Cidades

Atualmente, 21,7% da população do DF sofre de hipertensão

Há 10 anos, a hipertensão acometia 18,4% dos moradores do Distrito Federal. Atualmente, 21,7% sofrem do mal. Metade da população está com excesso de peso, o que agrava o quadro. Mudar o estilo de vida é o melhor remédio, segundo especialistas

Otávio Augusto
postado em 26/04/2017 06:00
Diabética, Patrícia carrega na bolsa o aparelho que mede a glicose

Duas doenças silenciosas e perigosas tiveram crescimento na capital na última década. A hipertensão arterial, que pode causar infarto e acidente vascular cerebral (AVC), atinge 21,7% da população do DF. O diabetes que, quando não tratado adequadamente, leva a degeneração progressiva dos nervos e a lesões nos rins, acomete 8,6% dos habitantes da cidade. Além das predisposições genéticas, o estilo de vida, segundo especialistas, está puxando os índices para cima.
A comparação dos dados atuais com os de 2006 evidencia a escalada. Há 10 anos, a hipertensão acometia 18,4% da população e o diabetes, 5,1%. Percentualmente, o DF é a sétimas unidade da Federação com mais diabéticos e a 16; com mais hipertensos. A estatística faz parte do sistema de vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde. Um dos alertas que o texto traz é sobre o aumento de peso e para a obesidade. O brasiliense está cada vez mais gordo: 48,8 % da população está com excesso de peso.

Problemas com a balança não fazem parte da história da estudante universitária Patrícia Moura, 24 anos, e da servidora pública Marisa Helena de Lima, 58. Apesar disso, a primeira tem diabetes tipo 1. A outra é hipertensa. Patrícia toma até cinco doses de insulina por dia. Marisa não se atreve a sair de casa sem antes ingerir o controlador de pressão. Ambas admitem que não tinham uma alimentação equilibrada nem praticavam atividades físicas. São vítimas da falta de prevenção. ;Se controlarmos fatores de riscos simples, conseguimos evitar essas doenças. Todo mundo tem medo de morrer com um problema no coração, por exemplo, mas poucos sabem dos fatores de risco e como evitá-los. Faltam orientação e prevenção;, critica o chefe do pronto socorro do Hospital do Coração do Brasil, Paulo Cardoso. Ele diz ser preciso mostrar o impacto das doenças na vida das pessoas. ;Há campanhas contra o câncer ou a gripe, mas não se tem o mesmo com o diabetes, a hipertensão e as doenças cardiovasculares.;

Testes corriqueiros

Em 90% dos casos, o diabetes e a hipertensão são assintomáticas. Não há outra maneira de se identificar as doenças senão com testes corriqueiros, como medir a pressão ou o exame de glicose, a popular picada no dedo. Patrícia não fazia isso. Ela descobriu que tinha diabetes tipo 1 aos 13 anos. ;Sempre fui magra, não era de comer doce, mas era bastante sedentária;, conta a moradora de Sobradinho. A jovem teve de adequar a rotina para conviver com a enfermidade. Na bolsa, há frascos de insulina e alimentos. ;Tem situações que são complicadas. Fui ao banco fazer o resgate do FGTS, como estava muito tempo na fila e sem comer nada, eu me senti mal;, observa.

A continuidade do tratamento é uma das formas de manter o bem-estar do paciente, ressalta o médico Paulo Cardoso. ;Em qualquer das situações, ministrar as medicações e manter consultas regulares ajudam a controlar a qualidade de vida;, conclui. Marisa concorda. ;Um dia, cheguei ao trabalho e tive uma dor de cabeça muito forte. Fui ao ambulatório e o médico se assustou. Minha pressão estava 17 por 13. Hoje, faço exames semestrais para monitorar a situação;, pondera a moradora do Park Way.

A maior parte dos doentes depende do Sistema Único de Saúde (SUS). ;O tratamento tem que ser na atenção primária. Nela, avaliamos os graus de risco para oferecer a assistência mais adequada. Por exemplo, um médico de família deve acompanhar um hipertenso. Ele só deve ser encaminhado a um cardiologista quando o caso se agravar;, avalia a coordenadora de cardiologia da Secretaria de Saúde, Edna Oliveira. Só 30% dos brasilienses têm acesso aos cuidados da atenção primária. A intenção do governo é aumentar para 75% até o próximo ano.

PALAVRA DE ESPECIALISTAS

Mudança de hábitos

; Luiz Bortolotto
"As pessoas precisam conhecer os fatores de risco. É preciso procurar o serviço de saúde para identificar e tomar os cuidados necessários para controlar essas doenças. A parcela jovem está sendo acometida ainda na infância e adolescência. Temos que criar a cultura de comer pouco sal, pouco carboidrato e fazer atividade física. Temos que controlar as doenças. Existem iniciativas, como a da OMS (Organização Mundial da Saúde) que estima reduzir em 25% os fatores de riscos até 2025 com campanhas educativas. O essencial é a mudança de comportamento.;

Cardiologista da unidade de hipertensão do Instituto do Coração e integrante da Sociedade Brasileira de Hipertensão

Tratamento continuado

; Melanie Rodacki
;O aumento da hipertensão e da diabetes se deve a dois fatores: ao aumento da obesidade e ao maior acesso ao diagnóstico. O que merece a atenção é que são doenças silenciosas, ou seja, não têm sinais ou sintomas. Para o diabético diminuir as chances de complicações, como agravos nos olhos, rins e neurológicas, é essencial controlar a glicose, usar medicação e fazer atividade física. Temos que fazer campanhas de detecção e de prevenção da doença. Outra falha é a interrupção do tratamento na rede pública. Tratar continuamente o doente diminui os custos para o governo, já que se evita casos graves.;

Consultora da Sociedade Brasileira de Diabetes

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