Com o peixe e o camarão no topo da lista dos itens mais procurados da semana, a palavra de ordem é pesquisar preço e qualidade dos produtos que são protagonistas na mesa do brasileiro durante o feriado religioso. Muita gente já circula por supermercados e feiras do Distrito Federal, onde é possível encontrar, inclusive, pescados frescos. Com o quilo do bacalhau do Porto, em média, acima dos R$ 110, muita gente tem buscado nos peixes mais baratos uma alternativa para a tradicional ceia da Sexta-feira da Paixão.
A enfermeira Carolina Pires, 35 anos, é uma delas. Moradora de Águas Claras há oito anos, ela frequenta a feira em busca do menor preço. Este ano, vai optar pelo robalo por considerar o produto mais em conta, se comparado ao bacalhau. Como é pernambucana, ela conta que a família envia para ela produtos de lá por serem bem mais baratos. “No Recife, o siri custa R$ 19, o quilo, e o camarão está por R$ 23”, ressaltou. Em uma das bancas da Feira do Guará, o camarão GG limpo congelado chegava ontem a R$ 138,90.
Mas opções não faltam. Na própria Feira do Guará, peixarias recebem produtos vindos, principalmente, do Maranhão, do Pará, do Espírito Santo e de Santa Catarina. Caixotes carregados chegam diariamente por lá, sendo possível encontrar pescado amarelo, congro, surubim, camarão de diversos tamanhos, tilápia, como também o bacalhau.
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A enfermeira Dirlene de Araújo Servo, 41, não abre mão de consumir peixe na Semana Santa. Para preparar a moqueca capixaba, que aprendeu a fazer quando morava em Vitória, no Espírito Santo, ela vai escolher robalo, cação ou tilápia. “Darei preferência ao que estiver mais em conta”, resumiu a moradora do Sudoeste, que visitava a feira com a mãe, Elsi, o pai, Sebastião, e a filha, Cláudia Letícia.
Dona de uma peixaria, Haruko Ueda, 68, acredita que o movimento está maior este ano, em relação a 2016. “A procura pelo camarão médio está sendo muito grande”, apontou. Por lá, o quilo, já limpo, sai a R$ 108,90. Ao ser questionada sobre o que vai comer nesta Sexta-feira Santa, Haruko antecipou que vai preparar o bacalhau à espanhola. “Mesmo não seguindo a religião cristã, a família toda gosta desse saboroso prato”, observa.
A baiana Sônia Cristina Cerqueira Vogel, 78, não perdeu o costume de preparar o bobó de camarão caprichado na pimenta e a moqueca de peixe no feriado da Páscoa. A dona de casa mora na Asa Sul desde a década de 1970 e é frequentadora assídua da feira do Guará. “Estou achando tudo muito caro. Mesmo assim, comprei 1kg de camarão e 1kg de peixe. O gasto chegou a R$ 177. É muito em comparação à quantidade de produtos comprados”, comentou.
Para Gustavo Oliveira, 35, dono de outra peixaria, os consumidores estão mais preocupados com a qualidade nos produtos. “Fazemos um atendimento diferenciado para os clientes que estão à procura de pescados e frutos do mar. Vendemos também o autêntico bacalhau da Noruega, da marca Gadus Mohrua, com um sabor inconfundível”, garantiu.
De acordo com a nutricionista Suzana Ribeiro, o consumidor deve estar muito atento às características do pescado, como cor, odor, consistência, textura e sabor, no momento da compra. “Se observar algo diferente do comum, aquele alimento não está bom para o consumo.” O salmão, por exemplo, deve estar avermelhado. “Se os peixes (conservados no gelo) estiverem em temperatura ambiente, também devem ser descartados, assim como se a pele estiver viscosa ou descolando”, ressalta Suzana. Não é o caso do Bacalhau, que é conservado com sal, como nos tempos antigos. Aos pais que optam por filés, a nutricionista alerta para o perigo das espinhas, já que a própria indústria pode deixar escapá-las.
Pesquisa
Muita gente tem recorrido a supermercados à procura por preços mais baixos. Poliana Almeida, 38, aumentou os critérios na hora da escolha dos produtos. Mãe de duas crianças, de 1 e 3 anos, ela se preocupa em comprar peixes com qualidade, que não ofereçam risco aos filhos e que, ao mesmo tempo, sejam baratos. “Apesar das promoções, está tudo muito caro. A solução é deixar o bacalhau de lado e comprar outro tipo de peixe em filé. Já os ovos de Páscoa decidimos não comprar.”
Já a assistente social Kelly Cabral, 52, não abre mão da tradicional bacalhoada para celebrar com a família. A criatividade, porém, fará parte do cardápio dela este ano. Ela usará também sardinhas para preparar uma torta salgada. Para não sofrer com os preços altos, fez as compras há três meses.“De última hora é mais caro, chega a triplicar. Por isso, eu me adiantei e consegui comprar o quilo do bacalhau por R$ 20. Hoje, chega a R$ 60. Um absurdo.”
Segundo o vice-presidente de Relações Externas da Associação de Supermercados de Brasília, Onofre da Silva, a expectativa é que o consumidor esteja mais criterioso e sensível ao preço, devido à situação econômica do país. Ele admite, porém, que o momento está propício para o pescado, pois os consumidores ficaram ressabiados com a qualidade da carne vermelha, depois Operação Carne Fraca. “Devido à variação do dólar, o pescado encareceu de 2% a 5%, em relação ao mesmo período do ano passado — principalmente os filés congelados importados. Mas os preços são bastante competitivos, sendo ainda uma boa alternativa para o consumidor que não pode ou não quer optar pelo bacalhau”, afirmou.