Cidades

Inquérito reforça suspeita de racha em acidente que matou mãe e filho

Investigação da Polícia Civil reúne informações de que acidente na L4 Sul, há oito dias, ocorreu por causa de um pega disputado por dois de três veículos envolvidos na colisão. Delegado ouve hoje os sobreviventes da tragédia

Paula Pires - Especial para o Correio
postado em 08/05/2017 06:00

O Fiesta da família Cayres ficou destruído após ser atingido na traseira, sair da pista e capotar várias vezes na L4 Sul: suspeitos poderão ser indiciados por crime de racha

O acidente que matou mãe e filho na L4 Sul é resultado de um pega. Uma fonte da Polícia Civil confirmou ontem ao Correio que houve um ;racha improvisado;, no qual dois dos três veículos envolvidos na colisão ocorrida há oito dias ficaram emparelhados em um determinado trecho da pista para apostar corrida (leia Memória). ;É comum acontecer pegas em estradas de Goiás, em que os motoristas marcam horário, geralmente à noite. Mas, no caso do acidente da L4 Sul, os motoristas fizeram o pega não combinado e começaram a costurar pela via. O pior aconteceu, e o Fiesta acabou sendo atingido;, detalhou. Hoje, os sobreviventes da tragédia ; Osvaldo Clemente Cayres, 72, e Elberton Silva Quintão, 37 ; prestarão depoimento.

Segundo a fonte ouvida pela reportagem, o advogado Eraldo José Cavalcante Pereira, 34 anos, condutor do Jetta que atingiu a traseira do Fiesta; e Noé Albuquerque Oliveira, 42, sargento do Corpo de Bombeiros e enfermeiro da Secretaria de Saúde, que dirigia uma Range Rover Evoque, deverão ser indiciados por crime de racha, de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB). A terceira motorista envolvida na investigação, a tenente do Exército Fabiana Albuquerque Oliveira, 37, irmã de Noé e condutora de um Cruze prata, não será denunciada.

Fabrícia de Oliveira Gouveia, viúva de Ricardo Clemente Cayres, uma das vítimas do acidente na L4 Sul, não se surpreendeu com a conclusão policial, principalmente por causa da destruição provocada no Fiesta ; a mãe de Ricardo, Cleuza Maria Cayres, 69, também morreu na colisão. ;Fico imensamente feliz por alguém ter confirmado. É uma luz no meio desse caos;, afirmou. ;Espero que o delegado agora tenha as provas que ele tanto buscava;, disse.

O laudo da perícia técnica será divulgado até o fim do mês, quando será revelada a velocidade máxima atingida pelos carros envolvidos na tragédia. ;Temos 30 dias para concluir o inquérito. Caso necessário, podemos solicitar a dilatação do prazo ao juiz. Quando concluído, será encaminhado ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), que pode pedir novas diligências, denunciar ou solicitar o arquivamento;, disse o delegado Ataliba Neto, responsável pelas investigações e adjunto da 1; Delegacia de Polícia (Asa Sul).

O advogado criminalista Alexandre Queiroz, que defende os motoristas Eraldo José Cavalcante Pereira e Noé Albuquerque Oliveira, argumentou que somente com o resultado da análise técnica será possível confirmar se houve o racha. Para ele, é um caso extremamente difícil de ser esclarecido apenas com provas testemunhais. Por telefone, ele comentou, ainda, que a polícia colheu ;muitas declarações frágeis;. ;Em nome dos meus clientes, não vou me pronunciar até o final das investigações;, concluiu.



Indiferença


De acordo com o Código Brasileiro de Trânsito, os responsáveis por dirigir e fazer pegas em vias públicas que resultem em morte podem pegar de 5 a 10 anos de detenção, além de multa e suspensão da Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Segundo o advogado criminalista Cleber Lopes de Oliveira, no crime de racha que resulta em morte, há dolo na prática da conduta inicial e culpa no resultado. ;Chamamos isso de crime preterdoloso, ou seja, o motorista tem a vontade dirigida para a prática do racha, mas não admite a ocorrência do resultado mais grave. Claro que pode haver um caso em que, diante das circunstâncias, seja possível considerar que o motorista, além de prever o resultado mais grave, agiu com indiferença à sua ocorrência;, observou.

Para o advogado, ;como não houve prisão em flagrante, a regra é que os acusados respondam ao processo em liberdade;. Quanto à CNH, o especialista explicou que ;o juiz também pode suspender o direito de dirigir durante o processo, como uma medida cautelar. Em caso de condenação, poderá determinar a suspensão como pena. Nesse caso, haverá a detração do tempo da suspensão imposta como medida cautelar.;

Motoristas embriagados

Onze motoristas foram presos por embriaguez ao volante neste fim de semana. Em operação conjunta nas madrugadas de sábado e de domingo, o Departamento de Trânsito (Detran), o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) e a Polícia Militar autuaram 191 motoristas dirigindo depois de consumir bebida alcoólica. Somente nos três primeiros meses deste ano, 4.834 condutores foram autuados por dirigirem após ingestão de álcool. É o equivalente a cerca de 53 multas por dia. Os dados do Detran mostram, ainda, um crescimento de 36,5% na comparação com o mesmo período do ano passado, quando 3.068 infrações foram registradas.

Memória

Tragédia pós-festa

Na noite de 30 de abril, às 19h30, três veículos suspeitos de participarem de um racha provocaram um acidente na Avenida L4 Sul, próximo à Ponte das Garças. Os motoristas de um Cruze prata, um Jetta preto e uma Range Rover Evoque são acusados de envolvimento no possível pega. O Jetta se chocou contra a traseira do Fiesta da família Cayres, que retornava de um evento dominical. Com a batida, o Fiesta perdeu o controle, saiu da pista e capotou diversas vezes. Cleuza Maria Cayres, 69, e Ricardo Clemente Cayres, 46, morreram no local (fotos). Os motoristas de dois carros envolvidos foram ouvidos pela polícia no dia seguinte à tragédia. Noé Albuquerque Oliveira negou que estivesse fazendo racha e confirmou que os três voltavam de uma festa comemorada durante todo o dia em uma lancha no Lago Paranoá. No depoimento, ele disse ter ingerido uma lata de cerveja, mas não fez o teste do bafômetro. Eraldo Pereira fugiu sem prestar socorro. E também negou à polícia que estivesse participando de pega. Fabiana Oliveira foi a única a ficar no local do acidente, mas também evitou o teste do bafômetro.

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