As áreas verdes que um dia levaram Renato Russo a compor o sucesso Eduardo e Mônica ; música inspirada na história de um casal de amigos do cantor ;, ainda são cenário para muitos romances. Nos percursos do Parque da Cidade, o maior da América Latina, é possível ver desde pessoas em caminhadas, velocistas, ciclistas a grupos de meditação. Um misto de emoções para o brasiliense. Porém, o local abriga um triste cenário. Da piscina de ondas e do pedalinho, só restaram saudades.
A Praça das Fontes, ex-palco de eventos culturais, tem aspecto de abandono. O jardim projetado por Burle Marx, em 1978, para embelezar a área de recreação,perdeu o encanto. O líder da Legião Urbana, talvez, se entristeceria com as cenas, mas, ao mesmo tempo, se alegraria com a movimentação de pessoas no local. Dominando boa parte da Asa Sul do Plano Piloto de Lucio Costa, o Parque da Cidade tem 420 hectares. O espaço dá para deixar qualquer um cansado. Afinal, são quase 10km de pistas para caminhadas, corridas e pedaladas.
[SAIBAMAIS]Quem passa pelo Estacionamento 7 consegue ver ao longe uma portaria de tijolinhos. O espaço, há muito tempo, era ponto de diversão das família no balanço das águas. Um local de boas lembranças para os que viveram aquela época de 1980, como Lana Cunha, 54 anos. A aposentada conta que levava o filho e os sobrinhos para a Piscina de Ondas. ;Hoje, olho para este lugar com tristeza. Tão agradável e bonito, mas tão largado;.
Descompasso e desperdício são tangíveis no Parque da Cidade. A piscina, desativada em 1997, não recebeu mais as famílias. Inaugurada em 1978, ela chegou a receber 9 mil pessoas nos fins de semana. Uma sirene ditava a ordem de diversão. Ela tocava e, em seguida, iniciavam-se as ondas com duração de até 10 minutos. Hoje, a construção abandonada transborda riscos. A água da chuva se acumula com a sujeira.
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;Vir para cá era sinônimo de alegria para as crianças. Hoje, o abandono compromete outros pontos do parque, como os banheiros, os bebedouros e as praças;, diz Lana. Bem ao lado, não é possível alugar bicicletas e quadriciclos. O espaço está abandonado. Ao caminhar um pouco mais, chega-se à Praça das Fontes, onde cacos de garrafas, maços de cigarro e mato substituíram os espelhos d;água e a vegetação nativa tão característicos do projeto original. O pedalinho, diversão do passado, não existe mais. O lago está morrendo e clama por socorro.
Todos os dias, nas manhãs ou antes de dormir, Aldo Amorim, 45 anos, passeia pelo parque. Ele mora bem ao lado e o espaço verde é o quintal do carioca que chegou a Brasília com 16 anos. Sobre um skate, ele vai até o Estacionamento 13, onde ficam as quadras de areia e equipamentos de ginástica. ;É uma academia céu aberto. Venho aqui para me distrair e ver essa mistura de pessoas. É agradável ter um espaço em meio à urbanidade para respirar um verde. Aqui, sinto-me muito bem;, disse o advogado.
O Sol, o verde e a amplidão do parque são um convite para as caminhadas da comunicóloga Bruna Viana, 29 anos. Nascida em Brasília, ela tem uma forte relação com o local. ;Venho, praticamente, todos os dias, seja para caminhar, seja para desenvolver alguma atividade física, seja até mesmo para ler um livro. Busco colocar o parque no meu caminho do trabalho ou do lazer;, conta. Para ela, a área guarda uma característica específica. ;Alguns lugares de Brasília são vazios, mas o parque é cheio de vida.;
Preocupação
Líder de um grupo no Facebook, intitulado Parque da Cidade Amigos e Frequentadores, Raimundo Alves, 61 anos, lamenta a situação do lago, que está assoreado e cheio de sujeira, e de outros espaços da área verde. ;É algo preocupante. É uma tristeza o espelho d;água ter chegado a esse ponto. Nos demais locais, há um excesso de descuido com o que é básico. A limpeza é ausente em algumas áreas e, nos vestiários, só sai água fria;, reclama. Para tentar mudar a situação, o grupo organiza um abraço ao espelho d;água a partir das 10h do próximo domingo (14).
O volume de água diminuiu cerca de um metro. A administração do parque encomendou estudo para determinar as causas do fenômeno e assinou um termo de cooperação técnica com o Zoológico de Brasília para preservar as espécies que habitam a região. A promessa é de um poço artesiano com capacidade de captação de até 187,5 mil litros de água ao dia. O administrador do parque, Alexandro Ribeiro, informou que está em andamento um programa de gestão para acompanhar os problemas de perto.
;Sempre buscamos fazer os encaminhamentos com o conserto imediato dos equipamentos e, em alguns casos, com a abertura de licitação, por isso, alguns banheiros danificados demoram a ser reabertos;, informou. Sobre os espaços desativados, Ribeiro acredita que o avanço da parceira público-privada (PPP) poderá ser positivo. ;Estamos levantando projetos para trazer uma solução;, acrescenta. O GDF concedeu mais 45 dias às empresas para que concluam os estudos técnicos, econômico-financeiro e jurídido para fechar a PPP.
Em relação à segurança, a administração mantém a vigilância patrimonial, cabe à Polícia Militar assegurar a integridade dos usuários. A corporação informa que o policiamento, sob coordenação do 1; Batalhão de Polícia Militar (Asa Sul), é feito com um veículo exclusivo e outros voluntários (policiais do serviço administrativo que trabalham em seus dias de folga).
POVO FALA
O QUE VOCÊ ACHA DO PARQUE DA CIDADE?
Darbidi Soares,
35 anos, educador físico, morador do Gama, frequentador assíduo do parque para atividades aeróbicas
"Encaro essa distância porque gosto de correr e caminhar ao ar livre. Também é bom para trocar ideias e conversar. Porém, acredito que o governo deveria investir em atividades comunitárias para a população, agregando ainda serviços de saúde.;;
Cláudia Salvador,
46 anos, arquivista, moradora de Taguatinga Norte, considera o parque a sua segunda casa
;;Aqui, temos paz. O único problema é a falta de conservação do lago próximo ao Parque Eduardo e Mônica.Também gostaria que a segurança seja reforçada no anoitecer. Aí, sim, ficaria perfeito;;
Eva dos Santos,
22 anos, secretária, moradora de Águas Claras, tem o parque como local preferido para caminhar e relaxar
;;A sujeira e os banheiros depredados são o grande problema. Tanto as pessoas que frequentam, quanto o governo deveriam ser capazes de cuidar melhor do parque.;;