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Faixa de pedestre completa 20 anos salvando vidas no trânsito do DF

Apesar da redução no total de mortes na travessia de ruas do DF, a distração, o excesso de velocidade e o uso de celular contribuem para aumentar a vulnerabilidade. Estimativa mostra que, em duas décadas, o equipamento salvou 875 pessoas


A faixa de pedestre completa duas décadas amanhã. São 20 anos marcados pelo espaço de proteção a quem anda a pé. E o resultado são vidas poupadas. Desde 1º de abril de 1997, a população de Brasília começou a escrever uma história inédita de respeito aos mais frágeis no trânsito. Mudou o próprio comportamento, construiu uma cultura de respeito e inspirou outras cidades. No período, pelo menos 875 vidas foram salvas pela faixa. O número considera só a proporção de pedestres mortos sobre o total de vítimas do trânsito. Um ano antes de a lei vigorar, os pedestres eram 43,6% das vítimas — esse percentual caiu para 33,7%. 

 

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Mas, ao longo do tempo, a capital federal assiste, com certa apreensão, à oscilação dos números e ao comportamento agressivo e imprudente de quem insiste em desrespeitar o espaço destinado à travessia segura. O resultado da má conduta aparece nas estatísticas. Apesar de a análise a longo prazo revelar a redução considerável de pedestres mortos no trânsito, 2016 terminou com o aumento do número de casos comparados com o resultado de 2015. Foram 132 vítimas mortas, contra 112 no ano anterior (leia quadro). O número de óbitos durante a travessia na faixa também piorou. No ano passado, seis pessoas morreram atropeladas sobre o equipamento de segurança, contra quatro em 2015.

Entre as possíveis causas das tragédias estão condutores que descumprem a lei, pedestres que atravessam sem sinalizar, frequente uso de celular, distração ao volante e excesso de velocidade. O casal Ana Beatriz Rodrigues, 22 anos, e Alan Canuto, 28, vivencia diariamente a experiência de recorrer às faixas em Brasília. “Às vezes, ficamos parados bastante tempo na faixa, fazendo o sinal de vida, e tem muita gente que não para, principalmente nas satélites. No Plano Piloto, os condutores ainda param. No Pistão, em Taguatinga, a gente fica muito tempo tentando passar, mesmo com a sinalização e com o pé na faixa. Depende do local”, acredita o analista de geoprocessamento.

Alan mora em Águas Claras, e Ana Beatriz, em Taguatinga. Apesar de enfrentarem desafios na hora da travessia, eles comparam as dificuldades às de quando viajaram para a Paraíba. “Brasília ainda é referência e contribui bastante para a cultura. Em João Pessoa, os motoristas buzinavam para a gente sair da faixa”, conta a estudante de pedagogia da Universidade de Brasília (UnB).

Na avaliação do doutor em estudos em transporte do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da UnB Paulo César Marques, a faixa é uma conquista histórica, que, para se perpetuar, necessita de investimento em campanhas educativas constantes. “Temos nas ruas uma geração que não viveu a campanha Paz no Trânsito. Aos poucos, os valores vão se perdendo. E, nos últimos anos, não tivemos campanhas que consolidassem esse comportamento de respeito ao pedestre na faixa. Há 20 anos, o meu filho tinha 1. Hoje, é motorista. Em outras cidades, ele vê que a faixa não é respeitada. Isso pode contaminar essa geração ou quem chega a Brasília após o processo de conscientização”, cita.


Conscientização

Ontem e na terça-feira, o Câmpus Darcy Ribeiro da UnB, na Asa Norte, recebeu ações educativas para a consciência do uso e do respeito à faixa. A iniciativa, encabeçada pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER), com a participação de professores da instituição, chamou a atenção de quem passava pelo local. Uma faixa andante também acompanhava os passos de pedestres. Jhene Costa, 24 anos, estudante de arquitetura de uma universidade particular da Asa Sul incorporou a personagem fantasiada para alertar sobre a importância da lei. “Aqui é a única unidade federativa em que, realmente, se cumpre a lei. Precisamos continuar chamando a atenção para essa necessidade. Condutores não podem só parar na faixa quando veem a polícia ou porque é bonito”, alerta.

Saiba Mais

Professora de engenharia civil e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Transportes da UnB, Michelle Andrade avalia que a faixa de pedestre no DF é referência nacional em relação ao respeito. No entanto, na visão dela, a valorização não é mais a mesma. “Um desses elementos é o uso do celular, que coloca em risco caminhar. Nem sempre se associa esse perigo ao pedestre, mas, em muitas ocasiões, ele está digitando e não dá a devida atenção na hora de atravessar. É fundamental estabelecer contato visual com o motorista para ter certeza de que ele vai parar”, destaca.

Segundo ela, campanhas educativas frequentes e o sucesso na fiscalização são fundamentais para o cumprimento da lei. “O respeito à faixa em Brasília é um ganho diferencial da cidade e, efetivamente, precisa ser comemorado para conscientizar a comunidade local”, ressalta.

O gerente de Campanha Educacional do DER no DF, Paulo Victor de Araújo, reforça que o desrespeito está relacionado à imprudência, à falta de cordialidade e de atenção, à distração ao volante e à alta velocidade. “Apesar disso, o respeito está maior. Podemos constatar isso com os raros casos de acidentes nas faixas se comparado ao que acontecia antes. Ela se tornou sinal de vida”, analisa.