Em uma cafeteria na pequena e ensolarada Lawndale, no condado de Los Angeles (EUA), Taissa Zveiter, 27 anos, lembra com um sorriso da infância e da adolescência em Brasília e das férias que passa todos os anos na cidade. A ex-estudante de nutrição adora a batalha diária como atriz nas terras ianques, mas não deixa que os laços com a capital federal sejam cortados. Até de forma não intencional. Há sete anos, ela foi para os Estados Unidos a fim de perseguir o sonho na dramaturgia. Um de seus trabalhos, o curta-metragem Daddy warblocks, é destaque na exposição The Art of The Brick, do artista Nathan Sawaya, em Brasília. No filme, ela faz uma das personagens principais: uma boneca de Lego que se torna real.
Taissa não tinha a mínima ideia de que aquele curta havia chegado a Brasília. Uma tia viu, reconheceu a sobrinha e mandou um WhatsApp para confirmar a informação. Era ela mesma. A avó cuidou de distribuir a notícia para a família inteira, amigos, vizinhos e qualquer um que perguntasse como estava aquela neta que tentava a vida nos Estados Unidos como atriz.
;Eu nem acreditei porque não sabia que o Nathan Sawaya usava o filme na exposição;, conta Taissa, conversando com a reportagem via vídeo e bebericando um café gelado tamanho grande. Para ela, ter feito parte de Daddy warblocks tinha sido uma experiência suficiente intrinsecamente. ;O curta foi a colaboração de muita gente apaixonada pela história criada pelo diretor Chris Nash;, lembra.
Nash encontrou com o próprio escultor Natha Sawaya, que também adorou o projeto e resolveu ajudar. Tanto melhor para que amigos e familiares de Brasília soubessem que o sonho de Taissa estivesse se tornando realidade.
A atriz nasceu nos EUA, porque os pais, Paula e Oscar, trabalhavam lá, mas veio para a capital federal ainda com 2 anos de idade. A menina, louca pela área artística desde muito nova, aprendeu aqui o balé ; que praticou por mais de 11 anos ; e fez as primeiras aulas de teatro, canto coral e circo, sempre sob os olhares atentos dos pais. ;Eles sempre me deram muita força, sempre foram muito abertos sobre minha vontade de seguir por esse caminho;, diz Taissa, assídua frequentadora do Parque da Cidade, do Pier 21, do açaí da Mormai e de todos os shoppings de Brasília. ;Todo ano, nas férias, eu vou para Brasília. Aí, sempre quero conhecer o que há de novo por aí, os lugares bons de comer e tal;, afirma.
Atrás do sonho
Sim, apaixonada por Brasília, mas com a certeza de que a vida dela estava nos palcos. Por isso, resolveu deixar a faculdade de nutrição para tentar a vida como atriz. ;Nós nos conhecemos quando entramos na faculdade e logo nos tornamos amigas. Eu a admiro muito pela coragem de correr atrás dos sonhos dela, pela forma como busca ser excelente em tudo o que faz;, elogia a amiga Jamila Vital, companheira de saídas quando Taissa vem a Brasília para visitar o pai e o resto da família ; a mãe, atualmente, mora e trabalha em Orlando. Aliás, Paula, a mãe, fã incondicional da filha, diz que a relação de Taissa com os parentes é tão forte que todos os dias, antes de dormir, as duas precisam se falar, contar como foi o dia e desejar boa noite uma para a outra.Há sete anos, Taissa seguiu para estudar no Arizona. Lá, fez um curso técnico de dois anos, participou de musicais, peças, fez curso para aprender o que rola nos bastidores e até produção. ;Depois, preferi ir para a Califórnia porque era mais quente;, sorri, explicando a preferência do destino que escolheu há quatro anos. Desde então, está na correria. ;A coisa mais difícil é porque você tem que estar sempre atrás do próximo trabalho, não dá para desistir. Tem que ter a cabeça fria e ser otimista. Só assim se consegue crescer na profissão;, ensina a jovem.
Experiências positivas
A brasiliense afirma que teve mais experiências positivas que negativas. ;Um dia, por exemplo, fui com a cara, a coragem e meu currículo para uma empresa grande, muito grande. Fui muito bem recebida e já fiz um teste;, conta Taissa. A tal empresa é a Netflix e a produção é uma série chamada Atypical, ainda sem data para estrear.Outra experiência positiva: certa vez, fez um comercial e ficou esperando o pagamento. Quando o cheque chegou pelos correios, era o triplo do que ela esperava receber. ;Pensei na hora: ;Já dá para pagar o aluguel do mês. E é isso: a pressão é constante porque você tem que pagar contas todos os meses;, argumenta.
No início deste ano, mais uma surpresa: foi chamada para participar de uma propaganda do Google Maps, que rodou o mundo inteiro. ;Eu fiquei sabendo do teste na escola onde faço algumas aulas de teatro e resolvi arriscar. O teste aconteceu no domingo e, na terça-feira, eu sabia que estava contratada;, diz a ;sortuda;. ;O meu pensamento é que tudo o que você faz ajuda muito na carreira, ajuda a criar uma credibilidade;, termina a fã das atrizes Rachel McAdams e Rose Byrne.
Os tijolos criam vida
A história de Daddy Warlocks é sobre um artista que perdeu a família e nunca mais saiu de casa. Tudo o que faz é dentro da própria residência. Um dia, recebe um pacote com o que seriam peças de Lego mágicas. Ele decide construir uma filha para ele com os pequenos tijolos. A boneca, Penny ; personagem de Taissa Zveiter ;, cria vida e interage com o artista. A partir daí, ele decide reconstruir a família e tem uma lição sobre passado, presente e futuro.
The art of the brick
Exposição de esculturas feitas com Lego por Nathan Sawaya. Visitação até 21 de maio,
de segunda a sábado, das 10h às 22h, e domingos e feriados, das 11h às 23h.
Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia), no subsolo do Shopping Iguatemi.