Deborah Fortuna
postado em 13/04/2017 06:00
O Mercado Sul, em Taguatinga, é ocupado por um movimento cultural que abrange oficinas, marcenarias e artesãos. O local abriga 112 usuários da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) cadastrados, mas apenas 49 estão ativos. Diante da grave crise hídrica pela qual passa a capital, o lugar foi alvo, ontem, de uma operação para retirada de ligações clandestinas. A ação buscou verificar a situação desses clientes e intensificar a fiscalização. A estimativa é que tenham sido desviados 225m; de água por mês. ;Pode ser que o imóvel esteja vazio, e é normal que o uso da água fique inativo. Pode ser que esteja suspenso ou oque proprietário esteja inadimplente. E pode ser que uma loja tenha ampliado para mais imóveis e tenha sido cortada a ligação das outras. São vários fatores;, explicou o gerente de fiscalização e vistoria, Geraldo Donizeth.
O arte-educador Abder Paz, 30 anos, faz parte do movimento cultural de ocupação do Mercado Sul e afirma que algumas pessoas entraram em contato com a companhia para tentar regularizar essas situações quando chegaram no local, mas que o órgão disse não ser possível, já que o contrato do imóvel não está no nome dos ocupantes. ;São ligações que dizem respeito a outros proprietários, e estão ligadas há muitos anos;, disse. A Caesb estima que exista, no Distrito Federal, cerca de 32 mil ligações com potenciais consumos não autorizados, desviando 680 mil m; de água por mês. Esse número pode levar a um prejuízo mensal de R$ 2,7 milhões.
De acordo com Donizeth, há três formas de ocorrer uma ligação irregular. Uma delas é roubar água da própria Caesb, ou seja, quando o corte é feito antes do hidrômetro e, portanto, não se paga nada pelo uso, pois o instrumento não registra a passagem hídrica. Outra maneira é colocar o tubo depois da medição e roubar a água de outro imóvel ; dessa forma, o consumo passa pelo equipamento e o vizinho acaba pagando o consumo de água de quem está irregular. E há aqueles casos em que o hidrômetro é retirado e há apenas um ligamento direto entre os ductos. Tudo o que burla ou desvia a mediação é chamado de ligação clandestina.
De acordo com o gerente de fiscalização, a Caesb estima que cerca de 32% daquilo que é produzido é perdido ; por vazamento, por furto de água ou até mesmo por operações do sistema. ;A gente monta essas operações para diminuir a perda, que contribui para a crise hídrica, e elevar esse índice para a casa dos 20%. Toda a água que é consumida sem medição e sem o devido pagamento, a tendência é que seja desperdiçada;, explicou.
Investigação
A Caesb investiga as perdas da seguinte forma: primeiro, faz um mapeamento das áreas onde há ligações irregulares. Com isso, alguém da equipe usa um aparelho de precisão que localiza as irregularidades por meio do som da água dentro das tubulações, no subsolo. Quando identifica um local com uma passagem de água mais forte, a equipe sabe que é ali onde deve cavar. ;Não tem como esconder. Se a gente chegar à região, vamos localizar;, afirmou Donizeth.
Se comprovada a irregularidade, o infrator deve quitar o consumo evadido ; ou seja, a água que foi usada nesse tempo ; e pagar uma multa, que pode chegar a R$ 82 mil. Ele também vai responder penalmente por furto de água, além de assumir repercussões civis e administrativas, assim como pagar o trabalho da companhia para a retirada dessas ligações.