Deborah Sogayar*
postado em 10/05/2017 06:00
Em um ambiente de companheirismo, esportistas de diversas modalidades da Universidade de Brasília (UnB) se reúnem em grupos com o intuito de ajudarem uns aos outros nos treinos. Com a escassez de recursos disponibilizados pela instituição, essa é a única saída encontrada pelos estudantes. E tem dado certo. Desse modelo de cooperação mútua, surgem atletas de alto rendimento até em nível nacional e internacional.
[SAIBAMAIS]Diretor de esporte e lazer da UnB, Alexandre Rezende explica que o esporte de representação funciona em esquema de associacionismo, no qual os alunos atletas formam clubes e deles saem os treinadores, os árbitros e os administradores. Eles auxiliam nos treinos, conseguem espaços físicos e materiais, montam as regras dos jogos e buscam apoio para as viagens.
O resultado desse trabalho de parceria não é nada menos que satisfatório. Entre as universidades federais do país, os atletas da UnB são os que apresentam o melhor desempenho em jogos universitários, de acordo com a Confederação Brasileira do Desporto Universitário (CBDU). No ranking geral, que reúne mais de 200 instituições públicas e privadas anualmente, a universidade aparece no pódio em terceiro lugar pela segunda vez consecutiva.
Para as pontuações, são consideradas as classificações do atleta ou da equipe em competições organizadas pela CBDU, tais como os Jogos Universitários Brasileiros (JUBs) e a Liga do Desporto Universitário (LDU). Em 2016, a UnB recebeu 530 pontos, atrás apenas da Unip-SP e da Uninassau-PE, com 786 e 668, respectivamente. Na classificação estadual, o Distrito Federal ficou em segundo lugar, com 946 pontos, na retaguarda de São Paulo, que fez 1.079.
Sucesso
A modalidade lutas na categoria feminina obteve um dos melhores resultados da Liga de 2016, somando 56 pontos para a UnB. Amanda Monteiro tem 19 anos, é estudante de nutrição e luta caratê há sete anos. Acumula no currículo uma medalha de bronze no Campeonato Brasileiro e duas de prata, uma no Campeonato Brasileiro Universitário e uma na LDU, todas do ano passado. Em 2017, ficou novamente em segundo lugar na Liga e se classificou para a fase final do Brasileiro, que ocorre esta semana, entre quinta-feira e sábado.
Também presidente do clube de karatê, Amanda conta que vê diferença entre os atletas da UnB e os de outras universidades. ;A UnB é um berço de atleta, tem muita gente de ponta nas competições.; Os obstáculos para a realização dos treinos são muitos: falta equipe de treino, os pagamentos da bolsa-atleta atrasam, as grades do curso regular são fechadas e alguns cursos não ajudam na conciliação entre os estudos e as competições. Mesmo assim, a estudante vê com bons olhos o apoio da universidade. ;Sempre que tem viagens para as competições, eles nos ajudam com os materiais;, completa.
Nayara Luniere representa o atletismo na UnB desde 2008, quando entrou para o curso de biologia, mas compete profissionalmente desde 2003. Hoje, aos 28 anos, formada e cursando educação física como segunda graduação, ela faz parte do grupo de triatlon da universidade. A estudante é mais um exemplo de sucesso do modelo de cooperativismo do esporte universitário. Em 2015, a jovem ganhou o Campeonato Panamericano de Duatlon e, no ano passado, disparou novamente em primeiro lugar no Campeonato Brasileiro de Corrida de Longa Distância.
Devido à exigência do nível de rendimento, a rotina de treinos é intensa. Nayara treina ao menos quatro vezes por dia, todos os dias, e, por vezes, o espaço disponibilizado pela instituição é insuficiente. ;A UnB é ideal, tem o facilitador, que é o nome da universidade, mas tem coisas que não dá para usar sempre, como piscina e pista de corrida;, lamenta. Por isso, a estudante usa outros espaços para completar a preparação para as competições.
Visto o êxito do modelo, um dos objetivos da nova gestão da Diretoria de Esporte e Lazer, criada no fim do ano passado, é manter e expandir a política do esporte democrático para além do curso de educação física. ;A ideia é fazer do esporte um espaço acadêmico, no qual serão inseridos estudantes de outros cursos para que possam aprender funções de seu campo profissional aplicadas ao esporte;, explica Alexandre. Ele ainda esclarece que, hoje, há apenas voluntários trabalhando com os treinamentos, mas que a nova política pretende implantar um modelo de recursos humanos para os alunos, que seriam guiados por um experiente da área.
* Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte
No topo
A consequência das pontuações é o recebimento do Troféu Eficiência, entregue anualmente às cinco melhores Instituições de Ensino Superior (IES) e às cinco melhores Federações Universitárias Estaduais (FUEs). Para receber o título, são somados os pontos de classificação em todos os eventos aos quais a instituição participou durante o calendário anual.
Equipe
O esporte de representação é aquele em que o atleta representa uma instituição, organização ou grupo nas competições.
Eles venceram
Diretor administrativo e coordenador técnico da CBDU, Mário Ferro, 51 anos, fala sobre a importância de o esporte estar inserido no ambiente universitário. ;O nosso lema é: estrelas hoje, líderes amanhã. A ideia é termos não só atletas profissionais, mas cidadãos que contribuam para o crescimento da sociedade para além do esporte;, comenta. O ex-atleta elenca algumas personalidades famosas que passaram pelo esporte universitário:
; O ginasta medalhista olímpico Arthur Zanetti participou das Universíades de 2009, 2011 e 2013.
; Bernardinho, técnico de voleibol, competiu nos Jogos Universitários Brasileiros (JUBs) durante a graduação.
; Na gestão governamental, Luis Lima, secretário Nacional de Alto Rendimento do Ministério do Esporte, representou o Brasil na Universíade, quando era atleta universitário da modalidade natação.
; No vôlei de praia, Allison Cerutti e Bruno Schmidt, medalhistas olímpicos na Rio 2016, jogaram a JUBs e a Universíade.