Luiz Calcagno
postado em 13/05/2017 06:00
Condenados pelo Tribunal do Júri de Taguatinga na noite da última quinta-feira pelo assassinato do líder comunitário Márcio Leonardo da Sousa Brito, morto aos 26 anos com três tiros, o empresário Nenê Constantino de Oliveira, fundador da Gol Linhas Aéreas, e outros três homens vão enfrentar mais um julgamento. Eles são acusados também de executar Tarciso Gomes Ferreira. Os dois crimes ocorreram em 2001 e estão relacionados à disputa de um terreno, segundo o Ministério Público (MPDFT) e a Polícia Civil do Distrito Federal.
Nenê, o ex-vereador de Amaralina (GO) Vanderlei Batista e João Alcides Miranda, ex-funcionário do empresário, foram considerados culpados pela morte de Márcio Leonardo. Genro do fundador da Gol, Victor Foresti acabou absolvido. Mas ele responde com os outros pela morte de Tarciso.
O lote pivô do crime fica na QI 25 de Taguatinga. Nele havia funcionado uma garagem de uma das empresas de ônibus da família Constantino, mas não era ocupado por eles há anos. Por isso, acabou invadido por um grupo de sem-teto, liderado por Márcio Leonardo. Nesse ínterim foi vendido a uma construtora, como o patriarca desejava.
As execuções de Tarciso, em fevereiro de 2001, e do amigo dele e líder da comunidade, Márcio Leonardo, oito meses depois, teriam acontecido, de acordo com as denúncias do MPDFT, justamente para forçar os moradores da invasão a deixarem o terreno.
Prisão domiciliar
No fim da noite de quinta-feira, os jurados deram o veredito: consideraram Constantino culpado pelo homicídio qualificado por motivo torpe e crime cometido mediante dissimulação, pela morte de Márcio, e por ter corrompido duas testemunhas. Ele recebeu a pena de 16 anos e seis meses de reclusão em regime fechado e multa de R$ 84 mil. O promotor de Justiça Bernardo de Urbano Resende vai pedir à Justiça para converter o regime para domiciliar, em função da idade avançada do condenado: 86 anos. Constantino pode recorrer em liberdade.
Dono da arma usada nos dois assassinatos, João Miranda pegou 17 anos e meio de prisão e recorrerá em liberdade.Vanderlei, apontado como imediato de Constantino na trama, já estava em prisão domiciliar pelo mesmo caso e pegou 13 anos, também em regime fechado. O promotor também pedirá para que o ex-vereador permaneça em casa, já que tem mais de 70 anos e câncer de próstata.
Contratado por João Miranda para executar Márcio Leonardo, João Marques pegou 15 anos por participação na execução. Ele ainda é acusado de ter sido contratado para matar Tarciso e está preso na Papuda.
Satisfeitos
Bernardo de Urbano considerou o resultado justo. ;Quando chegamos a um júri, significa que todos perderam. A sociedade, o Estado e as duas famílias, dos réus e das vítimas, que vão sofrer, quaisquer que sejam os resultados;, ponderou.
Advogado de Foresti, Eduardo de Vilhena Toledo também considerou o resultado ;justo;. ;Não quer dizer que os outros deveriam ter sido condenados. Mas demonstramos que não existia prova para vincular Victor ao crime;, comentou.
Já Cléber Lopes, advogado de Vanderlei, considerou que o júri foi comovido pelo discurso de que ;se tratava de um empresário rico que atacava os pobres;. ;Esse é um daqueles processos que se tivesse sido julgado por um juiz de toga, os réus teriam sido absolvidos. Provamos que o suposto executor estava preso na época do crime e o MPDFT não deu a menor importância. Vamos recorrer da decisão e pediremos anulação do júri;, afirmou.
Defensor de João Marques, Anderson Flexa Leite também pretende recorrer. ;Todos os depoimentos do acusado que geraram alguma dúvida, segundo o acusado, sempre foram obtidos em depoimentos sem a presença de advogados e sob ameaças da delegada à frente do caso;, destacou.
Advogado de Constantino, Pierpaolo Cruz Bottini respondeu, por meio de assessoria de comunicação, que ;a defesa vai avaliar os próximos passos e anunciá-los em um momento oportuno;. A reportagem não conseguiu contato com o advogado de João Alcides, Luciano Pereira Greggio.