Sem eleitorado fiel, mas com o sonho de conquistar a reeleição, o senador Hélio José (PMDB-DF) começou a atrair outros partidos para tentar viabilizar a candidatura dele em 2018. A primeira parceria firmada pelo parlamentar foi com o PSC. Hélio José loteou parte dos cargos de seu inchado gabinete com integrantes da legenda. Entre os que ganharam postos de trabalho no Congresso Nacional, estão o presidente regional da sigla, pastor Daniel de Castro, e o secretário-geral do PSC no Distrito Federal, Zenóbio Rocha. Ele abrigou, ainda, o recém-filiado Dedé Roriz, que sonha herdar o espólio eleitoral de Joaquim Roriz para chegar à Câmara Legislativa. Esse movimento não é o único agrado a políticos. No total, 11 ex-candidatos a deputado distrital e federal estão empregados no gabinete de Hélio José.
A aproximação com o PSC não tem o aval do PMDB do DF e pode representar uma alternativa ao senador, caso ele não consiga autorização do partido para se candidatar à reeleição. O presidente regional do PMDB, Tadeu Filippelli, articula a própria candidatura ao Governo do Distrito Federal e, para atrair potenciais aliados à empreitada, é provável que tenha de oferecer outras vagas majoritárias, como vice-governador e senador, a outros partidos. Assim, o flerte entre o senador e o PSC pode ser uma saída para Hélio José, que migraria para a legenda com o objetivo de concorrer ao Senado Federal.
Os integrantes do PSC têm salários que variam entre R$ 3,8 mil e R$ 6,2 mil. O Correio tentou localizar o pastor Daniel de Castro no gabinete do senador, e secretárias informaram que ele dá expediente no escritório de Hélio José. Na representação política do parlamentar, uma atendente explicou que Daniel é lotado no gabinete, e não no escritório. Mais fácil seria encontrá-lo na sede do PSC.
Na manhã da última terça-feira, dia importante para o mandato do senador Hélio José, pois ele disputava a Presidência da Comissão de Meio Ambiente (CMA), o servidor não estava na Casa. Em uma derrota política do líder do PMDB, Renan Calheiros (PMDB-AL), Hélio teve de retirar a candidatura, e o cargo ficou com o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP). Questionada, uma funcionária do gabinete limitou-se a dizer que ;ele (Daniel) não fica muito aqui;.
Voto religioso
Funcionários de salas vizinhas afirmaram nunca ter visto Daniel. ;Na verdade, essa turma do PSC está no gabinete do senador em troca de apoio político combinado com o bispo, já que o Hélio não tem sustentação. Se tentar, não se elege nem para distrital no ano que vem. Eles não trabalham lá, só recebem;, assegura uma pessoa ligada ao PSC, que prefere não se identificar. ;O Daniel não representa a união da igreja, os pastores estão muito decepcionados com ele, porque está vendendo o partido para qualquer um que possa dar a mínima chance de ele se eleger;, acrescenta o integrante do partido, insatisfeito com os rumos da legenda.Outro elemento importante nessa negociação é o papel que as legendas evangélicas terão nos acordos políticos de 2018. O deputado federal Izalci Lucas (PSDB-DF), que sonha em disputar o Palácio do Buriti, anunciou a intenção de lançar um vice do segmento evangélico para afinar o discurso de direita. O pastor Daniel de Castro é apontado como um possível aliado na composição da chapa encabeçada pelo tucano.
Izalci confirma a intenção de ter um nome da igreja ao seu lado, mas afirma que não há definições ainda. ;O ideal é que seja alguém que una as igrejas evangélicas, que converse e represente todas elas. Há vários nomes citados na cidade, e o de Daniel é um deles. Mas essa decisão não caberá a mim;, comenta.
No mês passado, durante um evento da Convenção Nacional das Assembleias de Deus, Daniel foi lançado como pré-candidato a deputado federal no Distrito Federal. Ele conta com o apoio do bispo Manoel Ferreira, principal líder do segmento religioso. A movimentação pode atrapalhar os planos de outro representante da Assembleia de Deus, o deputado federal do Distrito Federal Ronaldo Fonseca (Pros).
Ele evita expor o clima de racha dentro do grupo evangélico e diz que faz parte da democracia disputar votos. ;Além disso, é preciso ficar bem claro que não faço, nem nunca fiz uso político da igreja. Na democracia, disputa voto quem quiser;, ressalta Ronaldo Fonseca. Ele ainda não decidiu se será candidato à reeleição ou se disputará o governo ou o Senado. ;Distrital ou vice, isso eu descarto. Posso até não ser candidato a nada;, diz o parlamentar.
O pastor Daniel de Castro, ex-assessor especial de Agnelo Queiroz (PT), admite que o nome dele foi lançado como pré-candidato a deputado federal, entretanto defende que não há nada confirmado. Na opinião do presidente do PSC-DF, Brasília está pronta para comportar um candidato ao governo das igrejas evangélicas, e o projeto está sendo conversado em uma aliança entre PSC, PHC, PRB, Podemos e Pros. ;São cinco segmentos comandados sob a orientação de cinco pessoas cristãs. É preciso chegar a um ponto de convergência para irmos a uma candidatura majoritária. Vamos nos apresentar como governo ou como vice;, revela.
Base de apoio
Sobre a composição de uma chapa com o deputado Izalci, Daniel afirma ter sido convidado, mas acredita que há outros representantes da igreja tão fortes quanto o dele. Dentro da combinação, Daniel explica o trabalho que tem feito no gabinete do senador Hélio José. Segundo ele, o bispo assumiu compromisso de que o apoio de uma das duas vagas ao Senado seria para o peemedebista; por isso, ele contribuía, principalmente, na assessoria jurídica, pois é advogado. ;Mas pedi exoneração na quinta-feira. Conversei com o senador e expliquei que não dá para continuar, porque quero ficar livre para fazer o meu trabalho. É muito difícil para um presidente de partido ficar ligado à estrutura de um gabinete;, afirma.O senador confirma o acerto com o PSC e admite que constrói uma base de apoio para ser candidato à reeleição. ;Fui para o partido em um acordo nacional referendado pelo presidente Michel Temer, pelos senadores Renan (Calheiros) e Eunício (de Oliveira), pelo (Romero) Jucá, pelo (Eliseu) Padilha e pelo Moreira (Franco). Eles me garantiram que eu serei candidato ao Senado pelo PMDB.;
Sobre as divergências com o PMDB local, o parlamentar acredita que prevalecerá o acerto nacional. ;O Filippelli é um cara difícil, mas deu sua palavra e não deve haver confusão.; Ainda sobre o acordo com o PSC, ele explica que a eleição ao Senado exige coalizões. ;Fechei com o bispo (Manoel Ferreira) e terei o apoio do PSC. Também estou negociando com vários outros partidos;, afirma Hélio José, sem detalhar os nomes das legendas. ;Poderia gerar ciúmes.; Segundo ele, o pastor Daniel de Castro trabalhava sem seu gabinete e no seu escritório.