Cidades

'Eu também já fui salvo', diz PM que resgatou 20 pessoas em um incêndio

Ao Correio, cabo Theodoro conta que quase se tornou refém de uma rebelião na Fundação Casa, em São Paulo, antiga Febem. E foi salvo por seus companheiros de profissão

Gabriela Vinhal
postado em 11/05/2017 13:49
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O cabo Heitor Theodoro da Silva, 34 anos, que resgatou 20 pessoas em um incêndio em Samambaia Sul, contou, na manhã desta quinta-feira (11/5), que já esteve do outro lado da história: ele também foi salvo por companheiros de profissão. Quando trabalhava na Fundação Casa, antiga Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor (Febem), em São Paulo, esteve em uma rebelião de internos que queriam usá-lo como refém para negociar suas demandas.
Acoado na ala da coordenação, viveu momentos de tensão, sem saber se sobreviveria. "É muito angustiante. Trabalhei por sete anos na Febem e já vi situações de todo o tipo. Já resgatei vigilantes furados, sangrando após ação dos internos e também já fui salvo. Essa situação é a pior que tem. Bom mesmo é poder salvar a vida de alguém", completou, na conversa com as repórteres Adriana Bernardes e Paula Pires, transmitidas pelo Facebook do Correio.

O amor pela profissão surgiu ainda na infância, quando Theodoro era escoteiro. Sempre em estado de alerta e na busca por ajudar o próximo, ele decidiu seguir a carreira de policial militar. Uma das características da carreira que mais agrada o cabo é o fato de a profissão ser dinâmica. "Não temos uma rotina. Andamos sobre uma faca, porque vamos, eventualmente, esbarrar com situações que demandam da gente uma decisão importante. Com ela, precisamos arcar com o ônus e o bônus", explicou.

Reecontro com as vítimas

Mais de 24 horas depois do incidente, o cabo se reencontrou com as famílias que ajudou. Segundo ele, foi um momento de muita emoção e gratidão. "Não tem dinheiro que pague", disse, emocionado. Questionado sobre a grandiosidade do ato, o policial afirmou, novamente, que só fez o que era certo: "A vida é um eterno retorno. Gentileza gera gentileza. Na minha profissão, sempre busquei ajudar o próximo".
Ao assistir novamente ao vídeo do resgate, Theodoro contou que se sente anestesiado. Às vezes, até duvida que é ele mesmo quem aparece nas imagens. O cabo não imaginava a proporção que o salvamento atingiria e sequer imaginava que estava sendo filmado. "Antes da farda, é o homem que está aqui. Atrás disso tudo, vive um ser humano como outro qualquer. Tenho em mim um sentimento de dever cumprido", pondera (veja imagens do salvamento logo abaixo).
Cabo Theodoro, da PM do DF, vestido com sua frade, olha para a câmera

Ação coletiva

Ele ressaltou também que, embora tenha entrado sozinho no prédio, ele teve a ajuda dos companheiros da corporação, que, do lado de fora, ajudavam a conter os ânimos das vítimas e a instruí-las durante o incêndio. "A ação policial não é só minha. Outros policias também fazem esse trabalho. A população precisa ter a Polícia Militar como amiga, porque em todos os lugares existem bons e maus profissionais, mas o bem sempre vai sobressair", finalizou.
O cabo Theodoro avistou o incêndio em um prédio na quadra 316 sul, de Samambaia, enquanto fazia a patrulha na região. Ele percebeu a necessidade de agir quando avistou, na sobreloja do local que estava em chamas, uma criança. O policial então arrombou a porta de ferro, encarou as labaredas de fogo e resgatou ; sozinho ; 20 pessoas que dormiam em suas casas. Após o resgate, o policial teve queimaduras superficiais no corpo e sentiu dificuldade de respirar, por causa da quantidade de fumaça inalada.

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