, a SSP informou que as quatro unidades, localizadas em Ceilândia, Samambaia, Recanto das Emas e Asa Sul, devem ser destinadas ao desenvolvimento de atividades educativas e culturais voltadas a questões ligadas à igualdade racial, de gênero e inclusão social. A Secretaria de Mobilidade não informou sobre as atividades a serem desenvolvidas após a finalização do processo de cessão dos 12 postos. As duas pastas estão entre os que manifestaram interesse em reaproveitar as estruturas de 40 postinhos.
A ideia de usar os postos de polícia abandonados partiu da professora de canto erudito Denise Tavares, da Escola de Música de Brasília (EMB), em abril do ano passado, quando ela viu o anúncio de desativação. Logo, entrou em contato com a Polícia Militar, que depois decidiu abrir a possibilidade para outros órgãos públicos ; pelo menos, 40 foram requisitados. Os postos começaram a chegar à EMB em agosto e foram reformados com a ajuda da comunidade escolar.
;As primeiras (salas) a serem usadas foram as de contrabaixo acústico e elétrico e guitarra, (onde os alunos) já fizeram as provas finais, além do curso de verão;, relata Denise. Há sete meses, a escola funciona com cerca de 15 salas a mais que o projeto original. Pintados de amarelo e marrom, os novos ambientes são usados para aulas coletivas e individuais das turmas de violino para crianças, flauta doce, percussão, guitarra, baixo, contrabaixo, percussão e fagote. Outras cinco cabines devem ser transferidas para lá nos próximos meses.
A escola foi beneficiada, já que as 84 salas de aula não eram mais suficientes para atender à demanda de alunos. São aproximadamente 3 mil, matriculados nos três turnos. Para Denise, a estrutura de fibra e isopor é excelente para os ensaios, em especial, dos instrumentos de corda. Além disso, a chegada das novas salas melhorou o atendimento aos alunos. ;Tem disciplinas que a gente dá aula pra um aluno só, e a gente não tinha essas salas pequenas para um aluno. Para alguns instrumentos, como o violino, você pode, no início, lecionar para dois ou três alunos. Mas, se o aluno está adiantado, o repertório é específico. Então, pedimos os postos;, explica.
Estudante de violino, Leiriane Pires, 20 anos, conta que no primeiro ensaio gostou da sala. ;Eu treinava em frente ao meu bloco (de aulas), mas, lá, a gente ficava exposto à radiação solar. E, às vezes, a temperatura aumentava, a gente começava a suar e ficava meio desconfortável;, conta.
Para a professora de viola e violino Luiza Volpini, os postos foram uma boa opção para suprir as dificuldades da falta de salas, e, ao mesmo tempo, economizar. ;Eu já dei aula na sala do diretor, na sala da dispensa e em tudo quanto é lugar. Eu acho ótimo ter um lugar onde eu entro e vou ficar aqui das 8h até as 18h, direto. Além disso, quando não tem aula, as salas são liberadas para os alunos ensaiarem;, conta.
Aluna da turma de Oficina de Musicalização II, Yasmin Haudiquet, 9 anos, conta que prefere as novas salas às convencionais. ;Eu acho muito legal a gente usar o posto policial para fazer as aulas, porque é aberto. E porque a gente reutiliza uma coisa que não vai ser usada;, acredita.
Segundo o major Michello Bueno, porta-voz da Polícia Militar, alguns postos localizados em lugares com baixo movimento de pessoas engessavam a eficiência do policiamento por ter um raio de ação pequeno. De acordo com ele, os postos implantados em lugares de grande movimentação, como o do Setor Comercial Sul, permanecerão em funcionamento, mas os de dentro das comunidades estão sendo substituídos por viaturas. ;Esses postos demandam um efetivo muito grande e hoje estamos com um deficit de 7 mil homens. (Agora) estamos trabalhando com estudos e conseguindo aumentar a produtividade mesmo com o baixo efetivo;, afirma.
* Estagiária sob a supervisão de Cristine Gentil