Priscilla Miranda*
postado em 10/04/2017 21:40
Brasilienses e moradores do Entorno que precisam passar pelas rodovias do Distrito Federal fazem malabarismo para escapar dos buracos. Sem recursos, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER-DF) deve concluir apenas as obras previstas até o fim do ano passado, por isso, algumas das rodovias danificadas devem permanecer até o fim do ano sem reformas.
O carro de Paula Leon de Abreu, 28 anos, quebrou enquanto ela dirigia por um trecho da DF-130. A fotógrafa passou por mais de oito buracos até furar o pneu e amassar o aro da roda próximo à Fazenda Pamplona. Ela gastou R$ 1,2 mil com o conserto.
No momento, ela trafegava na via a 60km/h, dentro do limite permitido no trecho. No entanto, em diversas ocasiões era preciso reduzir a velocidade. "A maioria dos carros estava indo pelo acostamento, que também está cheio de buracos, a uns 10km/h. Em algumas partes, eu parei, porque o buraco era tão fundo que, mesmo indo devagar, corria o risco de quebrar o carro", relata.
Em outra rodovia, Guilherme Armando Nascimento, 31, passou pelo mesmo transtorno, mas teve um prejuízo menor, de cerca de R$ 400. De acordo com ele, o trecho da DF-001 próximo à Estação de Rádio da Marinha está em condições precárias. "Passei por um buraco que quebrou minha roda. No início, a pista está boa, mas próximo à estação da Marinha, parece uma batedeira", reclama.
Manutenção
Para especialista em Segurança do Trânsito Michelle Andrade, da Universidade de Brasília (UnB), um dos principais problemas das rodovias do DF é a falta de regularidade na manutenção do pavimento. ;As (rodovias) concessionadas geralmente têm manutenção rotineira e, por isso, apresentam qualidade melhor, coisa que dificilmente acontece nas não concessionadas. Um buraco não surge do dia para a noite. Se tivéssemos uma rotina de manutenção, conseguiríamos estabelecer estrutura mais segura;, explica.
Uma das soluções encontradas pelo DER-DF é a Operação Tapa Buracos, que tenta, desde 2011, reparar danos temporários ao pavimento. Apesar de resolver em parte o problema das más condições, os remendos desregulados causam insegurança e desconforto ao usuário das vias.
O militar Guilherme Rodrigues, 20, conta que o medo fala mais alto na hora sair de São Sebastião. O motociclista relata que não se arrisca a passar pelo trecho da DF-463 localizado em frente ao setor habitacional Jardins Mangueiral. ;Para sair da cidade, só se for pelo acostamento, porque pela rua não dá. A pista está muito esburacada e remendada;, lamenta.
Para Michelle Andrade, o problema da ação é que não há o cuidado necessário para deixar o reparo dentro dos padrões da rodovia. Ainda de acordo com a especialista, os problemas estruturais também podem contribuir para acidentes. ;Se a rodovia é pouco sinalizada, o motorista pode perder a noção das possibilidades de ultrapassagem, ou, ao fazer o desvio de um buraco, pode entrar na via oposta;, explica. Levantamento da Polícia Rodoviária Federal (PRF) lançado em 2013 revelou que 2% das ocorrências nas rodovias federais haviam sido causados por más condições nas pistas.
O Correio percorreu alguns dos trechos citados e comprovou a dificuldade para seguir viagem nos pavimentos danificados. O pior fica próximo à Estação da Marinha, na DF-001. Ao longo de 7km é possível constatar buracos, rachaduras e até remendos de mais de um metro de comprimento.
O DER-DF é responsável por cerca de 1,8 mil km de rodovias que atravessam o Distrito Federal. O órgão informou que o órgão tem feito os trabalhos de manutenção, como a Operação Tapa Buracos, rotineiramente. Algumas obras estão em andamento neste ano. A recuperação de quase 1km da DF-001 sentido Brazlândia deve durar ao menos seis meses e custar pouco mais de R$ 11 milhões. O trecho 2 da rodovia, localizado próximo ao Lago Oeste, também está em obras.
Falta dinheiro
Segundo o diretor-geral do DER-DF, Henrique Luduvice, não há previsão orçamentária, em 2017, para as obras das rodovias DF-130 e na Área Alfa da DF-001, próximo à Estação de Rádio da Marinha. De acordo com ele, para essas obras, a solução é prever a reforma para anos seguintes ou buscar recursos de emendas parlamentares distritais ou federais. "Estamos interagindo com a Câmara Legislativa do DF e também com a Câmara Federal visando o alcance desses orçamentos para que se possa incluir novas rodovias que necessitam de restauração", afirma.
Ele ressalta que "O DER-DF está executando um conjunto de obras importantes para o desenvolvimento do DF com recursos provenientes do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento), Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e Cide (Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico)".
De acordo com o órgão, o pavimento da DF-130 tem ao menos 36 anos. As restaurações da rodovia de 40km, assim como o processo de pavimentação, são feitas em etapas, mas a última delas foi realizada em 2010. O trecho DF-463 de acesso a São Sebastião foi atendido pela Operação Tapa Buracos na última quarta-feira (5/4). O trecho da DF-001 localizada próximo à Marinha recebeu reparações na quinta-feira (6/4).
* Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer