Cidades

De janeiro a abril, Detran registrou 489 infrações relacionadas a 'pegas'

A média é de 122 casos por mês, ou quatro por dia; em 2016, houve 1.424 registros no órgão: mais de 118 ocorrências mensais e quase quatro por dia

Lucas Fadul - Especial para o Correio, Júlia Campos - Especial para o Correio, Isa Stacciarini
postado em 03/05/2017 06:00
O Jetta conduzia por Eraldo José Cavalcante Pereira e o Cruze de Fabiana Albuquerque Oliveira estão entre os veículos suspeitos de pega na L4 Sul
As manobras perigosas e as corridas ilegais de rua revelam que a postura destemida de alguns condutores faz parte do trânsito brasiliense. Apenas de janeiro a abril deste ano, o Departamento de Trânsito (Detran) emitiu 489 infrações por disputa, competição ou exibição em vias públicas da capital federal. A média é de 122 casos por mês ; ou quatro por dia. Em 2016, houve 1.424 registros no órgão: mais de 118 ocorrências mensais e quase quatro por dia. O número pode aumentar se a Polícia Civil comprovar que o acidente que matou mãe e filho foi resultado de um racha entre três carros na noite de domingo.

Carro amassado e com a porta aberta
Segundo o diretor-geral do Departamento de Trânsito do DF (Detran-DF), Silvain Fonseca, do total de 489 autuações de 2017, 10 se referem a racha. Os outros estão relacionados a alguma prática de alta velocidade, como arrancadas, e a cavalos de pau. Para evitar que essas disputas ocorram, o órgão trabalha com ações preventivas. Fonseca explicou que é feito um monitoramento em carros que têm a maior probabilidade de fazer competições nas vias do DF. ;Nós montamos blitzes em lugares estratégicos, onde é propício ocorrer esse tipo de prática. Quando esses motoristas chegam, a gente já sabe quem é quem. São veículos que já têm as características dessas ações. É possível até traçar um itinerário desses condutores;, contou.

[SAIBAMAIS]O diretor do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), Henrique Luduvice, garantiu que agentes monitoram e desarticulam eventuais disputas de rachas marcadas em redes sociais ;Quando recebemos essas informações com antecedência, comparecemos ao local e acabamos com qualquer tipo de prática. Porém, aquelas iniciativas acertadas no momento são mais difíceis de sofrerem intervenção;, explicou. Luduvice esclareceu que os radares eletrônicos detectam excesso de velocidade, assim como agentes de trânsito e policiais militares. ;Neste Maio Amarelo, intensificaremos ainda mais o processo de conscientização dos preceitos da importância da paz e da cidadania no trânsito da capital;, concluiu Luduvice.

O governador Rodrigo Rollemberg prestou solidariedade às famílias das vítimas dos acidentes que ocorreram no fim de semana. ;Nós determinamos ao Detran que possa intensificar a fiscalização das blitzes, especialmente nos fins de semana, buscando combater cada vez mais o uso dessa conjugação do uso do álcool com direção;, disse. Segundo o GDF, abril ficou marcado por 14 acidentes fatais. ;É muita coisa. São mortes que poderiam ter sido evitadas, que aconteceram em função da irresponsabilidade de alguns. Então, proclamo a sociedade de Brasília para se unir, assumindo as nossas responsabilidades;, afirmou Rollemberg.
A média é de 122 casos por mês, ou quatro por dia; em 2016, houve 1.424 registros no órgão: mais de 118 ocorrências mensais e quase quatro por dia

Responsabilidade

Entre os carros envolvidos no acidente da L4 Sul que matou mãe e filho no domingo está o Cruze prata conduzido por Fabiana Albuquerque Oliveira, 37. Uma amiga que estava com ela no carro contou que só percebeu a batida quando o veículo delas também acabou atingido pelo Jetta guiado por Eraldo José Cavalcante Pereira, 34. O terceiro suspeito é o bombeiro Noé Albuquerque Oliveira, 42, que dirigia uma Range Rover Evoque. Ele e Fabiana são irmãos, e Eraldo é cunhado deles.

A amiga de Fabiana afirmou ao Correio que ninguém seguia em alta velocidade. ;Com certeza, o que aconteceu foi um acidente, após (Eraldo) perder o controle do veículo. Todos estão abalados e tristes. O que não está correto é julgar o que não aconteceu. Não houve racha. Essa não foi a conduta de nenhum de nós.;

Em nota, o Corpo de Bombeiros informou que instaurou um procedimento interno para apurar a responsabilidade do envolvimento de Noé. ;Caso seja confirmada a participação, o militar será responsabilizado de acordo com as leis vigentes, podendo sofrer sanções disciplinares e administrativas.;

Palavra de especialista

;Quem faz racha é homicida latente;

;O racha consiste em uma emulação de competição. Trata-se de apostar corrida em espaço público. Essa competição pode ser combinada entre os concorrentes ou não e tem como principal problema a questão da velocidade. Quem faz racha é um homicida latente. Primeiramente, porque está contra a lei. Em segundo, porque ele pode morrer e matar. Tal tipo de condutor precisa ter a CNH cassada e ser retirado de circulação. O motorista brasileiro é muito pior do que os piores motoristas do mundo. Têm de ser punidos. Ao se cassar a CNH, serve de exemplo. Os órgãos de trânsito precisam ser mais rígidos;

David Duarte, presidente do Instituto de Segurança no Trânsito

Para saber mais

Álcool compromete tempos de reflexo

O psiquiatra Raphael Boechat Barros, professor e especialista da UnB, detalhou os efeitos das bebidas alcoólicas no corpo humano e as limitações que a bebida traz a qualquer motorista. Segundo ele, há dois grandes problemas na ingestão de bebida aliada à condução de veículos. ;Quando a pessoa bebe, ela se sente invulnerável, perde o medo;, disse. ;Ao dirigir nessas condições, ela perde o medo de sofrer o acidente.; Barros argumenta, ainda, que o álcool subtrai alguns dos sentidos do condutor. ;As alterações senso-perceptórias comprometem a localização espacial e os tempos de reflexo. Testes comprovam que o motorista demora mais a frear, quando sob o efeito de álcool;, afirmou.
; Colaborou Deborah Fortuna (Especial para o Correio)

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