Cidades

Delações da Odebrecht devem balançar corrida ao Buriti em 2018

Para analistas, as citações a vários partidos podem favorecer candidatos de fora do meio político

Alexandre de Paula
postado em 15/04/2017 08:00

Presidente do PSDB-DF, Izalci (E) teme aventureiros no processo eleitoral; líder do PT-DF, Roberto Policarpo (C), alerta para condenações prévias; para o presidente do PSB-DF, Jaime Recena (D), delações definirão eleições

Cinco ex-presidentes da República, oito ministros, 12 governadores, 24 senadores, 39 deputados federais. A lista do ministro Edson Fachin, divulgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), na última segunda-feira, atingiu em cheio a classe política brasileira e colocou quase todos os grandes partidos na mira das investigações. Diante da desconfiança geral, as denúncias devem abalar o cenário das eleições de 2018, que elegem senadores, deputados, governadores e o presidente da República.


Entre os políticos do DF, foram citados nomes como os dos ex-governadores José Roberto Arruda (PR) e Agnelo Queiroz (PT), do ex-vice-governador Tadeu Filippelli, do ex-deputado federal Geraldo Magela (PT), do deputado distrital Robério Negreiros (PSDB) e do ex-senador Gim Argello, preso e condenado por outros crimes.

O Correio ouviu especialistas e presidentes de partidos do DF para analisar de que maneira as informações divulgadas agora influenciarão o pleito do próximo ano. Ainda com a ressalva de que falta tempo considerável para as urnas, é unanimidade que as revelações e as suspeitas serão decisivas para as escolhas dos eleitores.

A universalidade das delações pode provocar um efeito de neutralidade nos eleitores, acredita o cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB) Ricardo Caldas. ;Que as delações terão impacto, eu não tenho dúvida. A questão maior é qual vai ser esse impacto. Pode ocorrer um conceito neutralizador, porque não dá para dizer que um partido ou outro é o mocinho. Então, todos acabam virando suspeitos, e o eleitor fica perdido;, observa o especialista.

Para o cientista político Ricardo Caldas, o cenário será favorável para candidatos de fora do meio político


Esse efeito, explica Caldas, facilita a entrada de candidatos que venham de fora do meio político e que não tenham a imagem associada a nenhum partido. ;Como já ocorreu na última eleição, a próxima vai favorecer as candidaturas de fora do sistema, os chamados outsiders, que enxergam uma oportunidade nessa grande janela;, prevê.

Esse tipo de candidatura é uma das preocupações do deputado federal e presidente do PSDB-DF, Izalci Lucas. Para ele, o eleitor precisará ter cuidado com as escolhas para não votar em gente despreparada. ;As pessoas precisam estar atentas para saber escolher melhor, mas também tomar cuidado em não votar no aventureiro, não cair no discurso de que não é político e eleger, por exemplo, um novo Collor;, alerta.

O próprio PSDB, no entanto, tem no seu quadro um exemplo de outsider que conquistou espaço nas últimas eleições, aponta o professor Ricardo Caldas. ;O atual prefeito de São Paulo, João Doria, é um grande exemplo disso, de alguém que aproveitou essa oportunidade e se elegeu. Ele até possivelmente deve ser a escolha do partido para a Presidência da República, pois, com Aécio, Alckmin e Serra citados nas delações, a candidatura deles fica mais complicada;, comenta.

Generalização

O fato de praticamente todos os partidos fazerem parte das delações ; e a possibilidade de uma visão generalizada sobre todos os políticos ; preocupa Izalci Lucas. Para ele, é importante também fazer a distinção entre investigação e condenação: ;Apesar de muitos estarem citados, esse é apenas um processo de investigação, é preciso esperar que tudo seja apurado;.

Apesar de estar, em teoria, no lado oposto do espectro político, a visão do presidente do PT-DF, Roberto Policarpo, tem semelhanças com a de Izalci. ;Existe uma espécie de condenação prévia. Espero que o eleitor saiba distinguir o que é fato ou não e que tudo seja feito com justiça;, comenta. Mesmo fazendo a ressalva de que falta tempo para o pleito, Policarpo acredita que as delações e as denúncias terão, sim, impacto. ;Obviamente, isso vai pesar, mas o eleitor não vai só analisar o passado. Ele vai ver o que o candidato está propondo e os compromissos que os partidos têm com a sociedade;, acredita.

Reforma política

De acordo com o presidente do PSB-DF, Jaime Recena, essas denúncias devem definir os rumos das próximas eleições. ;Os eleitores estão muito atentos aos nomes, a gente percebe isso pelas redes sociais;, observa. Ele acredita que a influência das delações é nacional e ressalta que, no DF, o cenário não será diferente. ;Em Brasília, o eleitor estará muito mais antenado e interessado em saber as histórias e as trajetórias dos candidatos e em garantir que ele é ficha limpa;, afirma.

O peso das denúncias, acredita Recena, deve pressionar para que ocorram mudanças no sistema político brasileiro. ;A reforma política é absolutamente necessária. Pessoalmente, não concordo, por exemplo, com alguém poder se eleger ad eternum nas eleições proporcionais. As investigações deixam a paciência do eleitor cada vez menor. Isso pode servir de ferramenta para pressionar a necessidade dessa discussão;, opina.

O cientista político Ricardo Caldas ressalta que é preciso ter cuidado com algumas propostas da reforma. A lista fechada seria prejudicial no momento, acredita Caldas. ;Em um outro momento, ela até seria bem-vinda, mas, agora, seria um desastre. Faria permanecer toda a estrutura corrompida e permitiria aos partidos manter as pessoas de sempre, sem a necessidade de elegê-los diretamente;, alerta.

Outro ponto complicado, segundo o professor, é a questão do financiamento privado das campanhas. Para ele, o problema maior é como esse sistema foi instaurado no processo eleitoral nacional. ;No Brasil, chegou ao limite do escárnio. É uma coisa que é comum em qualquer país. E é aceitável dentro de certos valores, mas perderam a noção do que era aceitável;, critica. Ele menciona o modelo norte-americano como exemplo de financiamento que poderia dar certo. ;Lá, você tem um número grande de pequenas doações. Se eu doei US$ 100 para Obama, não vou poder chegar até ele e pressioná-lo, mas, se eu tiver doado US$ 1 milhão, vou achar que tenho esse direito;, explica.

Lista prévia

Por esse modelo, o eleitor vota para eleger os primeiros candidatos de uma lista de políticos definidos pela cúpula dos partidos. Dessa forma, não seria escolhido o candidato que ele acompanha ao longo da campanha, mas os primeiros da fila combinados pela sigla. Essa mudança, caso aprovada, valeria para as eleições de 2018 e de 2022.

;Nada a temer;, diz Filippelli

O ex-vice-governador Tadeu Filippelli (PMDB) divulgou ontem um vídeo no Facebook para rebater as declarações de José Antônio Pacífico, ex-diretor da Odebrecht. Em depoimento, o delator disse que a empresa pagou R$ 15 milhões em propina para acelerar a liberação do Centrad. ;A mídia veiculou a delação de um executivo de uma grande empreiteira envolvendo o meu nome. Não tenho conhecimento de tudo o que foi declarado, mas o próprio delator afirma expressamente que, em nenhum momento, tratou comigo sobre propina. E não tratou mesmo;, garante Filippelli. ;Tenho 30 anos de vida pública e nunca tive uma condenação sequer em tribunais. Não tenho nada a esconder. Não tenho nada a temer. E entendo que a Lava-Jato tem sido um instrumento para mudar a história do nosso país;, concluiu.

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