Os 20 moradores do prédio residencial atingido pelo fogo em Samambaia, na madrugada de quarta-feira (10/5), ainda sentem o cheiro da fumaça impregnando o ambiente. Mas muito mais forte é o sentimento de gratidão. Para as famílias, a ação rápida policial militar Heitor Theodoro da Silva, de 34 anos, que arrombou o portão e retirou as pessoas do prédio, evitando que o incidente tivesse um fim trágico. ;Se demorasse mais três minutos, uma tragédia teria acontecido. Ele nos salvou. Com certeza, alguém teria se machucado;, diz Luís Inácio Leite, 45, uma das pessoas resgatadas.
Luís mora no prédio há um ano e três meses e conta que na noite no incêndio estava dormindo com a esposa e a filha no apartamento de quarto, sala, cozinha e banheiro quando escutou um barulho que pensou ser um assalto. Assustado, ele se levantou e encontrou o cabo Theodoro no corredor batendo de porta em porta avisando que as chamas consumiam o prédio. ;Foi tudo muito rápido e na hora eu não pensei em nada, apenas peguei minha filha e a minha esposa e corri;, recorda.
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[SAIBAMAIS]Na porta ao lado da de Luís, em uma kitinet na parte térrea, mora a família do vigilante Fábio Carmo de Jesus, 39 anos. Ele, a mulher e os quatro filhos foram os primeiros a sair do prédio durante o incêndio, como mostra o vídeo do salvamento, que viralizou na internet. Segundo ele, quando abriu a porta, depois de ouvir o alerta do cabo Theodoro, já encontrou o corredor todo tomado pela fumaça.
;Foi um susto, já era madrugada e estávamos dormindo. Mas o policial foi muito rápido no resgate e nos tranquilizou. Se nós tivéssemos de lidar com essa situação sozinhos, seria muito mais desesperador;, diz. Na hora, ele ainda pensou em pegar alguns documentos, mas, quando viu que a fumaça estava tomando conta de todo o prédio, deixou tudo para trás.
Criança carregada no colo
O último apartamento a ser alertado das chamas foi o do piso superior, onde mora a dona de casa Nataly Jesus Sousa, o marido e a filha de 3 anos, Érica Caroline, que também aparece nas imagens divulgadas pela Polícia Militar, no colo do cabo Theodoro. Para sair do prédio, a família precisava atravessar dois corredores, cruzar um portão, que estava trancado, e descer um lance de escada com 15 degraus. Trajeto de aproximadamente 40m, que ficaria impossível cruzar caso o fogo se alastrasse um pouco mais.
;Ele me ajudou a abrir o segundo portão e descer. Quando a gente desceu, já estava cheio de fumaça. Não pensei em nenhum bem material, nessa hora a gente não pensa em nada;, relembra. Apesar do susto, a pequena Érica se apressa em dizer que ficou tranquila no momento em que o policial a salvou e não esconde a admiração por Theodoro. ;Ele me pegou no colo e colocou um negócio no meu nariz;, conta a garotinha, citando a máscara de oxigênio usada pelo cabo para evitar a inalação de fumaça na hora do salvamento.
Um dia depois do incidente, o cabo se reencontrou com as famílias que ajudou. Segundo ele, foi um momento de muita emoção e gratidão. "Não tem dinheiro que pague", disse. Questionado sobre a grandiosidade do ato, o policial afirmou que só fez o que era certo: "A vida é um eterno retorno. Gentileza gera gentileza. Na minha profissão, sempre busquei ajudar o próximo". (veja imagens do salvamento abaixo)