Adriana Bernardes, Gabriella Bertoni - Especial para o Correio
postado em 11/04/2017 06:00
A Polícia Civil ainda busca respostas para a morte do bebê de aproximadamente oito meses encontrado boiando no Lago Paranoá, na tarde do último domingo. O inquérito está aberto, mas sem a tipificação do crime. O laudo cadavérico só fica pronto em 30 dias, mas os peritos sabem que não há nenhum tipo de ferimento na pele da vítima nem ossos quebrados, o que, em tese, descartaria uma morte violenta. O caso está cercado de mistérios. Fontes ouvidas pelo Correio levantam quatro possíveis linhas de investigação: afogamento, homicídio, acidente de trânsito ou suicídio (de um adulto, na companhia da criança).
Pelas condições em que foi encontrado, acredita-se que o bebê tenha morrido entre quinta e sexta-feira da semana passada. A procura por vestígios de acidente de barco ou de trânsito, além de outros corpos, começou às 6h de ontem e prosseguiu até as 22h. Três equipes do Grupamento de Busca e Salvamento do Corpo de Bombeiros fizeram varredura na superfície do Lago Paranoá entre as pontes JK e Honestino Guimarães. Uma lancha, um jet ski e um helicóptero da corporação foram usados nos procedimentos. ;Procuramos algum indício de algo fora do comum, como pedaços de um bote ou marcas de acidente de carro. Se tiver outra vítima, pode estar em qualquer lugar por causa da correnteza;, disse o tenente Luiz Xavier.
[SAIBAMAIS]Desde a tarde de domingo, o sargento Danilo Brites comanda a operação. Para ele, ainda há chance de haver mais vítimas. ;Se havia um adulto com a criança, o corpo pode estar preso no fundo do lago. Em média, a vítima aparece na superfície após 48h e 72h após a morte, dependendo da densidade do corpo;, contou.
O delegado adjunto da 1; Delegacia de Polícia (Asa Sul), João de Ataliba Nogueira, informou que a pesquisa no sistema de desaparecidos não encontrou nenhum registro de sumiço de bebê. E, de acordo com a Polícia Militar, nas últimas 48 horas, não houve registro de desaparecimento que pudessem levar à família da vítima. Mesmo após dois dias, com ampla divulgação do caso, nenhum parente esteve no Instituto de Medicina Legal (IML) para fazer o reconhecimento.
Identificação
Determinar a causa da morte e fazer a identificação do menino será um desafio para os peritos. ;Nos casos de vítima encontrada boiando, as chances de se descobrir a causa da morte por meio do laudo cadavérico é de menos de 10% quando não há sinais de violência física;, afirma Malthus Galvão, professor de Medicina Legal da Universidade de Brasília (UnB). O especialista explica a dificuldade: ;Eles (os corpos) estão na fase enfisematosa (o mesmo que gasosa) da putrefação. Ocorre que, nessa etapa, os pulmões se encontram autolisados (destruídos), o que diminui consideravelmente a probabilidade do diagnóstico de eventual afogamento;, detalha. Nesses casos, segundo Malthus, o mais comum é o exame apontar ;sinais de imersão prolongada;.
Por enquanto, também não será possível fazer a identificação do bebê. Como, no Brasil, as crianças não constam nos bancos de impressões digitais, somente um teste de DNA poderá identificar a vítima. Mas, para isso, os investigadores precisam, antes, descobrir quem são os pais ou responsáveis.
Os investigadores da 10; Delegacia de Polícia (Lago Sul) apuram as circunstâncias do crime ; a 1; DP abriu a apuração como central de flagrantes. ;Estamos percorrendo a área para encontrar pistas. Um inquérito foi aberto para apurar as circunstâncias. Pode ter ocorrido de alguém cair no lago com o bebê ou até mesmo um carro pode ter caído no local após um acidente de trânsito;, apontou o delegado Plácido Rocha.