Marlene Gomes - Especial para o Correio
postado em 27/04/2017 11:42
Resultados do primeiro ano do exame toxicológico para motoristas profissionais, discutidos no Fórum desta quinta-feira, no auditório do Correio Braziliense, apresentou os temas o combate às drogas nas estradas, a relação entre a fadiga dos motoristas profissionais e o uso de drogas e o problema do uso de drogas pelos motoristas profissionais nos postos de combustível.
O Diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Renato Dias, explicou que, apesar do acidente rodoviário ser o princípio e o fundamento da Polícia Rodoviária Federal, a instituição passa dificuldades para continuar a fiscalização nas estradas, devido ao contigenciamento do orçamento.;É um enorme desafio fazer segurança pública no país e ter a segurança como prioridade. E se falamos de segurança pública, falamos também da viária;, disse.
Dias argumentou que a PRF tem um efetivo de 10.056 policiais, responsáveis para a cobertura de 71 mil quilômetros de rodovias, em 2.019 municípios do Brasil. E que todos os dias são feitas apreensões de drogas nas rodovias brasileiras. ;A PRF é a polícia que mais apreende drogas no país. Entre 2005 e 2016, apreendemos 911 toneladas de maconha e, de 2010 a 2016, 47 toneladas de cocaína;, informou.
A PRF já desenvolve o programa Comandos da Saúde, com uma série de exames para os motoristas profissionais. Dados de 2016 indicam que, de 9.598 motoristas atendidos pelo programa, 94,4% se envolveram em qualquer tipo de acidente, quase 35% fizeram uso de medicamentos impróprios e 38% apresentaram sonolência diurna. ;É muito arriscado trafegar pelas rodovias brasileiras. Não basta somente aplicar a lei. É necessário construir a estrutura física para que os caminhoneiros possam ter o descanso obrigatório;, explicou.
Fadiga
Marco Túlio de Mello, diretor do Centro Multidisciplinar de Sonolência e Acidentes (CEMSA), falou sobre a relação entre a fadiga dos motoristas profissionais e o uso de drogas. Segundo Mello, após a implantação da obrigatoriedade do exame toxicológico, houve uma queda na renovação da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) entre motoristas com CNH C e D. ;Tivemos uma fuga de quase 600 mil motoristas que optaram por não renovar sua CNH, o que demonstra a fiscalização efetiva e o uso de entorpecentes durante as horas de trabalho;, explicou.
O diretor explicou que a fadiga é um dos grandes problemas dos motoristas profissionais, nas estrada, e que ela se manifesta, geralmente, logo após o almoço e na madrugada. ;A fadiga acarreta o sono, cansaço e morte. Nove horas sem dormir acarreta risco de acidentes, 12 horas, o risco é duplo e mais de 14 horas sem dormir, o risco de acidentes é triplo. Com mais de 15 horas acordado, o motorista fica sonolento e age como se estivesse bêbado;, argumentou.
;Nosso maior problema é o número de mortes que temos nas estradas. O que nos deixa muito preocupados, porque começamos a banalizar a morte no trânsito. Isso vai dar a sensação que as coisas acontecem e não fazemos nada;, afirmou.
Narcotráfico
Giancarlo Pasa, diretor da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (Fecombustíveis), explicou que, antigamente, o problema do uso de drogas pelos motoristas profissionais, nos postos de gasolina, se limitava ao uso de arrebite, uma substância do grupo das anfetaminas, que diminui o sono e aumenta a concentração. Ao usar a substância, motoristas conseguiriam dirigir, sem parar, por mais de 24 horas. ;Isso foi em 1970. Agora o narcotráfico já está entranhado na vida desses profissionais e no roubo de cargas. Já tivemos casos de caminhoneiro que foi pagar a gasolina no posto, teve um ataque cardíaco e depois descobrimos cocaína no caminhão dele;, disse.
O diretor da Fecombustíveis disse também que é preciso proporcionar mais segurança para os caminhoneiros e que sejam realizadas políticas de incentivos para que os postos e as paradas, nas estradas, tenham lugares de descanso para esses profissionais. ;O posto é a segunda casa do caminhoneiro, pois é lá que ele come, toma banho e se alimenta. Mas, nem sempre conseguimos dar o nivel de segurança que eles precisam;, explicou.