Cidades

Testemunhas do tiroteio na Asa Norte relatam os momentos de tensão

Moradores contam que as confusões no local são frequentes. Homem morto durante o confronto com outro bando será enterrado nesta sexta-feira (21/4)

Carolina Gama - Especial para o Correio, Luiz Calcagno, Walder Galvão*, Deborah Fortuna
postado em 21/04/2017 06:00
Moradores contam que as confusões no local são frequentes. Homem morto durante o confronto com outro bando será enterrado nesta sexta-feira (21/4)

Bebedeira, drogas, tiroteio, um morto e um ferido. As cenas de faroeste às 6h30 de quinta-feira (20/4) assustaram a 309 Norte. Um frentista que não quis se identificar testemunhou o momento dos disparos. Ele e alguns colegas correram para a loja de conveniência assim que ouviram os disparos. Também chamaram a polícia. Quando saíram dali, o corpo de Luís Eduardo dos Santos Lobo, 34 anos, estava caído na via que passa em frente ao posto.
Segundo o frentista, as vítimas costumavam beber por ali. ;De vez em quando, chegava a ter uma briga entre eles mesmos, mas nunca tinha acontecido nada desse tipo;, disse. O proprietário da loja de conveniência, Clayton Ferreira, confirmou que eles eram fregueses, mas, dessa vez, não teriam entrado no estabelecimento. De acordo com ele, o local, que funciona 24h, está dentro da legislação e não fornece bebidas alcoólicas entre as 22h e as 6h. ;Dentro do trabalho noturno, às vezes, tem muito movimento de pessoas aqui. A gente teve problema com clientes que queriam colocar som de carro e esse tipo de coisa, o que de certa forma incomodava os moradores do bloco.;
A vizinhança reclama de baderna nas imediações. Relata confusão, música alta e gente embriagada durante toda a madrugada, principalmente nos fins de semana. ;Eu já acordei várias vezes com o barulho. Você passa às 7h aqui em frente e sempre tem alguém bebendo;, denunciou uma moradora da 309 Norte. Outra se queixa de som alto nos automóveis e tumultos. ;Eu até presenciei briga de soco aqui;, revelou.

[SAIBAMAIS]O prefeito da 309 Norte e presidente do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg Brasília), Alcino Marçal Almeida, disse que havia procurado o dono da loja de conveniência para conversar sobre as reclamações dos vizinhos. Também havia feito uma notificação por escrito, com abaixo-assinado. ;Agora até que tem diminuído, mas, há uns dois ou três meses, aqui fervia. Eu saía às 8h30 e tinha gente aqui. Então, eles passavam a noite toda e ficavam até de manhã;, disse.

Enterro

O pai de Luís Eduardo, Francisco Alves Lobo, 68, recebeu a notícia da morte do filho no dia do aniversário. Um sargento da Polícia Militar telefonou para avisá-lo. ;Não sabemos ainda como tudo aconteceu. Ele tinha ido até um posto de gasolina com os amigos;, lembrou. Luís morava no Lago Norte com a família e dirigia um táxi. Mas, de acordo com a Secretaria de Mobilidade, ele não tinha autorização para exercer a profissão.

Um irmão e um amigo de Luís Eduardo reconheceram o corpo. De acordo com a Divisão de Comunicação da Polícia Civil, Luís foi preso três vezes, e tinha passagens por posse de drogas, resistência, desacato, injúria, ameaça e lesão corporal pela Lei Maria da Penha. Na carteira dele, a polícia encontrou R$ 2.965. Ele portava uma droga ainda não identificada, semelhante a cocaína, enrolada em uma nota de R$ 100. O corpo foi encaminhado ao Instituto de Medicina Legal (IML) por volta das 10h. O velório está marcado para as 8h de hoje, na Capela 7 do Cemitério Campo da Esperança. O enterro será às 15h30.

O crime

No momento em que muitos moradores dormiam ou seguiam para o trabalho ou para a escola dos filhos, quatro pessoas desceram de um carro e dispararam contra um grupo que bebia em frente à loja de conveniência do posto de combustíveis da quadra. Eles estavam armados com uma espingarda Winchester calibre 38 e duas facas. Luís Eduardo era um dos alvos do bando e estava armado com uma pistola calibre 380. Revidou, tentou se esconder atrás de outro veículo, mas acabou atingido. A polícia acredita que o tiroteio tenha acontecido por causa de um acerto de contas motivado por tráfico de drogas. Segundo a vizinhança, o local sofre com venda de entorpecentes, consumo de bebida alcoólica e confusões.

Luís Eduardo foi atingido na altura da clavícula esquerda e morreu no local. A arma dele desapareceu. Investigadores do caso estão à procura de Rafael Arcanjo Gomes de Abreu, 22, o Índio, além de Eduardo Adrien Cunha Neto, 26. Esse último é namorado de Rafaela Teixeira de Souza, 28, presa ontem. Suspeita-se da participação de uma quarta pessoa, ainda não identificada. O delegado-chefe da 2; Delegacia de Polícia (Asa Norte), Laercio Rossetto, contou que a vítima bebeu com os amigos no local por cerca de uma hora, antes de o grupo armado chegar em um Nissan March branco. Após o crime, o veículo foi abandonado no bairro Céu Azul, em Valparaíso (GO).

[FOTO2]
O bando conseguiu a espingarda horas antes na Cidade Ocidental (GO). Segundo a apuração, Eduardo foi o primeiro a disparar contra a vítima, duas vezes. Em seguida, a arma travou, ele e Rafael a consertaram, e o segundo deu mais cinco tiros. Toda a cena foi gravada por câmeras de segurança. Mesmo assim, segundo Rossetto, os quatro acusados responderão por homicídio qualificado por motivo torpe. ;Não importa qual deles disparou o tiro que matou a vítima. A vontade de matar estava dividida entre todos;, explicou o delegado. Em depoimento, Rafaela contou que Luís Eduardo discutiu com os suspeitos em um bar da 409 Norte na noite anterior. A polícia pedirá a prisão temporária deles.

Rafaela compareceu à 5; DP (Área Central) voluntariamente pouco depois do crime. Na unidade, ela se apresentou como testemunha, mas acabou detida depois que os agentes ligaram para a 2; DP e souberam que ela era procurada desde o tiroteio na 309 Norte. Na bolsa da jovem, os policiais encontraram uma porção de maconha. O celular dela continha várias mensagens, nas quais ela pedia uma arma para acompanhar o namorado e o amigo antes do ataque. Também pedia que o grupo fugisse e não descartasse as armas. Dois pontos ainda não esclarecidos, segundo o delegado, são a fuga dos amigos de Luís Eduardo do local do crime e o sumiço da pistola. ;Não existe necessidade de uma pessoa de bem estar armada. Se eles tivessem dignidade, viriam até a delegacia ajudar na investigação;, afirmou Rossetto.

* Estagiário sob supervisão de Guilherme Goulart

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação